Capítulo 25

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Após dois dias sendo seguidos por homens do Palácio Presidencial, o casal decidiu que visitar o galpão na parte da noite – mais precisamente de madrugada – seria a opção mais segura.

– Será que eles realmente não desconfiam que sabemos que estão nos seguindo desde a primeira vez? – Zuri pergunta concluindo que nem todo mundo é inteligente como ela e Jay.

– Vai ver nós somos bons atores. – o homem dá de ombros e veste seu casaco.

– Ah, mas isso é certo. Até porquê estamos fingindo ser um casal mesmo sendo inimigos.

Zuri diz dando uma risada monótona. Jay fica levemente incomodado com a palavra 'inimigos', mas não deixa transparecer. Até porquê, na cabeça dele, aquilo não foi incômodo. Foi apenas a fome que estava começando a aparecer.

Era madrugada de sexta para sábado, às 2:15, e eles se preparavam para deixar o apartamento. As janelas embaçadas indicavam o ar frio lá fora – por volta de 5°C. Zuri bocejava a cada 10 minutos. Jay não estava diferente. Ambos não tiveram horas suficientes de sono, pois tinham ido dormir tarde planejando a visita ao galpão.

Zuri pega as chaves do carro em cima da mesa de centro e se direciona para a porta. Ela se assusta quando Jay a puxa pelo casaco e o olha confusa.

– Eu não vou deixar você dirigir à noite.

– Que fofo, Park. Está preocupado comigo? – ela pende a cabeça para o lado.

– Estou preocupado com a minha vida. – ele pega as chaves da mão dela – Ainda a valorizo.

Zuri revira os olhos quando Jay deixa o apartamento. Ela tranca a porta e se apressa para entrar no elevador, ao qual Jay gentilmente segurava as portas para que não fechassem. A cara de emburrado do mesmo dizia que ele não estava nada contente em ter que sair a esta hora.

– Você está com uma cara horrível. – Zuri diz o olhando.

– Você não está diferente. – ele devolve sem olhá-la.

– Que tal um café? – a mulher sugere.

– Foi a melhor ideia que você já teve até agora.
__________

Após a grande dificuldade de achar um estabelecimento aberto que vendia café, o casal segue para o endereço do galpão. Apesar de não ser tão longe da onde moram, Zuri ainda assim tirou um cochilo dentro do carro quentinho.

– Hale. Chegamos. – Jay a cutuca ao terminar de estacionar. Mesmo as ruas estando desertas, ele escolheu um local escondido por precaução. Tinha estudado o mapa ao redor do galpão para que caso acontecesse algo, tivessem uma saída – Como você consegue dormir em uma situação dessas? – questiona indignado.

– Fechando os olhos. – ela sai do carro e se espreguiça – Que frio. Deveria ter pegado um cachecol. – levanta as abas do sobretudo para cobrir seu pescoço.

– Está com o aparelho de raio-X aí? – Jay pergunta vasculhando uma mochila.

– Está dentro de minha bolsa.

Eles caminham até o galpão, ambos atentos à qualquer movimentação diferente à sua volta. Para evitar suspeitas, andavam de braços dados, como um casal normal. Andaram cerca de 10 minutos até chegarem ao local. Não era tão grande como os dois imaginavam. "Talvez para não chamar atenção, já que fica em uma parte movimentada da cidade", pensa Jay. O local é protegido por grades simples e fica quase na beira do Mar Báltico.

– Parece... abandonado. – Jay comenta – Não tem segurança nenhuma.

– Por que um local "abandonado" precisaria de segurança? É tudo parte da estratégia. – Zuri diz – Vem. Vamos procurar alguma entrada.

Eles dão a volta no galpão e encontram um portão entreaberto. Após checarem meticulosamente se não havia a presença de alarmes e sensores, eles empurram o portão e adentram no terreno.

– Deveriam dar uma limpada nesse local. Quantos bichos não devem ter nesses matos. – Jay fala seguindo caminho – Hale, você sabe com- Hale? – ele procura a mulher atrás de si mas a encontra parada no portão – O que você está fazendo? Estamos perdendo tempo. Vem logo.

Zuri balança a cabeça e aponta para um ponto perto de si. Ela olhava vidrada para o local. Jay nunca a tinha visto daquele jeito. Ele volta para checar o que quer que a tivesse petrificado e assim que identifica o problema, ele ri de lado. Então, pegando um galho longo, ele cutuca a cobra que estava enrolada e ela sai 'correndo'.

– Pronto. Vamos.

– Você deveria tê-la matado. – Zuri diz baixinho, ainda em transe.

– Coitada. Não estava fazendo mal à ninguém.

– Você não sabe se ela era venenosa ou não! – rebate, dessa vez o olhando – E quem lhe garante que ela foi mesmo embora? Ela pode ainda estar no meio desse mato! Eu não vou entrar aí.

– É sério isso? – Jay cruza os braços – Você não tem medo de me cortar com uma faca mas tem medo de cobras?

– Cobras são mortíferas e assustadoras!

– E eu não?

– Você não assusta nem um bebê.

– Escuta aqui, Hale. – ele se aproxima dela – Acho bo- – Jay ia começar a despejar palavras duras sobre como era ridículo ela estar apavorada por causa de uma cobrinha mas então lembra que a mesma o ajudou no dia da tempestade. Então ele apenas respira fundo e a olha – E então? O que vamos fazer? Precisamos andar esses 3 metros para chegar até o galpão.

Um minuto de silêncio se faz enquanto ambos pensavam. Por fim, Jay acende a lanterna do celular e pega o galho novamente. Ele também estende o braço para que Zuri o segurasse. Ela o encara brevemente e agarra na manga da jaqueta dele. Eles caminham até estarem de frente à uma porta. Zuri larga o braço de Jay e procura algo em sua bolsa. Um aparelho de escuta. Ela prende um apetrecho na porta e o ativa após colocar o que pareciam ser fones de ouvido.

– Aparentemente não tem ninguém. Mas não está vazio. Não tem eco. Me passe o aparelho de raio-X.

Jay procura o instrumento e entrega nas mãos de Zuri. Ela liga o aparelho e escaneia a porta a fim de verificar o que tem dentro do galpão. A tecnologia do aparelho ajudava muito com sua telinha que permitia enxergar o que havia em lugares difíceis de entrar. Jay assiste enquanto Zuri repetidamente joga o cabelo para o lado quando ele cai em seu rosto. Ele sorri mas logo balança a cabeça, se recompondo.

– Conseguiu identificar alguma coisa? – ele pergunta.

– Mesas, bancadas. Computadores e outros eletrônicos. – ela descreve ainda analisando – E caixas. Com frascos. Muitos frascos. – ela encara Jay e em seguida ajeita sua postura – Só nos restam saber se esses frascos são realmente os gases tóxicos.

– Temos que arranjar um jeito de entrar aí. – Jay confere no celular – Mas não hoje. Já passam das  4:30 da manhã.

Assim que dizem isso, o barulho de carro se aproximando é ouvido. Eles se encaram e Jay rapidamente tira os equipamentos grudados da porta e arrasta Zuri para o lado do galpão onde, para a infelicidade de Zuri, tinham várias moitas. Ela solta um grito ao entrar no meio das moitas e Jay se vira para tapar sua boca. Os olhos de Zuri estavam arregalados de medo. Não por causa que poderiam ser descobertos a qualquer instante, não não. Mas por causa das cobras que poderiam ter aonde estavam. Eles ouvem alguns passos se aproximando e instintivamente prendem a respiração.

– Nós deixamos o portão aberto assim mesmo ontem? – um homem pergunta.

– Sempre deixamos, cabeça de ovo. – outro responde – Vamos. O patrão quer que algumas amostras sejam entregues essa noite no cais do sul. Temos muito trabalho a fazer.

Jay e Zuri se entreolham ao escutarem a informação valiosa, um brilho no olhar de ambos. Minutos depois, Jay espia para ver se os homens já tinham desaparecido. Felizmente, eles fecharam a porta do galpão ao entrarem e parecia exatamente do mesmo jeito de antes: abandonado. Zuri retira as mãos de Jay de sua boca e solta o ar que estava segurando. O mesmo nem percebeu que ainda estava tapando a boca da mulher.

– Parece que teremos um encontro essa noite. – Zuri diz finalmente, um sorriso brincalhão nos lábios. Por alguns segundo, ela até se esqueceu que podia ter alguma cobra ao seu redor.

double mission; {jay - enhypen}Onde histórias criam vida. Descubra agora