|Você está sozinha nessa criança|

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Lívia

Meses se passaram desde aquele dia fatídico, onde meu coração foi quebrado, descobri um novo melhor amigo, onde me vi confiar em alguém cegamente mesmo não tendo noção alguma do que estava acontecendo. Foi nesse dia que me vi novamente na posição de ter resiliência novamente, tudo foi jogado para mim, tive de aguentar firme e segurar o rojão prestes a estourar em minhas mãos.

Mas cá estou eu, sozinha novamente, tendo um melhor amigo do outro lado do mundo, o amor da minha vida me ignorando após tudo o que vivemos no Rio de Janeiro, pais mortos após um acidente, tudo conspira para que eu fique só.

Após ter me mudado para minha própria segurança, estava mais distante dos conhecidos do dia a dia. Literalmente recomecei, mas tudo bem, recomeçar nunca foi um problema para mim diante de tanta provação nas quais tive de passar.

Tendo esse tempo, pude fazer coisas nas quais tinha vontade de fazer. Me permiti viver como eu deveria descobrir, redescobrir, começar, recomeçar. Me permiti errar e acertar, aprender, sem me cobrar, tudo no seu devido tempo.

Sei que se for de ser, vai ser sem eu forçar algo. Por isso após ser ignorada na terceira tentativa de contato por ele, decidi abrir mão. Não do que vivemos, ou do que sinto pois isso não muda da noite para o dia. Desisti de tentar, de correr atrás, eu fiz o que pude que era confiar, e confio. Justin é adulto, sabe o que faz, ele entende os motivos dele e não cobraria mais satisfações, sendo que o que tínhamos não tinha nem se quer um compromisso acordado entre nós.

Via notícias dele periodicamente, ele sumiu das redes sociais, quase nunca publica algo. Sei que ele acompanha minha vida através de seu perfil anônimo, o mesmo que criou para poder me seguir, já que no pessoal aberto ao público seria notado caso me seguisse, e isso tornaria um alvoroço, o que não queríamos.

Já Ryan era presente, conversávamos todos os dias. Ele se tornou meu fiel escudeiro, o irmão que nunca tive. Sempre que precisei estava disponível para conversar e entender o que estava se passando na minha vida. E através dele tinha alguns resquícios do Justin, ele o visitava de vez em quando, mas sempre era a mesma coisa, sem muita informação.

Eu não queria viver de migalhas, então o assunto: 'Justin' começou a se tornar quase raro. Preferia não perguntar ou falar muito sobre, já que querendo ou não me machucava ainda.

Não separe nosso destino

Ao se afastar de mim

Essas são as condições que fizemos um para o outro

Me recordo do Rock in Rio, ele não cantou essa música sem uma razão. Ele queria deixar claro o que vivemos nos poucos dias juntos, e hoje guardo com carinho essa lembrança.

Fico tão emocionada que sinto refluxo, me levanto com certa pressa, quase derrubando a cadeira. Corro pelo corredor até o banheiro, vomitando todo meu café da manhã e almoço. Fraca, dou descarga, lavo minhas mãos e me sento sobre a tampa do vaso. Passo minhas mãos sobre o cabelo, pensativa.

Já estava assim a algumas semanas, me sentindo mole, enjoada, estranha. Eu não queria, mas precisava fazer esse teste. Eu já tinha uma suspeita, porém não queria acreditar nessa possibilidade.

Abro a gaveta do gabinete, tirando de lá o teste. Olho para ele nervosa, sentindo um frio na barriga. O abro e faço sem pensar muito. Ele feito, o seguro olhando para todos os lados menos para palito pequeno em minhas mãos. Após muitos minutos criando coragem, respirando fundo diversas vezes incansavelmente.

1, 2, 3.

Sinto minha boca se abrir ao olhar para o resultado.

Dois riscos.

Nítidos, sem falha. Eu me apoio sobre a pia, em choque. Eu estou grávida. Mas há chances de ser um falso positivo, desesperada, volto para o quarto pegando meu celular e pedindo mais cinco testes de diferentes marcas. Eu preciso da certeza. Ao chegar, faço todos. Aguardo novamente, e a resposta era certa, positivo.

Incrédula, sentindo todas as emoções me engolirem. Felicidade, medo, tristeza, preocupação, insegurança, mágoa, tudo embaralhado. Em seguida choro, percebendo que o pai desse bebê não estava aqui comigo, que essa mesma pessoa talvez não se importe mais. Talvez ele tenha seguido com sua vida assim como eu segui, sinto tanto por tudo isso. O que eu faço? Como eu faço? Quando eu faço?

Se eu faço.

Isso seria uma probabilidade, mesmo sabendo que ele merece a verdade, ele tem o direito de saber.

Então parada ali, pensando se devo ou não contar, vejo meu celular vibrar. Era Ryan.

- Estou ligando para saber se quer trocar de setor para o show do Harry de amanhã? Tenho uns contatos, acho que você vai gostar.

- Não precisa, mas obrigada pela oferta. – Digo calma, após meros segundos começo a gargalhar.

- Tá tudo bem? – Ele já havia percebido a mudança de humor, eu estava assim faz uns dias.

- Deve ser os hormônios. – Justifico, parando de rir. – Ryan, preciso te contar uma coisa.

- Pode falar.

- Você não pode contar para ninguém tá bom.

- Tá bom.

- Estou grávida. – Ao dizer ouço ele frear o carro.

- Como é que é?

- Fiz os testes hoje.

- Eu não tô acreditando, eu vou ser tio? – Ele praticamente berra do outro lado da linha.

- Ryan! Fala baixo.

- Tá de brincadeira? O Justin já sabe?

- Não, ainda não contei.

- Você precisa falar para ele, isso com certeza vai despertá-lo seja lá do que seja.

- Como? Se ele não me atende.

- Vamos fazer o seguinte, eu vou dar a meia volta agora e vou para a casa dele. Vou forçá-lo a falar com você.

- Você não precisa fazer isso.

- É minha obrigação fazer isso, ele precisa saber. Vou desligar, preciso correr até lá.

- Ryan...

Ele desliga sem que eu diga algo, agora não tinha mais volta. 

Apenas Nós Dois | J.B |Onde histórias criam vida. Descubra agora