Capítulo 2 - E então piora

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Bate papo com um cara

A primeira coisa que pensou foi que o quarto estava escuro. E frio. E a cama muito desconfortável. Não, não era nem cama, Izuku adormeceu na cadeira. De novo. Ele provavelmente tinha tatuagem em algum lugar no rosto e sua mãe ficava preocupada com isso antes de deixá-lo sair de casa para ir à escola.

Mas ao abrir os olhos corretamente, com toda a intenção de se levantar e ir ao banheiro lavar o gosto terrível na boca, Izuku rapidamente percebeu que aquele não era o quarto dele. E que ele não conseguia ficar de pé.

Seus pés estavam amarrado assim comos  suas mãos na cadeira, de madeira lisa e chata, na qual ele estava sentado.

Isso não foi engraçado.

Que tipo de nova tortura seus colegas encontraram agora? Dizer que ele deveria morrer não foi suficiente. Não ! Eles tiveram que amarrá-lo a uma cadeira e deixá-lo em algum quarto sabe-se lá onde. Extremamente hilário.

Mas parecia ser mais do que isso, as memórias começaram a voltar lentamente.

O viveiro de peixes. O ataque do vilão. All Might.

O coração de Izuku se partiu um pouco mais e ele sentiu lágrimas pinicando no canto dos olhos. Ele realmente queria que esse vazio simplesmente fosse embora. Ele estava tão cansado.

Ele queria gritar, deixar tudo sair. Ele pensava em cada insulto, cada chute e soco, no lembrete constante de que sim, ele era menos que eles, que não era tão evoluído, que não podia fazer as coisas que eles faziam, que ele não tinha o sua especialidade própria. Que ele era fraco.

E All Might também pensava assim.

Izuku não era estúpido. O que quer que seus colegas dissessem, o que quer que os professores dissessem, ele sabia que não era. Ele entendia as aulas com facilidade, sabia que poderia ter boas notas, mas Deus me ajude, a criança sem peculiaridades era melhor do que seus colegas em qualquer matéria. Ele se sentia orgulhoso sempre que terminava uma anotação em seu caderno, sempre que desmontava uma nova peculiaridade, dissecando-a em seus pontos fortes e fracos. Ele podia ver o olhar impressionado nos olhos de algumas pessoas que conheceu e que não sabiam que ele não tinha peculiaridades. Izuku não era estúpido.

E ainda. Ele queria ser um herói. Ele queria tanto provar que todos estavam errados, trazer a esperança que lhe faltou desesperadamente durante sua infância para alguns que também precisavam dela, mudar, mesmo que apenas um pouco, esta sociedade que o deixou de joelhos.

E não foi tão estúpido.

Um herói sem peculiaridades.

Teria sido tão revoltante quanto inspirador.

Em seus sonhos, às vezes, Izuku imaginava a resposta do público. Ele não se importava muito com a popularidade dos heróis, com o desejo de brilhar, de ganhar muito. Mas ele gostava de imaginar isso, em algum momento nas profundezas da noite, quando queimaduras e hematomas machucavam seu corpo e ele não conseguia dormir. A multidão, aplaudindo ou vaiando, talvez um pouco dos dois, em plena luz do dia. Izuku estaria encerrando uma luta contra algum vilão, ajudando uma criança a se levantar, trazendo um sorriso ao seu rosto. E ele teria feito isso. Ele se voltaria para o público, para o mar de olhos, cheio de medo, julgamento, perguntas, admiração. Todos os seus rostos, brilhando sob o sol, com sorrisos, carrancas, olhares inspirados e, talvez, talvez, esperança.

Pena que não foi possível.

Não. Porque Izuku estava aqui, amarrado a uma cadeira estúpida em um quarto estúpido, com nada além de seus pensamentos estúpidos.

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