Meilly~
3 anos atrás
---eu disse um adeus cheio de amor ao meu irmão mais velho.
Hoje, estou prestes a embarcar para a Itália, sem saber quando poderei voltar. A saudade dele já aperta meu coração.
— Eu também te amo — ele diz enquanto olha nos meus olhos, e nesse momento, sinto que ele consegue perceber a verdade nas minhas palavras.
Eu e Mike temos esse costume de nos falar assim, com sinceridade, e ele sempre sabe quando estou mentindo. Ele é como uma versão masculina de mim.
**Anos atuais**
Desde que me mudei para a Itália, tudo mudou. No começo, a saudade era o que mais me incomodava. Mas depois de um ano aqui, perdi o contato com toda minha família. Tentei recuperar isso, mas não consegui.
Meu tio me impediu de falar com eles e eu não entendia o porquê.
Passaram-se dois anos e oito meses desde que cheguei aqui e então o inimaginável aconteceu: meu tio me abusou. Isso destruiu tudo em mim. Durante quatro meses, ele fez isso repetidamente, como se fosse algo que desejasse há muito tempo.
Um dia, consegui pegar o celular dele e enviei uma mensagem para minha mãe dizendo que queria voltar. Fiz isso às escondidas, porque sabia que se ele descobrisse, não me deixaria ir.
Agora estou dentro do avião e sinto um alívio imenso ao saber que estarei longe desse monstro que chamava de tio.
Desde o início do abuso, eu mudei completamente. Em menos de cinco meses, passei de alegre a triste; de calorosa a fria.
Nunca imaginei que algo poderia me transformar tão facilmente. Mas parece que essa experiência muda as mulheres de formas que nunca poderíamos prever. Não desejo isso a nenhuma mulher.
Meu tio não merece ser chamado assim; ele é um monstro.
Ele estava no trabalho quando decidi fazer essa viagem para os Estados Unidos. Ele não sabe que estou indo embora.
— Se Deus quiser, nunca mais vou ver a cara dele — penso enquanto fecho os olhos e tento cochilar.
[...]
Acordei com uma comissária gentil me despertando.
— Desculpe acordá-la, mas estamos quase chegando — ela diz com simpatia.
— Tudo bem — respondo de forma séria.
Preciso mudar essa expressão no meu rosto para algo mais alegre, mas não consigo. Parece que toda a alegria que eu tinha desapareceu.
Espero que Mike não perceba; na verdade, tenho certeza de que ele vai perceber. Ele me conhece muito bem.
Fui puxada dos meus pensamentos assim que o avião pousou.
Levantei-me do assento, peguei minhas coisas e fui para a fila na porta do avião. Havia muita gente descendo e foi preciso esperar um pouco.
Quando chegou a minha vez, uma garotinha pequena pediu ajuda para descer da escada porque sua mãe estava segurando um bebê no colo. Quis ser educada e peguei-a no colo para ajudar.
— Obrigada, moça — disse a garotinha com um sorriso.
Eu apenas sorri de volta enquanto continuava andando pelo aeroporto.
Assim que entrei em um corredor, avistei meus pais segurando uma placa escrita "Seja bem-vinda, Meilly." Um sorriso involuntário surgiu no meu rosto enquanto acelerava os passos na direção deles.
Quando cheguei perto, meu irmão se jogou em cima de mim.
— Meu Deus, Meilly! Eu senti tanta sua falta! — exclamou ele enquanto me abraçava forte.
— Eu também senti sua falta, maninho — respondi com sinceridade.
Meus pais apenas observavam com um olhar crítico; eles nunca gostaram muito do Mike porque ele não quis ser o herdeiro deles.
— Oi minha filha — disse meu pai, Marcos, vindo me abraçar.
Eu retribuí o abraço apenas por educação; por dentro eu estava distante dele.
— Oi filha — disse minha mãe, Madalena, também vindo me abraçar.
Senti a mesma raiva por ela; era difícil ignorar tudo o que aconteceu por causa deles ao me mandarem longe do meu irmão. Mike é a única pessoa pela qual eu faria qualquer coisa para proteger sua vida.
Vi que Aris estava ali; nunca tivemos uma boa relação. Ele me olhava como se estivesse surpreso com as mudanças em mim.
— Oi resto de aborto — ele disse dando-me a mão para cumprimentar.
Ri do jeito dele; até consegui fingir alegria por um momento. Que milagre!
— Vamos embora?- pergunta meu pai
Concordei sem hesitar.
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