Caverna do Dragão : Vingador

prólogo

Estava um céu limpo. Os três sóis dividiam o firmamento. Poucas nuvens podiam ser vistas. E quando apareciam eram finas, esgarçadas pelo vento.
No meio do plano superior havia um ponto escuro. Um buraco negro. Era um lugar por onde a tríade de estrelas não cruzava. Era um ponto cego no
imenso azul acima das terras e águas. A estrela vermelha já baixava no horizonte, contrapondo a amarela e azul que se mantinham firmes e a pino. Por pelo menos mais oito horas ainda seria dia.

O silêncio ecoava pelos vastos corredores e salões do tribunal do conselho vermelho.

Em Helix, era decidido todo o futuro do reino, nada se movia. Ninguém caminhava pelos largos caminhos de suas perfeitas planícies. Nenhum pássaro voava entre as nuvens que cruzavam o horizonte azul do céu sem o conhecimento do Grande conselho de Magos.

O salão, normalmente ocupado pelos membros do conselho — Aldeões, generais e até mesmo reis tinham de esperar do lado de fora, para serem chamados e ouvidos quando solicitavam uma audiência, não existia nobre ou plebeu, fazendeiro ou soldado, todos eram iguais fosse para serem ouvidos, recompensados ou punidos pelo que fizeram -, não abrigava ninguém. Tudo porque eles assim o desejavam. Tudo porque assim era preciso.

Na câmara principal, os lugares encontravam-se vazios e a três metros abaixo ficava o tribunal, uma enorme mesa colocada no meio da sala. Na mesa, um vasto mapa representava o reino, seus habitantes seguindo suas vidas como diminutas formigas, sem saber que eram observados. Dois lugares ainda permaneciam ocupados. Não havia evidências de que mais alguém havia estado presente naquele local, mas todos já tinham votado, todos tinham entrado em concordância com o que havia sido decidido. E do que aconteceria em breve.

Um homem estava sentado pensativo, a pele clara lhe dava um ar divino, os cabelos longos caiam como cascatas douradas pelas costas, duas entradas em sua testa mostravam que já passara dos 40 invernos, Godfrey Lockwood observava fixamente seu colega. Podia ver coisas que os mortais nem sabem existir, mas mesmo assim não percebia qualquer sinal de medo ou hesitação. Muito pelo contrário.

Os olhos Vermelhos brilhavam e pareciam sorrir. As mãos, repletas de anéis dos mais variados metais, brincava com uma de suas jóias. O longo cabelo trançado mesclava uma mecha branca. Jóias cobriam o peito, mas uma delas chamava muito mais atenção que todas as outras, seu valor e poder era incomparável. Vestia mantos vermelhos, comum aos membros do Grande conselho, A longa capa negra que adornava as largas costas mostravam o emblema da ordem dos guardiões do conhecimento.

O homem passava dos 30 invernos mas sua aparência era de orgulho, empáfia, nunca arrependimento ou remorso.

Outros no lugar dele se passado pela mesma cerimônia estariam com pesar e dor. Ele no entanto, por outro lado, parecia chegar de uma festa onde havia sido o convidado principal. Parecia tudo, menos o que realmente era. Um condenado.

Godfrey apoiou as mãos sobre a mesa e levantou-se, por fim. Não por impaciência, mas porque aquilo tinha de ser feito.

— Sabe o que tenho que fazer, não?

O outro não deu atenção. Estava aparentemente entretido demais, divertindo-se com o objeto que tinha nas mãos. Somente instantes depois, dirigiu um olhar distante ao mago a sua frente, Parecia perdido em pensamentos muito mais importantes.

— Por que os outros foram embora, Lockwood ? Por que não ficaram para ver o fim do espetáculo? — sua voz era grossa, e saiu arrastada a cada palavra como se estivesse cansado ou entediado.

— Nenhum deles precisava ficar.

— Sim... sei bem disso —respondeu o outro , levantando-se devagar — Mas ninguém abriu mão de seu precioso voto todos falaram. Alguns acusaram, alguns pediram clemência. Mas todos julgaram. Até mesmo Pandora e Merlin.