Capítulo 1

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TESSA EVANS

EU NUNCA DEVERIA ter saído de casa.

É claro que eu não tive escolha. Pensando bem, eu fui forçada a estar aqui, assistindo a uma palestra que deveria ter acabado a mais de quarenta minutos e que por algum motivo (a qual eu ainda não tinha adivinhado) tinha mais de noventa slides bem detalhados sobre o processo de publicação de um livro.

Esse assunto em questão deveria me manter em alerta, talvez eu devesse estar fazendo anotações em um bloquinho amarelo como aquela moça com laço rosa no pescoço estava fazendo avidamente. Eu ainda não tinha ideia de como aquele bloquinho ainda tinha folhas depois de noventa slides. Contendo outro suspiro vejo com horror o palestrante passar mais um slide e contabilizo.

Agora são noventa e um. E eu ainda estava sentada nessa cadeira desconfortável que mais parecia um banquinho pequeno demais para um adulto se sentar. Pela quinta vez olho ao redor esperando que alguma novidade tenha surgido entre um bocejo e outro, mas não, as pessoas continuam escrevendo em seus cadernos e eu continuo ignorando a voz adocicada do palestrante também conhecido por John Félix.

Não me entenda mal, ele era um bom homem, um bom editor. Mas falava demais e se alongava em assuntos que não precisavam de tanta...explanação. Como no dia em que ele passou horas falando sobre o quão importante era o uso correto do planner no dia a dia de um escritor.

Eu queria jogar minha bebida em seu rosto, mas evitei engolindo o restante em um só gole e acenei sorrindo pacientemente enquanto esperava que alguém viesse me socorrer. No final, eu tive que inventar uma dor de cabeça, culpa da bebida sabe como é, e me levantei saindo do restaurante enquanto desviava de outros escritores.

Talvez eu fosse um pouco antissocial.

Pensando seriamente nisso me viro e pisco surpresa quando o homem a minha frente pisca de volta. Espera, ele tinha falado comigo? Droga, eu odiava quando isso acontecia.

— Desculpe, não ouvi o que disse.

— Perguntei se tinha uma caneta para me emprestar — ele repete devagar parecendo estar diante de alguém com algum transtorno cognitivo e não diante de alguém que está absolutamente entediada. Decidindo ignorar levanto a caneta lhe oferecendo e ele me ignora novamente.

Olho na direção de Félix esfregando o dedo indicador em minha têmpora e me pergunto até que horas ele irá continuar com isso. Aquele cara não tinha sede? Fome? Eu bem poderia comer um hambúrguer agora, eu penso olhando para o relógio em meu pulso.

— Bom, por hoje é apenas isso — levanto a cabeça abruptamente ao ouvir suas palavras tão doces e observo ele ficar no meio da plataforma — Sei que foi muito resumido, mas o tempo era curto, então sintetizei os pontos principais — aquilo era um resumo? Minha nossa se... — Agradeço a todos que compareceram e estarei à disposição para responder possíveis dúvidas.

É isso. Eu estava oficialmente livre. Me levanto tomando o cuidado de colocar o celular de volta na bolsa e passo a mão em minha calça pantalona para averiguar se algo não colou nela durante as... duas horas? Bom, parecia que tinha durado dez. Estou praticamente saindo quando lembro da minha caneta.

Eu não tenho muito apreço por objetos que poderiam ser substituídos, mas essa caneta estava comigo desde a faculdade e eu gostava dela. Principalmente quando aprendi que poderia abastecer a tinta em um lugar perto de onde morava. O senhorzinho que trabalhava lá amava quando eu aparecia.

— Oi, eu poderia... — paro quando o homem levanta a mão me pedindo para aguardar e eu pressiono os lábios esperando enquanto ele escreve rapidamente uma linha atrás da outra. Cruzes, o que mais tinha para escrever?

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