Quem é Helena?

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Helena

-Vim falar um pouco de mim e da minha história, muitos vão julgar, outros vão entender mas cada um encontra a forma que pode pra viver nesse mundo doido.

-Sabe aquelas lembranças que vem como um flash da infância? Tipo um brinquedo favorito, aquela comida especial que sua mãe fazia pra te agradar, uma ação materna como te colocar na cama e contar uma história? Não conheço!

-Minha melhor amiga Sara tem uma frase com sua mãe que diz pra ela: -Como pode Sara? e a minha amiga responde: -Uma mãe amar tanto uma filha? Elas riem juntas, lindo né?

-As minhas frases com a Dona Patrícia são algo do tipo: -Sai de perto seu estorvo, Você não era nem pra ter nascido veio de teimosa, às vezes rolava um sua bastarda.

-Só pra explicar a frase amorosa onde diz que sou teimosa e nasci é porque ela gostava de me contar como tentou me abortar de várias maneiras e não deu certo.

-Mas ela sempre colocou na minha mente o quanto eu tinha sorte por tê-la na minha vida, pois não me batia e não me jogou na rua, por isso eu deveria adorá-la e ser grata por ter um teto e comida quase sempre.

-Cresci ouvindo que a mulher tem que cuidar do seu maior trunfo: o corpo. Diz ela que com essa "arma" uma mulher conquista aquilo que quiser. 🤮

-Lavagem cerebral é uma atividade de lazer muito importante entre mãe e filha, só que comigo não funcionava, quanto mais ouvia mais queria fazer o contrário, aí que ganhei o apelido de Rebelde!

-Aí mesmo que eu comia tudo que podia, usava só camiseta larga, estudava pra caramba, tudo que me livrasse dessas ideias que eu abominava.

-Meu "corretivo" passou a ser comida reduzida servida por ela, armário trancados, alguns dias era jejum pra limpar o organismo,kkkkk.

-Tinha lições valiosas também, como quando ela comprava pizza sentava na minha frente e comia enquanto eu só podia olhar pra depois ir deitar, tudo isso pra aprender que nem tudo que se quer a gente tem, precisamos nos esforçar muito.

-Ahhh não posso esquecer da importância do estudo, traduzindo conseguir bolsa em escola particular mesmo que pra isso ela tivesse que dormir com o diretor mas o foco era eu estar no meio dos ricos, pensando no futuro.

-Imagina a reação quando minha primeira e única amizade foi com uma menina preta e favelada como Patrícia gosta de falar.

-Sara minha irmã que a vida me deu, minha luz, também era bolsista na escola mas Dona Bete sua mãe, uma viúva que vendia marmita pra fora e morava no Morro do Alemão só buscava um futuro de oportunidades pra filha.

-Devem estar se perguntando de que dinheiro a gente vivia, Patrícia se diz autônoma, vende umas roupas e produtos de sex shop mas na verdade ela sempre tem alguém com grana.

-Esse é o sonho de princesa dela, um cara montado na grana, que assuma ela e sustente para todo o sempre.

-No meus 15 anos não teve festa, parabéns, nem bolo, só ouvi um nem me lembra que tô ficando velha. Um encanto de pessoa.

-Mas nos meus 16 anos tudo mudou, ganhei um vestido, até lingerie nova, ela mandou que tomasse banho e colocasse tudo pois a gente ia sair pra comemorar, mas antes me fez um brinde com champagne que eu nunca tinha tomado.

-Depois disso só me lembro de ter acordado num quarto estranho, sozinha e nua. Tinha um bilhete no travesseiro que dizia ter na porta do lado de fora o motorista pra me levar em casa.

-Minha pepeka ardia, minha bunda estava bem dolorida, haviam marcas roxas e chupões pelo meu corpo, não podia acreditar.

-Quando cheguei em casa pela primeira vez fui recebida com um sorriso e um abraço, ela me deu os parabéns por agora ser mulher de verdade e por ter me saído bem.

-Fiquei paralisada ouvindo sem acreditar, mas aí recebi a informação que minha virgindade foi vendida por um valor que nos manteria por um bom tempo, finalmente eu tinha dado um retorno.

-Naquele dia tivemos dois enterros, minha mãe morreu pra mim, ficou só a Patrícia e a Lena boazinha, cheia de sonhos morreu de vez também e ficou só a Helena que ia viver a partir de hoje pra dar o troco e infernizar.

-Criei a coragem que nunca tive de ir contra uma ordem dela e saí dali em direção o Morro do Alemão, precisando do colo da minha Bombom.

-Fui mandando mensagem pra Sara que iria me esperar na barreira, o Uber me deixou até onde ia, depois segui a pé, quando vi Sara ela me abraçou e desabei.

-Tia Bete pirou quando ouviu tudo, queria dar uma surra na Patrícia mas não ia adiantar e ainda sobrar pra mim que morava lá.

-Elas queriam me levar na polícia mas eu não lembrava de nada, ia ser a palavra de uma contra a outra, no final eu me ferrava de novo.

-Bete e Sarinha queriam que eu viesse morar ali mas como se eu era menor, ninguém ia tirar a guarda da mãe e dar a uma mulher sem laços de sangue sem prova de nada.

-Patrícia não ia desistir fácil, ela tinha planos pra mim, mas apartir de agora eu desejava era boa sorte porque eu mesma não facilitaria sua vida nunca mais.

-Quando voltei pra casa ela disse que aquilo foi uma medida extrema por necessidade e que não faria mais.

-Os anos foram rolando eu fazia uns bicos de babá guardava tudo que dava pra sair dali, depois passei na faculdade federal pra cursar Enfermagem e trabalhava meio turno de cuidadora de uma senhora de 85 anos Dona Lia que tinha caído e quebrado o braço, seu filho não morava no Brasil.

-Agora já tenho 20 anos, aí você se pergunta não foi embora por quê? Primeiro a grana que tenho e a que ganho não daria pra tudo, preciso acabar a faculdade.

-Minha relação com Patrícia é péssima, evito ela tudo que dá, mas agora ela arranjou um cara poderoso e rico, mamãe vai casar, pensei qual presente ela merecia?

-Palmas pra quem disse sofrer, meu novo "papai" pode ser muito útil pra isso, seremos os três infelizes para sempre.

Doce Veneno 🔥 / DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora