Capítulo três

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O cheiro do latte se espalhou pelo ambiente se misturando com os outros cafés e o cheiro costumeiro de morangos com chocolate belga, Ciel segura a bandeja de metal com maestria e delicadeza para a levar até a mesa cinco, depositando os lanches com um sorriso e agradecimentos aos clientes que já estava acostumado a ver diariamente, as orbes bicolores varrem o estabelecimento de volta para o balcão em busca dos outros pedidos a serem entregues, dessa vez o cheiro do croassaint invadiu suas narinas e, por um instante, aquilo o lembrou de seu filho. Este que havia comido tantos croassaints durante um ano que enjoou completamente, deixando de considerar aquele seu prato favorito da Sphere's. Entre uma mesa e outra seus passos se apressavam junto de seu olhar cauteloso e as palavras gentis.

Já fariam quatro anos que ele trabalhava ali, tendo conseguido o emprego graças a Alois que era melhor amigo de Sieglinde, a mesma encontrava-se trabalhando como professora de ciências numa escola próxima, vez ou outra fazendo visitas ao antigo trabalho e aos amigos, graças a ela, Ciel foi contratado bem a tempo para que Tanaka não ficasse sem funcionários. Agradecia mentalmente por aquilo todos os dias, por mais que fosse cansativo lidar com pessoas, mas era de onde tirava seu sustento para conseguir arcar com as despesas de seu pequeno.

—E como está na escola? —Mey questionou enquanto organizava seu caixa, separando notas e entregando trocos para os clientes que chegavam.

—Até o momento nada diferente, até a diretora me deu as mesmas reclamações...

—Você já conversou com ele sobre isso?

Ciel suspira, tirando sua marmita da mochila para então se retirar para o almoço, era estranho como sempre caia no mesmo assunto com seus amigos também, a situação era a mesma desde os quatro anos, nada parecia realmente ajudar ou mudar sequer um detalhe na vivência alheia. A ruiva fecha seu caixa e o passa para o chefe, acompanhando o Phantomhive em seu horário livre.

—Já tentei, ele só diz que não gosta.

[....]

—Professor, o que o senhor gosta de fazer?

—Ah, bom, ler, fazer exercícios, desenhar, depende, e você?

A conversava seguia simples desde a terça, primeiro com perguntas do professor e depois do garotinho, que agora o perguntava coisas triviais e dividia gostos de forma animada, aquela quarta não tinha sido diferente, Sebastian precisou ficar no lugar da professora de matemática, já que a mesma teve um imprevisto e ele tinha formação na área, e agora se encontrava esperando a turma retornar tendo como companhia o garotinho da segunda. Entre diálogos ele acabou sabendo que o melhor amigo dele estava doente, por isso não saia para interagir com os outros, já que não possuía interesse acabava por ficar com o moreno, jogando assuntos aleatórios até que desse a hora.

—Gosto de ficar com meu pai! Tio Sebastian você me ensina a desenhar?

Sebastian sorriu de canto com aquilo, confirmando com a cabeça para ele, se levantou quando ouviu o sino tocar para dar continuidade aos assuntos, Damien prestava atenção em tudo, porém não fazia perguntas, entretanto, os anos ajudaram o mais velho a entender pelo olhar quando algum aluno tinha dificuldade em compreender, principalmente crianças que eram tão transparentes.

Damien seguiu o dia em silêncio após a conversa com o professor, alegrando-se quando bateu meio dia e ele se sentou próximo a porta de saída, esperando ansiosamente por seu pai vir, este que não se demorou nem um pouco, vestido no uniforme da cafeteria, sorrindo para ele, que logo correu para seus braços. Sebastian acabará de passar por ambos, ouvindo Damien falar alto em pura animação, por instantes ele deixou um pequeno sorriso aparecer enquanto caminhava para longe, precisava ir para casa e organizar suas próximas aulas. Não eram todos os dias em que poderia ter uma tarde para si, normalmente estava das oito as seis na escola, andando entre as salas e alunos.

† Sebastian p.o.v †

Quando cheguei já eram duas horas, meu corpo pedindo por uma boa refeição e um descanso, subi as escadas para tomar um banho rápido e desci novamente após me vestir para preparar meu almoço. Entre uma panela e outra meu celular toca, Sieglinde me ligava, não me demorei para atender.

—Oi.

—Vamos jantar hoje, o que acha? Estarei levando Claude comigo.

—Claro, pode ser, me passa a hora e o lugar por favor.

Ela desliga animada, me mandando mensagem logo após com a localização, Sieglinde e eu nos conhecemos graças a faculdade, estudávamos próximos e Claude era amigo dela, além de Hannah que também se aproximou de nós graças a ela, desde então andamos juntos mesmo depois de terminar a faculdade. O resto do dia eu me concentrei em arrumar meu projeto de aulas, precisava ver como minha turma se dava com trabalhos em grupo, até então Angelina me pediu para focar naquele garotinho e o introduzir mas atividades assim que possível, mesmo que eu o ache com atitudes normais para sua idade. Apenas um jovem tímido, posso ver um pouco de mim nele, a menos que eu seja estranho também, não o vejo com problemas.

Já eram setes horas quando saí de casa em direção ao restaurante, assim que entrei pude ouvir Sieglinde rir alto da entrada, era impossível não identificar aquela risada estridente e exagerada em qualquer lugar ou distância.

—Achei que não fosse aparecer!

—Não demorei metade do que esta me acusando. -Falei ao me sentar ao seu lado, pegando o cardápio para fazer meu pedido e me juntar ao diálogo dos três. Não entendi como eles chegam tão cedo sendo que marcamos a mesma hora, aparentemente todos tinham feitos seus pedidos.

—Você está dando aula para crianças, né? Como tem sido? -Claude me questiona curioso, tomando um pouco do vinho ao seu lado. —Nunca te imaginei sendo professor de crianças, você sempre preferiu séries mais avançadas.

—Está mais tranquilo do que imaginei, as crianças são tão calmas que me assusta. E você sabe, o salário é bom, não preciso ficar em vários lugares e posso começar a me dedicar ao meu mestrado, estava apenas esperando o tempo certo.

—Qual a escola, Bash? -Hannah me questiona pela primeira vez, interessada em minha resposta junto dos outros, até então não tinha dito onde estava.

—Na Weston.

—Weston é? Tenho um amigo de longa data que o filho estuda numa escola de nome parecido, ou seria esta mesmo? Depois eu pergunto, vai que você da aula pro filho dele. —Ela parecia perdida em pensamentos, apenas saindo de seu transe quando o garçom veio questionar se ela pediria algo a mais.

Passamos o resto da noite conversando banalidades, já fazia algum tempo desde a última vez que os vi, normalmente nossos empregos não nos deixavam ter uma folga e bom, ainda preciso voltar aos meus estudos o quanto antes, ainda espero um dia conseguir lecionar nas faculdades quando estiver apto e com uma boa base. Quando voltei para casa me peguei pensando no aluno que Sieglinde mencionou, questionando se por alguma razão poderia ser aquele mesmo garotinho tímido ou não, mas não faria sentido já que a conheço a muitos anos, teríamos nos esbarrado antes caso realmente fosse possível, creio eu.

Tranquei a casa após jantar, me certificando de que estava tudo em ordem para então me deitar, perdido em planos e metas que ainda preciso traçar melhor.

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