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Senti vontade de chorar quando abri meu Instagram e a primeira coisa que me deparei foi com um story da Jennie. Era uma foto dela e de todos os meus amigos na porta da minha antiga escola, esperando o sinal tocar para terem a primeira aula do ano. Era pra eu estar lá, naquele meio. Era pra eu ter acordado em cima da hora com barulhos de carros, aviões e helicópteros e então chegar atrasada na primeira aula de matemática da professora mais insuportável do colégio. Mas não. Eu estava com o uniforme do Incheon global campus, de cara fechada, sentada no banco de uma parada de ônibus.

Hana me explicou que o horário do ônibus passar era às seis e cinquenta da manhã, mas tinha vezes que passava muito antes ou muito depois, então, mal era seis e meia e já estávamos ali. Estava irritada. Muito. Eu não era muito acostumada andar de ônibus para cima e para baixo. Eu pegava metrô todas as manhãs até a minha escola. Havia uma estação logo ao lado do meu antigo prédio, e outra de frente para o meu antigo colégio. Rápido, fácil, prático. Os horários de chegada e saída eram sempre os mesmos.

- O ônibus tá vindo - Hana disse ao apertar os olhos lá pro final da rua - Cadê a Rosé, meu pai do céu? - perguntou preocupada.

- Ela pega o ônibus com você todo dia? - Aquilo me atingiu como um fiozinho de ansiedade e esperança, mas eu não saberia dizer exatamente o porquê.

- Na maioria das vezes. Mas tem dias que o Eunwoo ou o James conseguem levar a gente de carona antes de irem trabalhar - ela me respondeu sem me olhar. Estava preocupada demais olhando em volta para ver se Rosé estava vindo, até que uma cabeleira loira surgiu na esquina, correndo na nossa direção

- Ah, finalmente!

Me levantei por impulso quando a vi se aproximando, e logo ela já estava ali, bem perto de mim.

Seu cabelo estava da mesma forma que estava no churrasco, mas ainda mais arrumado. Ela cheirava a perfume cítrico e as bochechas estavam vermelhinhas de sol, assim como a boca estava mais rosada, mas não era batom, era natural.

- Achei que você não viesse - Hana disse à ela - O ônibus aí - Ela apontou para o ônibus que parava ao nosso lado.

Rosé sequer me olhou, e toda a minha irritação, inquietação e curiosidade voltou a tomar conta de mim. Entrei no ônibus parcialmente cheio e me sentei ao lado de Hana. A loirinha sentou-se ao lado de uma mulher desconhecida, alguns bancos a frente do nosso.

- Sabe, eu acho que ela não foi muito com a minha cara - eu falei à minha prima após alguns minutos de trajeto - Ela me evitou ontem o dia inteiro no churrasco, trocamos pouquíssimas palavras. E agora ela nem me olhou direito.

- Eu conheço a Rosé desde que eu nasci, mas, sabe, é estranho. Sempre fomos, bem, amigas, mas... Depois de um certo tempo, quando ela conseguiu a bolsa de estudos e eu entrei na Incheon campus, a nossa, entre muitas aspas, amizade, passou a ser só em casa e no ponto de ônibus mesmo. Eu gosto dela, mas nós não somos próximas. Parece que evitar as pessoas é uma coisa dela.

- Ela não fala com você escola?

Hana negou.

- Tudo bem que depois de grandes nós passamos a nos ver pouco pela escola. Eu sou duas séries abaixo, e depois do ginásio os intervalos e outras atividades passam a ser em horários diferentes, mas mesmo assim - Deu de ombros - Mas eu não me importo muito. Às vezes pode ser coisa de idade, ela tem quase dezoito e eu ainda vou fazer quinze. Todos os amigos dela têm entre dezessete e dezenove anos, e esse pessoal costuma tratar os mais novinhos com diferença. Uma hora vai acabar.

Murmurei um "uhum", mas minha cabeça estava a mil querendo entender tudo aquilo. Por mais que eu tentasse ligar os pontos, eu não conseguia conectá-los até chegar numa conclusão.

Chaelisa • A falsa realidade de Roseanne Park.Onde histórias criam vida. Descubra agora