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Paralisei! Encarando seus olhos curiosos e nervosos, eu me perdi e minha mente embaralhou. Não era a primeira vez que uma amiga pedia para ver meus piercings nos peitos, mas especificamente ali, eu estava nervosa. Rosé estalou os dedos no meu rosto, me fazendo acordar do transe. Pisquei forte umas três vezes.

— E aí, gata?! Bora! — brincou — Esse é o meu desafio.

— Tá falando sério? — eu perguntei, cruzando os braços.

Ela chegou um pouco mais perto e, de boca aberta respirou fundo. O hálito de soju bateu contra o meu rosto, me deixando um pouco tonta – mais do que eu já estava.

— Claro que eu tô. Sempre tive curiosidade pra saber como eles são — Deu uma golada curta na bebida — Bora! Mostra aí.

Revirei os olhos e abri um sorrisinho nervoso. Sem problemas, eu iria mostrar. Meus dedos trêmulos alcançaram a barra da blusa do meu pijama e puxaram a peça para cima, revelando minha pele arrepiada por baixo dela. Era a adrenalina, o álcool agindo, o nervosismo, ansiedade. Eu estava fria. Gelada, ao mesmo tempo que sentia minha pele queimar. Meu coração estava acelerado enquanto ela me olhava completamente neutra.

— Doeu? — ela perguntou torcendo o nariz, mas não me olhou nos olhos. Continuou fitando os piercings com uma certa naturalidade — Pra colocar.

— Um pou... — Eu fui novamente abaixar a blusa, mas ela me impediu.

— Calma, eu ainda tô analisando — falou, abrindo um sorrisinho que me dizia “não precisa se desesperar”.

— Doeu um pouquinho. Ele aplicou um gelzinho anestésico que funcionou bem, então quase não senti dor — expliquei. Estava me esforçando muito para não gaguejar. Eu abaixei a blusa, e dessa vez ela não me impediu.

— São bonitos — elogiou.

— Ah, valeu, eu gosto muito dessas jóias. Comprei numa lojinha lá no cen... — tentei explicar, mas Rosé me interrompeu.

— Eu não tô falando das jóias.

Ruborizei. Minhas bochechas estavam queimando! Cacete, que tipo de poder é esse que uma pessoa pode ter sobre outra?! Fiquei sem palavras e, pela milésima vez naquelas poucas horas, revirei os olhos e sorri.

— Mas as jóias são legais também.

Ela deitou no chão, encarando o teto e respirou fundo. Poucos segundos depois, fechou os olhos e começou a cantarolar baixinho a música da Taylor Swift que tocava ali na caixa de som. Sua respiração estava tão tranquila; eu observava seu peito subindo e descendo lentamente.

— Lali, apaga a luz. Deita aqui comigo — Deu umas batidinhas no chão ao seu lado.

Fiz o que ela pediu. Eu me sentia controlada da forma mais deliciosa possível. Consegui sentir o calor de sua pele me incendiando quando me deitei ao seu lado, e a gente sequer se encostava. Ela cantava tão baixinho que era quase inaudível. O que eu estou fazendo comigo mesma? Eu me perguntei enquanto a observava. Eu estava ali, deitada ao lado da pessoa que na mesma ção que me causava borboletas no estômago, me dava dores de cabeça. E era um equilíbrio que eu gostava tanto, que já não conseguia mais me ver sem.

Roseanne Park, por favor, pare de ter a voz tão doce. Se você não tivesse os olhos tão gigantes e pretos mais lindos que eu já vi em toda a minha vida, tudo seria tão mais fácil. Se todo o seu corpo não fosse composto por pintinhas que combinavam tanto com o seu cabelo, o encanto talvez fosse menor. Por favor, para de ser assim. Em tantos sentidos, apenas pare. E ela continuava cantando baixinho a letra de uma música chamada This is Me Trying. Letra que, inclusive, me identifiquei em alguns versos.

Chaelisa • A falsa realidade de Roseanne Park.Onde histórias criam vida. Descubra agora