Sem Razões para o Perdão

Capítulo 3

Flávio e Rosa chegaram na festa por volta de 14:40.
A casa de Fernando era grande, parecia uma mansão. Bem moderna, dois andares, com um muro envolta, piscina e ainda tinha muito espaço sobrando, dizem que essa casa é da família de Fernando, que é conhecida por ser bem rica.
Antes de apertarem a campainha já dava pra ouvir a animação do churrasco, e depois de apertarem, quem atendeu foi a mulher de Fernando, Clarisse, que abraçou nós dois e nos convidou a entrar.
Era como sempre, perto da piscina tinha uma área coberta com a churrasqueira, duas mesas gigantes que estavam o pessoal da empresa e algumas mulheres (suas esposas, provavelmente), uma mesa de sinuca e de ping pong, e um carro com um som acoplado nele, tocando alguma música de sofrência que Flávio não conseguiu reconhecer.
Ao se aproximar mais do pessoal, Fernando se levantou de sua mesa e veio nos cumprimentar.

-- Flávio! Rosa! Que bom que vocês vieram.

Comprimentos ele e foram ao encontro do restante do pessoal.
Para surpresa de Flávio, tinha menos gente do que da última vez, o que ele não via como algo ruim. O primeiro que Flávio falou foi com Lucas.

-- De boa, Lucas?? -- Ele abraçou-o.

-- Tranquilo. -- Respondeu Lucas

Quando Lucas olhou para Rosa, pareceu hesitar em falar com ela, mas conseguiu se segurar.

-- Rosa.

-- Lucas, como você está? -- Eles apertaram a mão.

-- Estou bem.

Então falaram com o restante e se sentaram, Lucas, Flávio e Rosa de um lado da grande mesa, e Fernando e Clarisse do outro lado.
Uma coisa que estranhou logo de vista para Flávio é que não tinha nada, na verdade, não tinha nada de comida e cervejas.

-- Pensava que a festa ia começar 14h -- Perguntou Flávio, que deu uma risada.

  Fernando nem Clarisse entenderam muito bem o que ele disse, mas depois dele apontar pra mesa, eles entenderam e também riram.

-- Estamos só esperando o João e a sua mulher chegarem pra começar a assar as carnes e distribuir as cervejas. -- Disse Fernando.

Estavam cogitando começar sem a presença de João, quando ele chegou pedindo desculpa a todos pela demora, então ele entrou e logo Fernando e alguns homens foram pegar a carne.

-- Podem pegar, pessoal. -- Dizia Fernando, depois de colocar três caixas térmicas encima da mesa.

Até as pessoas da outra mesa foram pegar, e logo esvaziaram uma das caixas. Flávio pegou a dele e de Lucas, a Rosa não bebe nada que tenha álcool.
Boa parte da festa se passou assim, eles esvaziando as caixas térmicas e o Fernando indo buscar mais, muita conversa e risadas, karaoke num microfone, vários jogos disputados de sinuca e ping pong, teve até uma disputa entre Flávio e Rosa versus Fernando e Clarisse no ping pong, e como era de se espera, Clarisse e Fernando eram dois imbatíveis, e por sorte do pessoal, a churrasqueira não tava no comando de Flávio, que só ia pegar carne para sua esposa. Já era por volta das 18h e uns dois casais já foram embora, e vendo isso acontecer, se ligou que talvez Rosa quisesse ir embora.

-- Você tá bem? -- disse Flávio, no pé do ouvido de Rosa.

-- Estou sim, por que? -- respondeu ela rapidamente no ouvido dele

-- Você quer que eu compre algo pra você? Deve tá chato ficar vendo nós beber.

-- Está tudo bem.

Flávio não sentiu firmeza nas palavras de Rosa, então, para anima-la, chamou ela pra dançar e todos ali perceberam que não não foi por isso que Rosa se apaixonou por ele. Apesar de algumas risadas da dureza do quadril de Flávio, todos gritaram para dançarem de novo, é até alguns casais foram também, como Fernando e Clarisse.
Flávio não estava 100% sóbrio, mas longe de estar bêbado, por isso, conseguiu notar o olhar de desprezo do amigo, mas fingiu que não viu, diferente de Rosa.

-- Fique observando o Lucas -- falou Rosa para o Flávio.

Nessa hora ele estava de costa para ele, então foi se virando enquanto dançava com ela, mas não olhou pra ele.

-- O que tem?

-- Não percebe como ele olha pra nós? - Flávio começou a se afastar mais de Lucas.

-- Não tô entendo.

Ela ficou calada e dançou só esta música com ele, dizendo que ia no banheiro, estão Flávio voltou para a mesa e sentou ao lado de Lucas. Realmente Lucas nunca gostou de Rosa, sempre achou ela uma usurpadora do trabalho dele, que possivelmente traia ele enquanto ele estava fora e ficava rindo dele com as amigas, ele já chegou a falar algo que remetesse esse pensamento, mas marido de Rosa ficou tão irritado que ele não quis tocar no assunto de novo, fato seja dito, ele não tinha motivos para dizer isso para ele.
Flávio logo percebeu a demora de sua amada, mas seus pensamentos formam interrompidos por Fernando.

-- Olha só o que trouxe -- ele levantou duas garrafas de whisky old par 18 anos.

Nesse momento o que era duas dezenas de pessoas se tornaram uma, e algumas (esposas dos homens, inclusive Clarisse) estavam dentro da casa. Veio um grito de animação coletivo junto com palmas, e começaram a pegar seus copos para beber. Flavio questionou se ia beber, ele se lembrou da última festa o que prometeu para Rosa. É só um pouquinho, e ela nem tá aqui, vai ser rápido. Mas, para sua surpresa, Rosa voltou quase no mesmo instante e quando olhou para o whisky e o copo do marido meio cheio, percebeu o que tava acontecendo. Flávio colocou o copo na mesa e chamou ela pro canto.

-- Eu sei o que você tá pensando, mas não vou exagerar, sério -- ele parecia um pouco nervoso, e sua voz meio arrastava já dizia que estava meio bêbado.

-- Toda festa é a mesma coisa, Flávio. -- ela estava brava.

Ele não gostou muito do jeito que ela falou.

-- Você pode deixar eu me divertir só um pouco?

-- E você só se diverte ficando bêbado até ficar maluco? -- ela aumentou o tom de voz.

Flávio demorou um pouco para responder.

-- Olhe, é só esse copo e vamos embora, não se preocupe.

Rosa teve um dejavu da última vez que ele falou isso, da última vez que ela deixou isso acontecer, da última vez que ela fez vista grossa com essas atitudes dele.
Mas o que ela podia fazer?

-- Está bem -- ela fez um esforço tremendo para dizer isso.

Ele não fica feliz, na verdade, acha que é o mínimo que ela deveria fazer. Apesar disso, ele da um sorriso e chama ela pra voltar pra mesa, ela recusa, dizendo que vai ficar com a Clarisse.
Ele bebeu, bebeu e bebeu, não se importou com a promessa de beber só uma dose, já eram 21h quando ele se deu conta que não estava com a mulher dele, e que estava ficando com dificuldades de andar em linha reta (apesar de conseguir, com muito esforço) então ele foi procurar sua mulher para ir embora.

(Nota do autor: o próximo capítulo sairá mais cedo, durante a semana.)