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Jornais espalhados pelo chão, roupas esgaçadas e uma lata de tinta roxa. Meu pai estava ficando cada vez mais generoso na verba semanal, e eu estava aproveitando para deixar meu quarto cada vez mais a minha cara, mesmo que eu não fosse mais ficar muito tempo por ali.

Hana estava me ajudando; ela pintava a parede com um rolo enquanto eu fazia os acabamentos com um pincel. Era manhã um domingo nublado de outono, a previsão para noite era de chuva fraca e vento.

— Você vai querer fazer as outras paredes também? — Hana me perguntou.

— Não, só essa. A cor é muito forte, só uma tá bom.

Eu havia resolvido pintar apenas a parede da cômoda, uma das menores, e as outras eu espalhei pôsteres, mural de fotos que imprimi, prateleiras com enfeites e algumas luzinhas de natal também.

— Ficou bom! — eu disse depois de olhar tudo perfeitamente pintadinho. Estava feliz com o resultado.

— Sobrou bastante tinta. Talvez outro dia eu pinte meu quarto de lilás, aí é só jogar um pouco de tinta branca aqui... Eu cansei do rosa. Você me ajuda?

— Claro — larguei o pincel dentro da bandejinha de tinta e me sentei no chão para descansar

— Você vai fazer alguma coisa hoje?

— O Min Ho me chamou pra ir ao cinema lá pelas duas horas. Você quer ir com a gente? — Sentou ao meu lado.

— E ficar de vela? Tô fora. Passo!

— Você não precisa ficar de vela... — falou sugestivamente e eu me atentei — Chama a Rosé pra ir também!

Eu ri e sacudi a cabeça de um lado para o outro.

— Qual é sua intenção, Hana? Um encontro duplo? — Levantei a sobrancelha.

— Longe de mim incentivar um adultério, mas se tratando do Yunho... — brincou — Mas é sério, vai! Chama ela, é só pra dar um rolezinho, coisa de amigo. O dia tá muito chato, vai ser bom sair um pouco.

Respirei fundo e assenti.

— Tá bom, eu mando uma mensagem pra ela. A gente racha um táxi até o shopping.

— Tá! Eu vou avisar à minha mãe que você também vai e vou de uma vez tomar banho e lavar o meu cabelo.

Ela saiu saltitante do quarto e eu deitei no chão, encarando as estrelinhas. Depois de um tempo, recolher os jornais sujos de tinta roxa e jogar fora. Dei uma geral rápida no meu quarto e deixei tudo aberto para entrar ar de fora. Não queria ser intoxicada pelo cheiro daquela tinta. Minha alergia agradece.

Perto de uma da tarde, Rosé respondeu minha mensagem falando que topava a ida ao cinema, e aquilo me deu o ânimo que eu precisava para começar a me arrumar. Tomei um banho quente e rápido; meu cabelo já havia sido lavado na noite anterior.

Ao sair do banheiro ainda enrolada na toalha, abri a primeira gaveta da cômoda e pensei nas opções de looks. Eu normalmente vestiria a mesma calça preta de sempre, alguma camiseta qualquer e tênis sujo. Mas eu, naquele dia, estranhamente queria estar diferente e bonita, verdadeiramente bonita. Bonita ao ponto de me sentir muito bem comigo mesma e exalar autoconfiança.

Resolvi vestir um top de alcinha bege com um blusão social branco por cima, com os primeiros botões abetos. O tecido era um pouco transparente. Deixei a blusa por dentro da calça wide leg de lavagem clara. Nos pés, uma sandália de plataforma branca. Passei uma maquiagem leve; apenas um pouco de corretivo nas olheiras, um delineado bem fino, penteei as sobrancelhas para cima, deixei as bochechas rosadinhas e levemente iluminadas e, por fim, um lip tint avermelhado na boca. Não quis inovar no cabelo (não sei inovar no cabelo), então eu o deixei solto, apenas penteei e sacudi um pouco a cabeça para dar mais volume.

Chaelisa • A falsa realidade de Roseanne Park.Onde histórias criam vida. Descubra agora