Capitulo vinte

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A porta da frente bateu na parede, se
guida pelo som de uma série de baques pesados. Os xingamentos criativos de Sana cadenciavam a confusão, interrompendo ainda mais Pat Benatar, que cantava para Momo como o amor era um campo de batalha e que ela era forte.

— Filho da puta idiota de merda — gritou Sana. — Ben pode ir se foder. E o Jerry pode ir junto. Chunky Monkey meu ovo. Jesus Cristo amado, isso doeu. — Uma pausa. — Ah, oi, sra. Harrison. Não, eu estou bem. Não, não, não, não tem nenhum Ben ou Jerry idiota aqui. Não. Me desculpe. Sim, eu vou dar um jeito nisso. Vou lavar a boca com bastante sabão.

Ah, Sana. O proprietário do apartamento ficaria superfeliz em receber uma ligação da sra. Harrison para reclamar delas, de novo.

Sana pôs a cabeça no corredor para espiar pela sala. Momo deu um aceno fraco do sofá onde estava e o rosto da amiga se iluminou.

— Oi. Você penteou os cabelos. Boa, Momo.
Babaca.

Momo rolou para o lado e se acomodou na posição em que estava antes de Sana interromper sua fossa com a barulheira dela. Rosto enfiado no braço do sofá, manta puxada quase até o alto da cabeça, um dos olhos abertos para poder ver televisão, neste momento sem som. Ao lado dela estava seu celular, com a tela para baixo, o Bluetooth conectado às caixas de som na bancada da cozinha.

— A sra. Harrison mandou lembranças.

Sana entrou na sala, torcendo o nariz ao ver a mesinha de centro.

Havia algumas embalagens de comida para viagem. Três. Ok, cinco. E alguns lenços de papel. Muitos lenços de papel. Momo ia limpar tudo assim que juntasse força de vontade para sair do sofá por mais tempo que uma rápida ida ao banheiro.

— Por que essa barulheira toda? — murmurou Momo.

Sana chutou uma montanha de folhas de caderno amassadas em bolinhas.

— Ah, você sabe, quase quebrei o pé na entrada. Falando nisso, eu vou guardar as compras que trouxe e aí podemos conversar sobre… isso.

Ela franziu a testa para a bagunça de forma incisiva e saiu.

Momo cobriu o resto da cabeça com a manta e cantou sem som a letra de “Love is a Battlefield”.

Forte era a última coisa que ela se sentia no momento. Parecia que alguém tinha feito um buraco em seu peito, arrancando o coração e o esmigalhado até que ele se tornasse confete, em seguida guardando-o de volta no corpo e fechando o buraco com fita isolante.

— Eu trouxe sopa — gritou Sana da cozinha. — Sua favorita. Pho Rau Cai do Isso é Pho.

Momo pôs o nariz para fora da manta.

— Não estou doente, Sana.

— Ainda não está doente. — Uma porta do armário bateu e a da geladeira foi aberta. — Você foi do hotel até o Starbucks na neve, Momo.

Grande coisa.

— Não foram nem dois quilômetros.

— De vestido de alcinha, num frio de dois graus negativos. E neve. — Sana bufou alto.

Ela estava parecendo…

Elle fechou os olhos ao sentir mais uma onda de lágrimas ardentes inundarem seus canais lacrimais. Merda.

— Isto é, se você queria uma saída dramática, acertou em cheio — continuou a tagarela.

Momo não tivera a intenção de fazer uma saída dramática. Não queria ter ido embora daquele jeito, sem dinheiro, sem chave, sem celular. Não queria ter andado do hotel até o Starbucks vinte e quatro horas a diversos quarteirões de distância, mas a necessidade de se afastar ao máximo de Mina e de sua incapacidade dolorosa de falar tinham feito Moml atravessar a cidade no piloto automático, sem se importar com a neve ou com os sapatos de salto e tiras finas.

Presságios Do Amor - MimoOnde histórias criam vida. Descubra agora