Catarina

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Se mover contra o tempo, a briza do vento assombra. As vozes que não se calam são somente suas, ninguém mais ouve, o seu reflexo é a imagem que seus olhos desviam. A sensação de incapacidade. Incapaz, Pedro é incapaz.

Não sabia o que faria, mas aquele peso o consumia como o vinho que bebeu.
A verdade liberta, mas a mentira maqueia as sensações. crueldade é um lugar confortável de não conhecer. Sentir os lábios do cacheado tocar os seus com o gosto do vinho caro, o fez sentir aquela sensação novamente, isso maquiou a situação.
Mas logo se lembrou que aquele João quem se apaixonou, não se conhecia, e parte da culpa era sua.

Ele não havia feito nada, mas era aquela sua parcela de culpa. Ficar em silêncio diante a uma situação fora do senso comum, o torna cúmplice. Tirou o cacheado de seu colo o deitando ao seu lado, e ficou de costas para ele.

– Eu mordi sua língua sem querer de novo? – o outro perguntou. Seu tom de voz era irônico.

Desde que eles voltaram da delegacia, Pedro presenciou um cara livre em todos os sentidos. João cantava, fazia dancinhas enquanto cozinhava e contava seus futuros planos. Dias atrás ele chorava, tentava esconder mas seus olhos avermelhados o entravam sem exitar. Vê-lo sorrir por algo irreal era cruel, seus olhos se enchiam quando pensava em quebrar o sorriso que o abraçava, o sorriso de João valia mais que a verdade. Mas aquele, não era real.

–  a gente precisa conversar – coçou a garganta, suspirou fundo.

– amor desculpa, prometo que nunca mais vou fazer aquilo eu juro… – o rosto de Romania mudou, seus olhos estavam caídos e tristes.

– João, eu não... – mudou a direção de seus pensamentos quando o outro o agarrou.

Forte, quente e carinhoso. Ele sentia o coração batendo contra o seu, parecia que eles tinham algo magnético. Ao abraçar-lo sentia como se aquilo fosse pra vida toda, como se o corpo de João fosse feito para abraçar o seu.

se aconchegou nos ombros largos e suspirou novamente. Sentia o ar quente do hálito do menor, sua pele toda fervida, estavam abraçados em chamas.

– meu bem, não precisa se desculpar.

Fechou os olhos apertando fortemente.

– eu sou tão feliz por amar você – o castanho sussurrou no ouvido de Pedro.

– eu te amo, meu dengo.

Andava de um lado para o outro, enquanto a outra figura estava sentada conversando ao telefone. A tal chamada foi encerrada e o olhar se levantou até encontrar os de Pedro.

– você sabe o que eu acho disso, não sabe? – a amiga prendeu o cabelo enquanto o outro foi até a cama e se jogou nela.

– eu só queria que ele não precisasse encarar mais uma coisa ruim – mordeu os lábios.

– ele não vai ser feliz vivendo uma mentira, meu amor, e você sabe que tem que contar.

– Eu vou contar, mas primeiro eu vou achar a mãe dele, quero saber se ela está disposta a receber ele, e o velho respondeu?

Tófani desistiu de contar a verdade a João naquela noite, ao contrário disso, ele esperou o dia amanhecer e depois de seu turno no trabalho pediu ajuda da amiga. Ela poderia descobrir quem era, e onde estava a verdadeira mãe de João.

– ele não quer me falar, mas eu tenho uma ideia melhor – Malu se levantou, se aprontou fechando seu MacBook.

– pra onde cê tá indo?

Ele não entrou junto, estacionou em frente ao condomínio. Não queria mais problemas, e não queria sentir a sensação de sua garganta fechar outra vez, era o que sentia quando os país de João estavam por perto.
Ele batia os dedos no painel do carro enquanto o samba tocava de fundo, algumas lembranças vieram a sua mente.

Lábios de vinho: glória e dor ( pejão) Onde histórias criam vida. Descubra agora