Há algum tempo atrás eu ouvi algo sobre os nossos destinos já terem sido escritos muito antes dos nossos corpos serem formados, e eu me pergunto o porquê do meu destino ter sido esse, o porquê da minha vida ter sido assim. Não adianta, nada mudará mesmo que tente, não é você quem decide isso, na verdade não se sabe ao certo quem decide.
Dizem que o mundo é um lugar sujo, mas isso é óbvio. É bem claro que a vida de algumas pessoas é extremamente injusta a ela e o tanto que uma desgraça pode acabar com tudo. Eu só não entendo o porquê de ter sido tão injusto a mim.
Era uma manhã comum, eu e meus amigos víamos o nascer do sol no topo de um morro. Estávamos virados desde o dia anterior. A vista era bela e aconchegante, o ar se mantinha leve e o clima fresco. O sol se acabará de abrir, após uma noite de muita neve, e chuviscos leves.- Senti o ar pelos meus pulmões perfeitamente saudáveis passar. Meu corpo em meio a um transe, sem pressão ou ansiedade alguma. Como se eu pudesse viver para sempre.
- Ei izuku, gostaria de um gole de whisky?
- Não, valeu, prometi á minha mãe que não faria nada de ruim quando saísse pela noite.
- Uuh, nesse caso, terá que dirigir!
- Não, eu não tenho habilitação!
- Qual o problema?
- Não sei dirigir!
- Aprenda.
Fui relutante, era algo que eu não queria fazer, mas eles pareciam não me ouvir. Seus olhos estavam vermelhos pela maconha que fumavam a algum tempo atrás, junto dos seus costumeiros copos de bebidas. Eles estavam em outro mundo, outro universo, como se estivessem a fugir da realidade e seus problemas.
- Ou você dirige ou vc fica!
- Idiotas. - Suspirei cansado me rendendo a eles.
Eu já não pensava direito nas consequências de meus atos, além do mais, o que daria de errado tendo um jovem de dezesseis anos que nunca tocou em um volante dirigindo pela primeira vez, com um bando de jovens bebendo gin no banco de trás?
Temi enquanto girava a chave, o carro ligou, puxei o freio de mão e lentamente pisei no acelerador, o veículo se movimentou devagar. Logo comecei a aproveitar a sensação de andar com velocidade por um lugar desconhecido por mim
O vento, vindo da janela, asoviava em meu ouvido enquanto eu encarava aquela estrada fria e escura. Por um tempo me senti só, pensei no quão solitário era, e que muitos daqueles quais eu chamava de 'amigos' jamais sequer se importariam comigo.
Senti falta de meu avô, que a muito não via, talvez no futuro eu pudesse ficar mais perto dele. Ele estaria vivo até lá?
Ah, deve estar sim. É um velho duro como pedra!
A estrada estava escorregadia, pela neve daquela manhã de inverno. As árvore se balançavam pelo vento frio, tremi espirrando, o que atraiu risos dos outros garotos. Está tudo bem, estava tudo tranquilo. Eu me sentia 'ok', como se estivesse aproveitando ao máximo meus dias de vida, até que aquilo aconteceu.
Eu não lembro ao certo o que rolou, ou como aconteceu. De repente senti o controle do volante não estar mais sobre minhas mãos. O carro patinou indo em direção às árvores, lembro de tentar frear, mas de nada adiantou. Recordo-me de ouvir os garotos gritarem, enquanto diziam:
- Para, para, pisa no freio, para!
Depois o carro virou, e saiu rodando. Então não lembro de mais nada.
Pelo que me disseram, o carro capotou em caiu em uma ladeira. Dos 4 garotos que estavam comigo 1 morreu, por não usar cinto e voar pra fora, lê causando uma lesão grave no crânio, os outros se machucaram gravemente, mas sobreviveram, apesar de um deles se tornar cadeirante por uma lesão na coluna. Eu fui um dos mais graves, tive uma grande hemorragia, conseguiram a controlar.
Pensei que ali seria o meu fim, mas então abri os olhos em uma sala de hospital. Minha primeira visão foi meu avô chorando enquanto me abraçava e agradecia por eu estar vivo, nunca o vi assim ele sequer demonstra seus sentimentos direito.
- Vovô... - Minha voz soou rouca e fraca.
- Não fale nada, fique ai que eu vou chamar o médico.
'Fique ai' não é como se eu pudesse me mexer. Meu corpo doía todo, minha garganta estava seca, meus olhos ardiam. O médio disse que era normal, bom, isso após um acidente grave.
- Vovô, cadê a mamãe?
- Você deve imaginar.
- Trabalhando?
- Uhum.
- Mas eu sofri um acidente!
- Sabe como ela é! - Então um silêncio se abrigou no cômodo, me fazendo suspirar e encarar a janela. O clima ainda parecia frio, mas à neve já não se fazia presente. Pessoas agasalhadas se divertiam na calçada da rua, e casais andavam colados.
Que só...
- Vovô?
- Hm?
- Posso morar com o senhor? - Perguntei sem jeito, e no impulso.
- Claro. - Respondeu sem excitação alguma.
Estive pensando quanto a isso faz um tempo, e percebi o quão solitário estava. Se eu posso morrer a qualquer momento do que adiantará ficar longe das pessoas que gosto, não que eu não goste da mamãe, ela se esforça mas não faz questão de mim. Claro que não irei me afastar dela, é a minha mãe, só quero ficar em um lugar onde as pessoas façam questão de minha companhia. Realmente devemos aproveitar nossos momentos como se eles fossem os últimos, pois as vezes eles realmente são...
Qual seria ao certo a sensação de descobrir que tem HIV? Eu diria que a comparação mais aproximada seria de estar em um corredor da morte, como aqueles condenados que ficavam anos presos esperando por seu triste e trágico fim. Além de tudo isso, a sensação mais agoniante era saber que logo iria morrer mas não saber quando, é algo extremamente doloroso como um pesadelo.
Me impedia de fazer planos para o futuro, e quando pensava em vestibular eu desanimava enquanto me perguntava se realmente valeria a pena. Imagine só, aprender a lidar com os preconceitos e os medos vindo das pessoas. Foi traumático, foi chocante.
Eu vi as estatísticas quanto ao tempo de vida restante, para pessoas que possuíam HIV o tempo todo. Alguns diziam que a morte estava próxima e que a depressão melancolia servirão apenas para que elas se aproximassem logo, não sei mas muitas vezes eu pensei em suicídio e ver aquelas fotos terríveis de pessoas que estavam em estado terminal também não melhoravam a situação.
Foram longos meses de angústia e demora até eu aceitar e tentar aprender a lidar com esse fato. E eu sou Izuku Midoriya, tenho 17 anos, e possuo o vírus do HIV. O meu desafio agora é apenas a dificuldade de aprender a lidar com isso.
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Enquanto Houver Nós - Bakudeku
FanfictionApós um grave acidente de carro, Izuku Midoriya descobre ter contraído HIV através de uma transfusão de sangue. Enfrentando as incertezas de sua nova realidade, ele se muda para outra cidade e começa a vida universitária. Lá, conhece Katsuki, um jo...