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Rosé passou o restante dos dias daquela semana me evitando completamente. Não estava mais pegando mais o mesmo ônibus que eu nem na ida e nem na volta, na escola, passou a sentar do outro lado da sala com suas amigas. Hana todos os dias me perguntava o que estava aconteceu, mas eu apenas dizia que não era nada. Apenas que não tínhamos nos dado muito bem e ponto final.

No domingo eu estava no meu quarto conversando com a Jennie por ligação e atualizando ela sobre os últimos acontecimentos. Comentei sobre como não estava sendo tão mal como eu imaginei que seria morar na Coréia, e até que as pessoas não eram tão ruins, bom, claro, tirando a maior parte da galera da minha escola.

Ela me perguntou se eu já tinha ido a praia alguma vez e eu falei que apenas por meia hora, durante a noite. Perguntou sobre a minha prima, sobre quais eram as diferenças entre as cidades e tantas, mas tantas outras coisas, que quando eu fui ver, já estávamos há mais de duas horas na ligação de áudio e já estava escuro lá fora. Me despedi da minha amiga e fiquei por longos minutos encarando o teto, pensando o que eu faria agora.

Minha conta bancária está zerada, meu cartão cancelado e tenho três pares de olhos sobre mim vinte e quatro horas por dia. Só havia se passado pouco mais de uma semana e, por ora, eu estava conseguindo lidar bem. Mas seria mesmo daquela maneira até o fim do ano? Eu me perguntei. Será que haveria um glorioso dia em que meu pai me liberaria algum dinheiro ou que minha tia me deixaria sair sem qualquer supervisão? Ou melhor, será que eu teria algum dia verdadeiramente bom e divertido na Coréia do sul?

Rolei no colchão sem me preocupar se eu iria cair da cama, afinal, ainda não tinha uma. Fui parar no porcelanato frio que imitava tábua corrida. Resolvi pegar o meu violão, já que eu não o tocava há semanas, e fui fazendo e tocando notas aleatórias, cantando alguns trechos de umas músicas que encaixavam com aquela melodia, até que fui interrompida pelo som de três batidas na minha porta.

Claro, eu esperava que fosse Hana, Eunwoo ou a minha tia, um dos três, talvez me chamando para descer e jantar ou dar uma voltinha no centro, como eles costumavam fazer nas noites dons fins de semana. Mas não. Surpreendentemente não era nenhum deles. Era Roseanne Park.

— O que você tá fazendo aqui? — perguntei imediatamente, franzindo o cenho.

Ela suspirou e terminou de entrar no meu quarto, fechando a porta com cuidado para não fazer muito barulho. Sem dizer mais nada, apenas se aproximou e sentou no chão à minha frente, me olhando com veemência.

— Eu vim conversar com você — sua voz saiu quase num sussurro, e seu olhar tinha tanto desespero que eu senti dó.

— Achei que você tivesse me dito pra te esquecer, pra te deixar em paz — relaxei os ombros. Ela correu o olhar pelo meu violão — Então, vou te perguntar mais uma vez, Rosé, o que você tá fazendo aqui? Me pegando de surpresa, ela tomou o violão da minha mão e o posicionou em seu colo, colocando-o na posição correta para tocar.

Fiquei ainda mais surpresa quando Rosé de repente começou a tocar uma melodia que não demorei para reconhecer como “Vila la vida”, do Coldplay.

— Não sabia que você também tocava — comentei tentando conter um sorrisinho, mas falhei.

I used to rule the world seas would rise when i have the word now in the morning I sleep alone sweep the streets. I used to own... — cantarolou baixinho de acordo com a melodia das cordas, e percebi que, além de tocar perfeitamente bem, sua voz ao cantar também era bastante gostosa, suave.

Seus olhos desviaram das cordas e buscaram os meus, e quando ela notou que eu a encarava embasbacada, suas bochechas automaticamente queimaram. Mais uma vez eu tinha cara de idiota.

Chaelisa • A falsa realidade de Roseanne Park.Onde histórias criam vida. Descubra agora