Capítulo 13

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Ele sabia. Ele sabia.

Nie Cheng tenta manter a calma, ignorando o fogo que acende em suas veias, os vermes invisíveis que rastejam por suas vestes e o fazem querer se contorcer. Aqueles iriam entregá-lo, para derrubar sua já instável torre de cartas de mentiras. Nie Cheng não pode cair, ele não vai.

"Realmente?" Nie Cheng pergunta, arregalando os olhos. "Quando Lan-qianbei teve a oportunidade de conhecê-la? Pelo que Xiao Cheng ouviu, ela era uma cultivadora desonesta. Ela participou da conferência em que Da-ge está agora? Como ela era?"

Lan Qiren levanta uma sobrancelha, apoiando as mãos entrelaçadas sobre a mesa com um movimento das mangas esvoaçantes. "Não brinque, San-gongzi. Mu Huangli não disse que sua seita Nie valoriza a franqueza em suas palavras?"

"Estou sendo sincero", responde Nie Cheng, piscando. Ele inclina a cabeça para o lado, tentando imitar as corujas que via rondando à noite, seus olhos abertos e arrulhos suaves sempre conseguindo fazer com que o céu escuro parecesse menos solitário. "Se eu interpretei mal alguma informação sobre minha mãe, este gongzi pede desculpas; tudo que ouvi sobre ela vem de outras pessoas. Xiao Cheng nunca a conheceu antes."

"Shufu", chama Lan Wangji, franzindo as sobrancelhas. "A mãe de Xiao Cheng não está mais no plano mortal. É desrespeitoso caluniar o nome dela."

"Entre nós dois, quem está caluniando o nome dela?" Lan Qiren pergunta, olhando diretamente para Nie Cheng. Seu olhar atravessa o garoto, arrepiando os cabelos da nuca de Nie Cheng. Ele sabia . Não havia como ele não saber. Como Nie Cheng poderia escapar disso?

Seus olhos se voltam para a esquerda, onde Lan Wangji está sentado, olhando para seu tio. Seus lábios estão se curvando para baixo, e essa é talvez a maior desobediência que Lan Wangji demonstrou aos mais velhos, defendendo Nie Cheng de uma mentira completamente inventada. Como ele enfrentaria Lan Wangji depois disso? Olhar nos olhos de seu primeiro amigo e confessar que é um mentiroso, que roubou uma identidade para se esconder, como um covarde chorão? Nie Cheng desvia o olhar, massageando a palma suada entre os dedos.

Ah, como ele gostaria que Nie Huaisang estivesse aqui.

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"Tem cheiro", diz Nie Huaisang, franzindo o nariz.

"É para cheirar", diz Mu Huangli à frente, embora Nie Huaisang também possa ver como seus ombros estão tensos. Ela também está enojada com seu ambiente infeliz. "Você acha que deveríamos tratar nossos prisioneiros como convidados de honra?"

"Não", murmura Nie Huaisang, chutando uma pedra perdida em seu caminho. Ele leva a mão ao nariz, cobrindo a parte inferior com a manga pesada. "Eu só queria não ter olfato agora."

Mu Huangli bufa, destrancando uma porta de ferro que range com uma chave pendurada no pescoço. "Você e eu, garoto."

Ela segura a porta aberta para Nie Huaisang, esperando até que ele passe para fechá-la atrás deles, o metal pesado raspando no chão de pedra e fechando com um rangido. Lá dentro, o ar está úmido e cheira vagamente a comida podre e urina. Quando Nie Huaisang mostra a língua, ele pode sentir o gosto dos tons acobreados fantasmagóricos do sangue. Bruto.

Os lábios de Nie Huaisang se curvaram. Bom; deixemos que as pessoas aqui sofram, tanto mental como fisicamente, neste ambiente sombrio.

"Onde está aquela mulher?" Mu Huangli murmura, levantando uma tocha na mão para iluminar melhor a sala. As gaiolas que as cercam estão quase todas vazias, exceto uma: a menor e mais suja, presa bem no fundo da sala, onde os roedores gostavam de fazer seus ninhos e abrigar os cantos pelos quais as aranhas tinham uma afinidade especial. Nele estava sentada uma mulher, com o cabelo solto, as vestes rasgadas e nuas. Nie Huaisang caminha até ela com uma confiança arejada, olhando para seu corpo flácido.

Irmão, o mundo falhou com você, mas eu não.Onde histórias criam vida. Descubra agora