|Solitário|

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Justin

Perdido, essa palavra define bem meu estado emocional. Mas tudo isso tinha um propósito maior, protegê-la. Mas sinto todos os dias a dor de não a ter por perto, se eu soubesse que aquele dia seria o último, que não nos veríamos mais, teria feito mais.

O meu ponto de equilíbrio, meu porto seguro estava longe, distante de todas as formas possíveis. Queria fazer mais, queria poder falar com ela, conversar, desabafar, ela era a pessoa que eu podia ligar quando eu ficava muito mal. De novo me via nessa posição, solitário.

Tem sido difícil, mas de qualquer forma tento me recordar daqueles dias em que tudo era perfeito. Onde ela dormia sobre meu peito, segura. O amor que supro por ela vem me dando forças para continuar, o amor que sinto por ela é o que me lembra do motivo pelo que eu faço isso. Porém enquanto sustento o amor através de recordações, eu supro ódio e raiva daqueles que me cercam, me lembrando o motivo de tudo isso.

Hailey e Scooter.

Hailey por me chantagear por vingança, e Scooter por ter dito onde eu estava naqueles dias de plena felicidade.

Tudo vai passar, tudo vai passar, tudo vai passar.

Repito enquanto fico trancado no quarto, assim evito tudo e todos. É aqui que passo maior parte do meu tempo, debaixo das cobertas, no escuro. Sem vontade alguma de sair, ou fazer algo. Ela me ajudava muito nas crises de ansiedade ou nas recaídas da depressão, mas hoje, sem ela, é difícil.

Sou surpreendido com batidas na porta, sem vontade alguma, ignoro quem quer que seja.

- Justin, sou eu. – Ryan continua a bater na porta. – Abre se não vou ficar aqui batendo nessa porta até ela cair.

Bufo impaciente indo até a porta, destrancando e a abrindo.

- Fala.

- Que isso? Virou morcego menino? Abre essas cortinas. – Ele passa por mim feito furacão, abrindo as cortinas e em seguida as janelas.

- Virou minha mãe agora? – Debocho, encostando a porta novamente, caminho até a cama já querendo deitar.

- Não, mas se ela souber o quão na merda você está, ela viria pessoalmente para te dar uma surra. – Ameaça indo até a cama e se sentando sobre ela.

- Você não vai contar pra ela.

- Já decorei esse seu discurso Justin, agora está na hora de reagir. – Fala, mas ignoro. – Ei, ei! – Ele chama minha atenção enquanto puxa a coberta. – Estou falando com você, não com as paredes!

- Ryan, vai embora tá. Não tô a fim de conversar hoje não. – Tento dispensá-lo, mas agora quem é ignorado sou eu.

- Você precisa falar com a Lívia.

- Já disse... – Interrompido.

- Sem essa! Você realmente precisa falar com ela.

- Aconteceu alguma coisa? – Já me sento na cama num pulo, preocupado.

- Você precisa ligar para saber.

- Ryan, não brinca com isso cara, pelo amor de Deus. – Tento fazer com que ele abra a boca, mas não adianta muita coisa.

- Toma, liga. – Ele estende o celular dele me entregando.

Olho sabendo as consequências, mas e se tivesse acontecido algo? E se ela estiver machucada? Ou estiver em uma de suas crises de ansiedade? Confuso, fico ali, pensando nos prós e contras. Não tinha problema algum em falar com ela, eu apenas evitava por saber que se passasse meros minutos com ela, contaria o que não devia.

- Ryan, você desligou sem ao menos dizer que não precisa ir atrás dele.

- Lív? – Sinto meu coração palpitar ao ouvir sua voz, como sinto falta dela.

- Justin? – Ela pergunta, ouço ela respirar fundo.

- Sim, sou eu. – Aperto os olhos, imaginando estar lá com ela agora. – Ryan me disse que você precisava falar comigo.

- Sim, preciso.

- Aconteceu alguma coisa?

- Justin, é complicado. – Ela suspira, aparenta estar nervosa com algo.

- Não se você não complicar, está tudo bem, agora me conta o que está acontecendo. – Incentivo, estava começando a ficar nervoso junto com ela.

Ouço ela chorar, um choro sôfrego. Ouvir ela assim me mata aos poucos, me sufoca. Queria poder fazer algo, mas não posso.

- É melhor você ver por conta própria, eu não consigo. – Chora mais, então começo a me desesperar.

Ela pede a solicitação para a chamada de vídeo, aceito rapidamente. Ela aponta a câmera em direção a uma pia com vários testes... Demoro segundos para processar o que estava acontecendo, eram testes de gravidez e todos positivados. Todos.

Ela está grávida!

Olho espantado para Ryan, que estava com um sorriso de orelha a orelha.

- Eu vou ser pai?! – Ele acena que sim, enquanto Lív olhava preocupada para a câmera. – EU VOU SER PAI! – Grito pulando nos braços do Ryan que me segura, pulamos e nos sacudimos juntos, comemorando. – Eu vou ser pai! – Não sabia para onde olhar, o que falar, não sabia o que sentir, não sabia como agir. Eu estava transbordando de alegria, felicidade, meu sonho, meu filho.

Então começo a chorar, abraço o Ryan com todas as minhas forças, ainda segurando o celular.

- Lívia, eu te amo tanto! Tanto, como eu queria estar vivendo isso com você pessoalmente. – Desabo em lágrimas.

- Nós podemos Justin, só me dizer o que está acontecendo. – Ela fala com um olhar acolhedor, mesmo depois de tudo.

- Eu não posso. – Dizer isso, partia meu coração em pedaços, me enfraquecia. – Eu não posso. – Então caio de joelhos ali, diante do Ryan. Chorando como nunca chorei antes, sentindo meu peito afundar em desespero. – Eu não posso Ryan, não posso. – Digo mais para mim do que para eles, não podia. Ainda mais agora, tendo a notícia de que ela espera um filho meu.

- Lívia, eu vou conversar com ele tá bom. Já mando notícias. – Ryan diz enquanto tira o celular da minha mão, não tinha forças nem para me despedir.

- Tá bom, cuida dele. – Ouço e ela desliga.

- Justin, Justin, olha para mim cara. – Ele me puxa, me tirando do chão. – Mano, você precisa me dizer, cara o que está acontecendo? Isso está acabando com você, e eu não vou permitir isso. – Ele parecia realmente preocupado, espantado de me ver assim.

- Ryan, eu não posso. – Eu queria berrar, queria espernear.

- Justin, nós estamos aqui, sozinhos. Você sabe que pode confiar em mim, eu nunca faria mal a você ou a Lívia. - Ele me olha assustado. - Me conta, vamos.

- É a Hailey. 

Apenas Nós Dois | J.B |Onde histórias criam vida. Descubra agora