contando as horas

730 64 102
                                    

Esse capítulo tem alguma gatilhos de ansiedade emocional.

꒰⁠⑅⁠ᵕ⁠༚⁠ᵕ⁠꒱⁠˖

Os dedos de João passavam pelas teclas do grande material de madeira, as cordas não tocavam suas melodias favoritas, algo dentro de seu peito não conseguia libertar a sensação, mas as palavras em sua mente brincavam com as teclas do grande piano.

"me sinto só desde criança, mesmo com gente ao meu redor,
Sempre lutei por liberdade, mas ser livre me fez só". - suspirou fundo.

Solidão, uma palavra, três sílabas apenas poderia descrever todo o rumo de sua trajetória. Olhando para dentro de si, ele conseguia sentir um João de cinco, onze, dezenove anos chorar quando pensava que aquela casa era grande demais para um menino tão sozinho.

Olhando pra fora, ele sentiu um arrepio diferente enquanto algo lá dentro dizia bem alto "você não está mais sozinho, você é tudo que precisa ser pra atrair o amor que as pessoas querem sentir"

Olhou para o lado, no banco do piano estava ele. João em sua forma de onze anos, com seus cabelos para cima e sorrisinho ladino.

E então ele despertou. Suspirando alto, e com a mão sob seu peito.

- amor, ai meu Deus o que aconteceu? Eu tava te olhando do nada você falou sozinho e eu levantei com medo de você estar possuído, cruz credo - Pedro dizia ao pé da cama, apenas com uma camiseta vermelha e uma cueca.

- não é o João, é o capeta - João dizia rindo enquanto revirava os olhos para o outro.

- para, idiota eu tenho medo você sabe - puxou João e depositou um selinho em seus lábios.

- sabe, eu tava pensando - João abraçou o corpo do outro pela cintura, olhando bem para os olhos de jabuticaba. - já que você dorme aqui quase todos os dias, porque você não mora comigo? - João disse devagar, doce e receoso, sentiu a falta dos braços do moreno.

Pedro se sentou na cama, e olhou diretamente para o cacheado.

- amor, eu preciso cuidar da minha mãe e agora que ela e o Thomas estão sozinhos também fica mais difícil, e também eu acho que é cedo demais pra gente fazer isso, não me leva a mal. - Tófani respondeu fazendo a expressão facial de seu namorado tomar outra forma.

- então você acha que tá cedo... droga, vou ter que cancelar as dez mil rosas que eu comprei pra te pedir em casamento - João suspirou fazendo cara de decepção.

- é o que? - Pedro arregalou os olhos mas o outro soltou uma gargalhada, ele sentiu os braços de Romania em volta de seu corpo.

- é brincadeira amor, mas sobre você morar aqui, se mudar de ideia ainda tá de pé, okay? - deixou um beijo no pescoço do maior que apertou sua cintura.

- não sei se me acostumo com o seu perfume de velho rico - Tófani disse abafado no abraço.

- você não vive sem, que eu sei.

O tempo passou como o vento

Já era o fim da semana, e João mantinha seus pés batendo freneticamente no chão. Era o dia em que eles tinham combinado de ir em uma das peças teatrais de Catarina. Eles viajaram até o Rio pela manhã, pois a turnê se passava por lá, Renan e Malu estavam juntos no mesmo hotel, obviamente, em quartos diferentes.

- Eu tô bonito? - Pedro apareceu com um dos ternos pretos de João, ele não usava a gravata, mas aquele parecia ter sido feito para ele.

O cacheado estava boquiaberto, seus olhos até se encheram de vontades. Vontade de arrancar todos os botões daquelas vestimentas, vontade de beijar Pedro da cabeça aos pés, vontade de gritar o quão ele era lindo.

- você tá um gato, se eu pudesse agora mesmo te dava em todas as posi- Romania foi interrompido por um longo selinho do namorado, entre risos o seu rosto havia ficado vermelho.

Pedro desceu as mãos até a cintura do outro, iniciou um beijo longo e caloroso. Seus corpos estavam em uma sintonia cheia de toques e vibrações externas. As mãos de João adentraram a calça do moreno, e no mesmo instante ele soltou os lábios do cacheado, o jogando na cama.

- nós, precisamos ir - o moreno arfou se embaralhando entre as palavras.

- amor, você não vai querer sair com a calça assim né - o cacheado apontava com um sorriso malicioso em seus lábios. - eu resolvo isso em quinze minutinhos pra você, hein.

Seus olhos manipularam Pedro até a beira da cama, quando se sentou, o castanho se pôs de joelhos e o mostrou a ele todas as órbitas que poderiam existir dentro daquela suíte.

Trinta minutos haviam se passado.

Malu esperava no ponto de encontro com um olhar furioso, quando seus olhos encontraram os de João, ele podia jurar que sua alma havia sido sugada.

- você jura que tava enrolando porque tava se pegando com o Pedro? Porra João - Malu bateu suas mãos no ombro do amigo.

- aí caralho, para de surtar eu só demorei uns dez minutos - revirou os olhos - eu não tava me pegando com o Pedro, eu hein, eu tava só me arrumando.

- ah claro, é por isso que o zíper dele ainda tá aberto - a garota respondeu fazendo o moreno mais alto automaticamente checar seu zíper com as mãos, e ele estava fechado.

- ain ain eu tava me arrumando, escorreguei e caí de boca na pica do Pedro - Malu imitou o amigo, fazendo Renan cuspir o chá que antes bebia.

O Uber não demorou para chegar ao local.
Um teatro grande, podia se ouvir música de fora, eles estavam quinze minutos atrasados. Malu estava o caminho inteiro xingando João e Pedro, enquanto Tófani conversava com o motorista do Uber sobretudo, pedia para o homem colocar camisa dez no rádio e falava sobre os adesivos que ele tinha no painel do carro. Renan apenas lia algo em seu celular, enquanto ignorava todo o resto da humanidade.

Quando os pés do cacheado pisaram no ambiente, uma das primeiras coisas que pode avistar. a mulher caminhava no palco enquanto a luz a iluminava. Havia comprado o acento da primeira fileira para ter contato direto com ela, mas seu corpo arrepia, tudo parecia se encolher e ficar sufocante.

Os olhos dele se encheram de lágrimas.
A canção que ela cantava, era semelhante a algo que antes já havia ouvido na mesma voz, mas só se lembrou ao ouvir outra vez.

Vem me tirar da solidão
Fazer feliz meu coração
Já não importa quem errou
O que passou, passou, então vem.

Naquele momento seu coração sabia. Seus olhos sabiam, sua alma sabia. Ela sempre o tocou indiretamente. Dois pólos, dois corpos afastados pela crueldade que se fazia em sua forma mais cruel: o destino. Aquela canção sempre tocou em seus sonhos, assim como a solidão sempre o chamou em seu quarto. Não foi diferente para a loira.

E quando seus olhos encontraram os dela, ele teve a certeza.

Lábios de vinho: glória e dor ( pejão) Onde histórias criam vida. Descubra agora