Capítulo 1

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Desde cedo Flávio estava acostumado a trabalhar pra ajudar a mãe, seu primeiro emprego foi catador de latinhas, aos 10 anos, e ele falava com muito orgulho disso. Ele queria dar um futuro pra sua mãe que nunca foi bem tratada pelo pai dele. Sempre teve ódio dele por isso prometeu a si mesmo que seria um homem de verdade para a mulher de seu filho.
Quando ele chamou a Rosa para casa dele, deixou claro que ela não precisava trabalhar, só precisava cuidar da casa, não porque ela não deveria trabalhar, quando eles se conheceram ela trabalhava, mas esse foi o acordo entre eles, ela saiu do trabalho e focou só em casa.
Rosa nunca ligou pra isso, ela já veio de uma família que priorizava a mulher no ambiente doméstico, mas sim, ela queria ter sua própria independência, mas Flávio tinha dinheiro, tinha um carro e uma moto, uma bela casa, era afastado de tudo, mas era uma bela casa, por isso ela concordou numa boa com essa ideia, mas pediu para que, se ele sentisse dificuldade financeiramente fosse falar com ela, porém, Flávio era orgulhoso, ele não queria se sentir "fracassado" por não conseguir sustentar uma mulher.
Ele trabalha como vendedor online em uma empresa, vendendo peças de carro e moto, quatro dias na semana, de segunda a quinta, ele era um dos melhores vendedores, não era atoa que tinha um dos maiores salários. Ele era bom de papo, e não gostava de vender menos que os colegas. Ele não gostava de perder nada na verdade. Gostava de tudo do jeito dele, da forma dele, não gostava de surpresas, não quando faziam com ele.
Quando chegava em casa, ele sempre tomava banho e ia comer, depois assistir filme com Rosa, ou jogar algum jogo no videogame que ele tinha, mas uma coisa é fato, ele precisava transar.
Ele gostava bastante de filme, gastava uma porcentagem questionável do seu salário com sites de streaming e comprando filmes online, a Rosa criticava bastante ele por isso, mas ela começou a amar filmes também.

Eles estavam sentados na cabeceira da cama, Flávio com o controle na mão escolhendo um filme para assistir.

- Que tal um do Quentin Tarantino?

- E tem algum que nós não assistimos? - Ela estava olhando para os vários filmes que ele ia passando.

Ele pesquisou "Quentin Tarantino" no Google do celular para ter certeza.

Enquanto pesquisava, Rosa pegou o controle em uma rapidez que Flávio não conseguiu reagir. Ele fez careta, mas deixou ela com o controle.

- Tem esse, "Jackie Brown" - ele mostrou a tela do celular para ela.

Ela se curva e olhou pro celular.

- Nós já assistimos esse. - Ela se encosta novamente da cabeceira e volta a pesquisar filmes na tv.

- Já? - Ele dá uma risada, envergonhado.

- Que tal um clássico? Vamos assistir "Casablanca", ouvi dizer que é ótimo.

- Nunca ouvi falar. Põe aí pra ver se tem.

Ela sente dificuldade no manuseio do controle, ele da umas orientações pra ela que, depois de um tempo, conseguiu pesquisar o filme.

- É em preto em branco, é? Eca.

Ele tentou se afastar do tapa que recebeu dela, mas falhou.

- Por que "eca"? Não faz nem sentido.

- Estou sentindo nojo do seu gosto de filmes, pra que assistir um filme de 58 antes de Cristo?

- Por que são bons!? - Ela franziu a testa.

- Haha. - Ele riu como se ela tivesse feito uma piada.

- Vou colocar o filme.

- Beleza, nega.

Eles ficaram la, agarrados, às vezes falavam alguma coisa, mas dava pra ver que Flávio não ligava para aquilo, ele não gostava muito quando ela escolhia os filmes. Ele agradeceu quando finalmente chegou ao fim.

( Nota do autor: Não se preocupem, não vou colocar spoiler do filme.)

- Que filme bom, acho que é o melhor filme de triângulo amoroso que eu já assisti.

- É mesmo. - Ele soa irônico.

Ela percebe e fica um pouco brava, mas decide mudar de assunto.

- O que você faria se fosse eu? - Ela mantém os olhos fixos nele.

- Como assim? - Ele fica curioso.

- Se eu terminasse com você a aparecesse anos depois com um novo namorado, o que faria?

Ele pensa um pouco, olhando a tela da televisão que ia passar um outro filme automaticamente.

- Acho que nada

- Nada?

- Isso, nada.

- Que sem graça. - Ela sai do colo dele e volta a olhar pra televisão, tentando descobrir que filme era aquele que estava passando.

Ele olha pra ela, e surge um sentimento de conforto e gratidão por ter aquela mulher do lado dele, algo que ele nunca pensou que ia conseguir com alguém que não fosse sua mãe.

- Já tenho namorado.

Quando ela diz isso, ele abre um sorriso que não consegue disfarçar.
Entra um silêncio entre eles, até ela quebrar o silêncio uns segundos depois.

- O que você faria se eu te traísse?

Ele da um pequeno sobressalto. Eles se encaram e logo após ela desvia o olhar com um sorriso malicioso.
Ele nunca tinha imaginado tal situação, talvez fosse pela alta confiança que tinha nela. Eu não acho que você faria isso, mas se você fizesse isso eu ia ficar muito mal, com certeza, mas afinal, por que a pergunta? Ele ia dar essa resposta, mas algo na mente dele fez ele não falar isso. Após alguns segundos, Rosa diz.

- Não precisa dizer, tá? Foi uma pergunta boba. - A voz dela soou fraca, como tivesse se arrependido de perguntar.

- Eu mataria vocês dois.

Ela foi pega desprevenida, o que prova isso foi o atordoamento, e quando se deu conta na resposta de Flávio, virou pra ele com uma cara que juntava surpresa e medo.

- Sério?

- Eu estou brincando. - Ele cai na gargalhada.

- Seu idiota - Ela da tapas nele em sequência. Novamente a habilidade de esquiva dele não funciona.

- Você tinha que ver a sua cara. - Ele põe a mão na barriga, ficando quase sem ar.

Ela da um soco mais forte no ombro dele. Ele para de rir.

- Aí! Essa doeu. - Ele tenta curar a dor roçando a mão no ombro

- Bem feito.

Eles sorriem e Flávio a puxa pra perto dele e derruba ela na cama num movimento só, ficando por cima dela.

- E o que você faria se eu te traísse? - Ele olha nos olhos dela.

- Arrancaria suas bolas.

Eles abrem um sorriso e se beijam.
Nessa noite eles transaram durante todo o filme "Garota Exemplar".

Sem Razões para o PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora