Américo

591 66 39
                                    

As vozes no fundo chamam por seu nome, seus olhos se abrem revelando um borrão. A primeira figura à sua frente era ele, segurava suas mãos. O ambiente continha um espelho cheio de luzes, muitas fotos da mulher espalhadas pelas paredes, rosas e cores vivas.

– nós vamos ao hospital, eu acho mais seguro – pode ouvir a voz de Tofani. O moreno permanece com seu semblante preocupado.

– eu tô bem, mesmo, eu tô ótimo. – a voz do cacheado se fez presente, finalmente. Trazendo conforto ao namorado.

– não, amor não seja teimoso você desmaiou e ficou pálido igualzinho um papel.

– eu vim aqui pra ver a mulher, não vou embora sem tirar satisfação.

Ele soltou, Malu estava na porta de costas conversando com alguém. A loira entrou ao ouvir as palavras, todos ficaram calados, não parecia conveniente dizer nada.

– eu quero ficar sozinho com ela, por favor, huh? – pediu com os olhos. Pedro suspirou fundo fechando os olhos.

– você tem certeza que tá bem? Eu não quero te deixar sozinho depois de ter passado mal.

– hey, fica tranquilo, eu vou ficar bem – o cacheado seguro as bochechas do namorado, depositou um selinho calmo em seus lábios e colocou suas festas. – obrigado por cuidar de mim, príncipe.

– eu sempre vou cuidar de você.

Os lábios se juntaram novamente, o cacheado ouviu reclamações no fundo, como esperado.

– oh viadagem do Caraí, isso é hora? – Malu e se atreveu a puxar Pedro pelo braço. – vamo meu filho que eu quero ver a praia ainda, deixa ele conversar aí com a moça.

Eles deixaram os dois a sós. Para João era estranho. Seu corpo estava esticado no sofá, a mulher estava de pé em sua frente. Ela tinha seus olhos, incrível.

– você deve estar se perguntando, porque eu não te procurei – foi a primeira coisa que sairá da boca da outra.

– Eu quero saber porque você me deixou, Catarina.

– eu nunca te deixei, meu filho – os olhos dela estavam cheios de lágrimas, ela se atreveu a sentar na beira do sofá. João se sentou, ficando frente a frente com ela.

– você não tem direito de me chamar assim, por favor, me chama de João, João Vitor.

– a sara tomou você de mim, ela queria vingança – ela suspirou. – eu não sabia que ele era casado, nos conhecemos em um bar. – ela chegou um pouco mais perto, se tentou segurar a mão do filho. Ele se afastou de imediato. – quando ele descobriu a gravidez, disse que não iria te assumir. Eu te levei pra casa de sua avó. Até seus seus seis meses, nós duas te criamos com pouco, mas com muito amor, mas a comida faltava e você era apenas um bebê, meu amor eu nunca quis te deixar. – os olhos do cacheado foram ao chão.

– mas ele voltou a Américo com a mulher dele, descobriu a traição e ele ao ver que  você era um menino e decidiu te levar da forma mais covarde, eu fui obrigada a te entregar. – ela já chorava, suas mãos estavam trêmulas.

– eu não tinha trabalho, era uma época difícil. Então ele conseguiu, te tirou de mim e todas as vezes em que eu tentei me aproximar, os seguranças me faziam parecer louca. achei melhor permitir que ele te criasse, e acabei cedendo. – a mulher mexia em suas mechas loiras, sua voz tremia.

– ele te daria tudo que um menino precisa, eu não tinha nada, e a maior prova de amor que eu pude fazer foi te libertar da fome, meu amor, sempre foi tudo por você.

– eu nunca fui livre – ele jogou, olhando a mulher com revolta. Seus olhos estavam escuros e o brilho não permanecia. – Ele me odeia, e sempre me usou como um troféu, porque você não me buscou? Eu precisava de você, eu só queria ter alguém – João agora não segurava suas lágrimas, desabou em soluços incessantes.

– eu tentei, mas ele já havia manipulado toda a situação. Todos achavam que você era filho da Sara, e eu parecia apenas uma mulher louca que não aceitava a morte do filho.

– se você tive-sse me criado – o soluço o fez dar uma pausa, seus olhos vermelhos cansaram, mas a olhava. – você teria me aceitado? – suspirou, tentando não mais tremer.

– me perdoa, por não poder ter te ensinado o tanto que eu amo você, e o tanto que eu amo cada coisa sobre você – a loira voltou a tentar, dessa vez, João não afastou suas mãos. – eu jamais iria negar alguma parte da pessoa que você é tudo que você representa, ou não seria você.

Sem esperar, a loira recebeu o valor de um abraço apertado. O cacheado chorava tanto que podia sentir seu peito subir e descer, tentando controlar sua respiração.

– a mamãe tá aqui, meu pequeno, você não tá sozinho, eu te amo.



Lábios de vinho: glória e dor ( pejão) Onde histórias criam vida. Descubra agora