capítulo 7

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Guardo minhas coisas na bolsa junto com o meu material, desço as escadas enquanto eu ouço a buzina tocar lá fora. Acho que já faz um 5 minutos e acabo sorrindo.

Saio de casa e quando entro na caminhonete meu pai me olha furioso.

- por que demorou tanto? Sabe que eu odeio ficar esperando. - ele diz bravo e apenas dou de ombros suspirando.

- o acordo é você me buscar as 8 horas da manha, já são 15:00 horas da tarde. Achei que não viria mais.  - digo, mas não fico satisfeita só com isso, ultimamente não me sinto satisfeita com nada em relação a ele. - até por que, eu te esperei até agora. Custou me esperar 5 minutos quando é você que está atrasado? - pergunto olhando em seus olhos.

O vejo apertar o volante, mas ele não me responde. Apenas começa a dirigir ate a sua casa em silêncio. Como sempre, nunca vale a pena para ele gastar saliva comigo.

Logo estarei fazendo 18 anos e indo para a faculdade, minha formatura estará logo aí. Vou me formar no ensino medio, quero cursar medicina, assim como tio André.

Não demora muito para chegarmos, desço e vou direto para o meu quarto, como sempre. Não quero ver Celina e nem mesmo os gêmeos. Desde que mamãe me colocou na escola particular, Celina não aceitou bem e piorou o modo como ela me trata, então para a minha paz, eu a evito o máximo que posso.

Entro correndo para dentro e ignoro os gêmeos que estão do lado de fora lavando o carro que ganhou do meu pai de presente para dividirem. Subo para o quarto e fecho a porta.

Não quero ninguém me perturbando, tiro meus livros da bolsa e as apostilas de medicina que peguei do tio André. Ele tem um caixa que guarda os materiais da sua faculdade e eu andei bisbilhotando, pois sei que ele não se importa. 

Começo a estudar, ninguém vem aqui em cima, então quando minhas vistas começam a doer, deito na cama e cochilo um pouco.

Acordo com um barulho no quarto e quando abro meus olhos, vejo Jaqueline com uma das minhas apostilas nas mãos. Não espero meu corpo despertar e pulo da cama e retirando da sua mão.

- está louca? Por que está mexendo nas minhas coisas? - pergunto, segurando a vontade de puxar seus cabelos.

- Papai mandou te chamar para jantar, pelo visto você estava estudando. - ela diz fixando os olhos nas minhas apostilas novamente.

- isso não é da sua conta. - falo e ela apenas sorri debochada e com um olhar maligno.

- vem logo e não me irrite. - ela diz saindo do quarto.

Respiro fundo e antes de descer guardo minhas coisas e as escondo em cima do guarda roupa, para isso preciso pegar uma cadeira, mas não posso bobear e deixar que Jaqueline faça algo com as minhas coisas.

Desço para jantar e quando apareço, todos já parecem estar na metade da refeição. Sorrio, pois parecem que se lembraram que eu existo só um tempo depois de começarem a comer.

Me sento na mesa e coloco comida, todos estão em silêncio e me olha enquanto eu me sirvo. Sei que algo vem aí.

- falem logo. - digo e nem sequer me dou o trabalho de olhar para eles.

- você vai se formar na mesma semana que a gente. - Jaqueline fala e eu a olho.

- o que isso tem haver? - pergunto.

- ouvi dizer que as festas da sua escola pós formatura são excelentes. Quando receber os convites não demore para entregar os nossos, vai ser uma boa festa de formatura para os gêmeos.- Celina diz.

- é o que? - pergunto e acabo não conseguindo evitar de rir.

- o que é tão engraçado? - ela pergunta e a encara.

- o fato de você achar que vou dar meus convites para você. - falo a encarando.

- como assim Alice?!  - papai pergunta surpreso.

- o que? Acharam que eu ia convidar vocês para minha formatura e ainda deixar que eles fingissem que a festa era para eles? - questiono meu pai, que ainda me olho surpreso.

- eu sou sei pai, somos a sua família. Como assim não vai nos convidar? - ele pergunta e eu rio novamente.

- não pagou uma mensalidade da minha escola, não se interessou nenhuma vez em como eu estava indo. Quando pedi para que você comprasse uns biscoitos para ajudar na festa de formatura você se negou. Por que eu deveria convida-los? - pergunto e ele para estático.

- você vai receber 8 convites, tem que nos dar! Quem pensa em convidar em vez de nós?! - Celina grita e eu a olho.

- já recebi os convites, e eu os dei a minha família. Mamãe, tio André e Miguel, os outros eu vendi para outros alunos que tem a família grande e precisava de mais. - falo e papai me olha chocado.

- não ia me convidar? - ele questiona, com a voz baixa.

- nunca se interessou em nada que fosse sobre mim, se eu convidasse só você, iria? - pergunto e não preciso da sua resposta. - Nos dois já sabemos a resposta.

- Mamãe, não deixa ela fazer isso. Eu quero ir na festa. - Jaqueline fica brava e logo fica de pé. - tenho certeza que tem convites na bolsa, vamos lá pegar.

- isso, deve ter. - Celina diz e as duas logo estão de pé e subindo as escadas.

- estão loucas? - grito indo atrás delas.

Não deixei eles na minha bolsa, mas sei os estragos que elas podem fazer os procurando.

Subo atrás delas e quando chego no meu quarto, estão revirando tudo e procurando pela minha bolsa.

- Podem parar com isso agora! - grito tentando tirar elas do quarto, mas sou empurrada e acabo caindo sentada no chão.

Vejo elas revistarem as minhas coisas e sinto algumas lágrimas caindo.

- parem com isso agora! - ouço a voz do meu pai grossa gritar com elas, o que faz com que elas também se assustem. - que ação vergonhosa é essa Celina? Jaqueline?

- só queremos os convites querido.

- É pai, eu quero ir. - Jaqueline responde com uma voz mansa para manipula-lo.

- os convites não pertencem a vocês, se ela disse que não estamos convidados, vocês não tem o direito de entrar no quarto dela assim.

- mas querido...

- Saiam agora as duas! - meu pai grita com elas e é a primeira vez que ele me defende.

Ambas olham para ele surpresas, mas não discutem mais. Até mesmo eu estou surpresa ao ver como ele as olha com raiva, mas logo passa quando ele me olha do mesmo jeito.

- Você é a minha maior decepção. - ele diz e simplesmente sai batendo a porta atrás de si.

Sinto isso no fundo da minha alma, me levanto, seco minhas lágrimas e prometo que essa vai ser a última vez que vou chorar por causa dele. Se sou uma decepção, quer dizer que ele não espera nada de mim, então eu não deveria esperar nada dele. Tenho feito isso nos últimos anos, esperando que ele volte a me tratar como uma filha, mas isso acabou hoje.

Me sento na cadeira da escrivaninha e logo meu celular apita com uma notificação, vejo que é uma mensagem de um número desconhecido e qua do eu abro, vejo que é um print das redes sociais de Jaqueline anunciando que vai estudar medicina após o ensino médio. Quando olho quem me mandou, sei que foi ela.

É simples assim, ela consegue acabar com meu sonho em um segundo. Perdi toda a vontade que eu tinha de estudar medicina.

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