Capítulo 8

8 2 0
                                    


Uma semana se passou desde aquele beijo ardente com Moros. Desde então, tudo parecia ter mudado. Moros, que costumava ser onipresente, estava evitando-me deliberadamente. Ele sempre tinha uma desculpa pronta na ponta da língua, seja para não se encontrar comigo nos corredores ou para não compartilhar o café da manhã. Era como se ele estivesse se esquivando de mim, e isso estava me deixando confusa e frustrada.

Eu não conseguia tirar aquele beijo da minha cabeça. Cada vez que fechava os olhos, revivia aqueles momentos intensos. Moros tinha acendido uma chama dentro de mim que eu nunca soube que existia. E agora, com ele me evitando, parecia que ele estava brincando comigo.

Naquela manhã, desci para o café da manhã com a esperança de encontrá-lo lá, mas, como tem sido o caso nos últimos dias, ele não estava presente. Lilia, que já havia percebido a tensão no ar, olhou-me com preocupação enquanto servia meu café.

Minha frustração atingiu um ponto de ebulição. Não consegui mais conter meus pensamentos e desabafei com Lilia, que estava ao meu lado.

- Por que ele tem me evitado tanto, Lilia? - falei com um tom de frustração evidente em minha voz. -Ele é tão... tão... Argh!- Bufei de descontentamento, sentindo-me impotente diante da situação.

Lilia, com sua expressão de preocupação costumeira, respondeu com suavidade. -Não sei ao certo, minha rainha. Mas estou aqui para ajudar no que puder. Talvez seja hora de vocês conversarem sobre isso.

-Me recuso a falar com aquele homem!- disse com firmeza, enquanto minhas emoções fervilhavam. -Ele acha que sou o que? Um tipo de brinquedo?

Eu me sentia extremamente confusa e desconfortável com a forma como Moros ia e vinha de minha vida com uma facilidade desconcertante. Às vezes, ele parecia estar totalmente investido em nosso relacionamento, e em outros momentos, simplesmente se afastava, como se eu fosse uma peça de seu jogo. Aquela incerteza estava começando a me perturbar profundamente.

Aquela montanha-russa emocional que ele me fazia percorrer era de tirar o fôlego, mas de uma maneira totalmente diferente do que imaginei quando o conheci. Agora, não podia deixar de pensar que ele era um descarado pervertido, alguém que só estava interessado em se aproveitar de mim.

Às vezes, ele era charmoso e apaixonado, e então, sem aviso, se tornava distante e evitava qualquer contato íntimo. Era difícil confiar nele quando ele agia tão imprevisivelmente.

[...]

A vida no castelo estava se tornando monótona e tediosa. Após aquele dia na biblioteca, desisti de ler o livro de magia. Ele havia desaparecido misteriosamente, como se nunca tivesse existido. Aquilo me deixou intrigada, mas ao mesmo tempo, também me fez desistir de tentar entender.

Andar pelos jardins se tornou uma atividade cotidiana, quase como um ritual. Pelo menos uma vez ao dia, Lilia me levava para passear pelos jardins bem cuidados do castelo. As flores, antes tão vibrantes e encantadoras, agora pareciam desprovidas de cor e vida. O canto dos pássaros, que costumava alegrar meu coração, se tornou apenas um som de fundo sem significado.

O sol brilhava, embora estivesse escondido entre algumas nuvens que se moviam lentamente pelo céu. O vento soprava suavemente, e uma corrente de ar refrescante esvoaçava meu vestido enquanto eu caminhava pelos caminhos de pedra.

Meu vestido naquele dia era um verdadeiro contraste com o cenário do jardim. Ele ia até a metade da canela, com uma saia bem rodada que se movia graciosamente com o vento. Camadas de tecido se estendiam por baixo do vestido, criando volume e elegância.

O decote do vestido era generoso, revelando todo o meu colo. Suas alças eram finas e decoradas com pequenos laços delicados. A cor do vestido era um suave azul pastel, que parecia se misturar com o céu e as flores ao meu redor.

Nos pés, eu usava uma sapatinha preta, confortável para caminhar pelos caminhos de pedra dos jardins. E para completar o visual, um chapeu com um laço na mesma tonalidade de azul pastel do vestido enfeitava minha cabeça. Era um traje simples, mas agradável para um passeio nos jardins.

O dia estava quente, e a brisa suave que soprava tornava o momento ainda mais agradável. Decidi me aproximar do lago, a água parecia convidativa, e eu sentia a necessidade de me refrescar um pouco.

Com cuidado, retirei os meus sapatos e os coloquei sobre uma pedra na beira do lago. Em seguida, levantei a barra do meu vestido, revelando meus tornozelos e pés. Com um suspiro de alívio, mergulhei meus pés na água fresca.

A sensação foi maravilhosa. A água estava fria, mas não gelada, e meus pés afundaram na lama macia do fundo do lago.

Enquanto meus pés estavam imersos na água refrescante, a tentação de brincar com ela foi irresistível. Comecei a mover meus pés para frente e para trás na água, criando pequenas ondulações que se espalhavam pela superfície. Logo, a brincadeira se intensificou, e eu comecei a chutar a água com mais força.

Gotas cristalinas voavam no ar, refletindo a luz do sol que rompia as nuvens. Cada chute era acompanhado por um pequeno sorriso de prazer.

-Lilia! Lilia venha! Coloque os pés na água comigo! Está uma delícia!- Eu chamei, rindo enquanto chutava a água com entusiasmo.

-Oh não, Vossa Majestade! Você vai pegar um resfriado!- Lilia respondeu com preocupação.

-Deixe de bobagem, Lilia, entre, vamos!- Eu insisti, puxando-a gentilmente pelo braço. 

Ela finalmente cedeu com uma risada e, assim que entrou na água, começamos uma brincadeira divertida. Eu chutava um pouco de água em Lilia, e ela fazia o mesmo comigo. Logo, estávamos afundando as mãos na água e jogando água uma na outra, rindo como crianças.

Enquanto brincava na água com Lilia, vi de relance uma sombra na janela do palácio. A janela do escritório de Moros. Rapidamente, virei a cabeça para olhar, mas não havia mais nada lá, apenas o interior silencioso e sereno do palácio. Um arrepio percorreu minha espinha.

-Vossa Majestade, agora devemos entrar, é perigoso a senhora pegar um resfriado. - Lilia quebrou o transe em que eu estava

Eu concordei, embora ainda me sentisse intrigada com a sombra da janela. Mesmo assim, quando olhei novamente, não havia ninguém lá, então deixei para lá e me deixei guiar por Lilia enquanto ela me ajudava a sair da água.

Chegando ao meu quarto, me sentei na cama enquanto Lilia continuava a cuidar de mim.

-Vossa Majestade, irei preparar seu banho.- Enquanto ela secava meu cabelo, que ainda estava um pouco úmido dos respingos de água do lago.

Enquanto Lilia se dirigia ao banheiro para preparar o banho, eu permaneci sentada na cama. Ao levantar minhas pernas, percebi o barro que ainda escorria pelas minhas pernas e pés, resultado das brincadeiras no lago. Com um sorriso no rosto, chacoalhei as pernas, fazendo o barro cair no chão e comecei a rir. Às vezes, era bom deixar de lado as preocupações e se permitir um momento de diversão

-Foi divertido...- Eu disse, com um sorriso sincero no rosto, enquanto observava o barro que agora estava no chão.

Lilia voltou ao quarto, sorrindo, e anunciou que o banho estava pronto. Ela me acompanhou até o banheiro, onde a água estava quente e aconchegante, esperando por mim.

No banho, a água morna envolveu meu corpo, dissipando a sensação de frescor da brisa do lago. Deixei a água escorrer sobre minha pele, relaxando cada músculo. Fechei os olhos por um momento e respirei profundamente, sentindo-me revigorada.

Permiti-me afastar das preocupações por um momento e simplesmente apreciar a sensação do banho suave e restaurador. Era um raro momento de paz em meio às turbulências da vida.  

Enquanto a água acariciava minha pele e os pensamentos se afastavam, percebi que havia me divertido de verdade naquele momento no lago com Lilia. Finalmente tive a sensação que eu poderia ter uma vida normal aqui. Mesmo fazendo quase cerca de um mês estando nesse reino, um mês longe de tudo aquilo que eu conhecia e chamava de vida. Por um momento, pude sentir que o meu coração quis realmente bater. 

Prometida ao Senhor das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora