|Ela|

249 20 14
                                    

Após quase um dia e meio longe de casa, consegui pisar no meu apartamento. Eu estava angustiada, traumatizada e exausta. Fiquei horas em observação no hospital, ainda tive que ir à delegacia prestar queixa contra o Théo, pelo menos agora posso contar com uma medida protetiva.

Já deixei avisado ao síndico e ao porteiro sobre hipótese alguma deixar a entrada dele ser permitida, tento me proteger, já que, sei que no Brasil infelizmente uma medida não é o suficiente. Talvez eu tenha que me mudar, assim quem sabe consigo me livrar permanente do meu ex.

Eu queria um banho longo, queria tirar a sensação horrenda do toque dele, sinto nojo só de me recordar. E é o que pretendo fazer, tiro a roupa cansada, caminho até o banheiro e lá tento relaxar. Deixo a água levar tudo o que há de ruim, com ela, as lágrimas de solidão. Queria me sentir segura, ao invés disso, me sinto violada.

Após longos minutos de baixo do chuveiro, me enrolo na toalha e vou para meu quarto. Coloco uma roupa confortável, pego meu celular executivo, que para minha sorte estava com carga.

Explico para meus colegas de trabalho sobre o ocorrido, todos foram muito compreensivos. Estavam preocupados, mas já os acalmei. Trabalho com produção de conteúdo, e não com carga horária. Como já havia delegado as funções que precisavam ser feitas, então não havia com que me preocupar no momento, e mesmo eu querendo fazer algo, os meninos do Podcast insistiram para eu tirar o dia livre.

Não recusei a proposta, aceitei porque precisava dormir. Volto para o quarto sem forças, me jogo na cama, mas aí então me recordo dele. Pego o celular o mais rápido possível, conecto na minha conta pessoal no Instagram. Logo sou bombardeada de mensagens e ligações perdidas.

Acabo por nem ler as mensagens, já que eram muitas. Decido por ligar, assim consigo explicar melhor tudo o que houve. Após diversas tentativas, não consigo falar com ele. E então instantaneamente me preocupo, pensando o que pode ter acontecido.

Mil desculpas, só consegui voltar para casa hoje. Já estou bem e a salva, novamente me perdoa, não queria te preocupar.

Mando sentindo o peso sobre meu peito, o que será que ele sentiu, pensou, como ele lidou com essa situação?

Justin

A decisão tinha sido tomada! Não abriria mão dela. Ao longo desses oito meses conversando, nos conhecendo, nos apoiando, não tinha como eu não me preocupar, de não me importar!

Olho para a vidraça que separa eu e as nuvens brancas. Encosto minha cabeça sobre a mesma, cansado. Sem dormir direito, a horas sem me alimentar, sou pego de surpresa ao ouvir que estávamos em solo brasileiro.

Adiantei minha viagem ao Brasil, de qualquer forma viria para cá esse mês. Só agilizei minha chegada para saber o que há de errado com ela, saber se está tudo bem, se ela precisa de mim.

Sinto uma certa agitação, minha perna começa a balançar conforme nos aproximamos do aeroporto. Liv não responde, não atende o celular, não tenho notícias a horas. Só consigo sentir angústia, pensando que tudo isso possa ter acabado de uma maneira muito ruim. Só de imaginar me dá falta de ar, pensar nela gélida, pálida.

Tudo está uma bagunçada, a sensação de uma suposta perda, de não a ter para conversar mais, por não a ver em nossas vídeos chamadas, por não ter mais a minha melhor amiga.

Apenas Nós Dois | J.B |Onde histórias criam vida. Descubra agora