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[Park Jimin]

A luz amarelada que refletia parecia queimar meus olhos, o suor se formava na minha testa e no meu bigode enquanto eu ainda permanecia debaixo da coberta.

Já era dia outra vez e mais um dia para ir atrás de um emprego.

É normal que as pessoas não tenham tanta confiança em um enfermeiro recém formado, mas é um absurdo 3 portas na cara em um único dia. Ontem eu fui chamado de fracassado em dez idiomas diferentes. E eu já estou entrando em desespero.

A minha ex paciente fixa faleceu há dois meses, ela já tinha oitenta e quatro anos e já era uma paciente paliativa, pois seu câncer no fígado era um estágio deveras avançado e o tratamento não surgia mais nenhum efeito. Fiquei cuidando dela por um ano e meio, os familiares não tinham tempo para cuidar dela e a idosa já era viúva, ou seja, completamente sozinha. Senhora Shin era uma mulher invejável, mesmo estando no estado em que se encontrava, se acabando aos poucos, ela sempre mantia o sorriso no rosto e aquele bom humor que fazia qualquer um rir.

Senhora Shin era muito de bem com a vida e eu gostava muito mesmo de tê-la por perto todos os dias. E a família dela me pagava bem, só que depois que ela faleceu, não tinha mais ninguém da família que eu pudesse cuidar, então fui dispensado. Consegui tirar quase um mês de férias, depois que me formei, não tive mais tempo de sossego. Eu até poderia recorrer a minha família, mas sabe como é né, você só vale o que tem.

Meus pais foram morar na Suíça há dois anos e meio e eu disse que ficaria bem sozinho, alguns familiares daqui prometeram que cuidariam de mim, mas só podemos confiar em uma promessa quando a cumprem, o que não foi o caso deles. Não quero ter que pedir ajuda aos meus pais, quero mostrar a eles que sei me virar sozinho e não preciso mais está debaixo da asa deles.

Eu até tenho amigos, mas eles são tão ocupados, que nossos encontros se tornaram reduzidos desde o fim da faculdade. A vida adulta nos deixa sozinhos, chatos e sem graça. Olhando meu reflexo no espelho, enxergo a prova viva disso tudo.

-Caramba, Jimin, você tá deprimente--suspirei, vendo a minha barba por fazer devorar a pele do meu rosto--tenho que fazer essa barba urgente.

Coloquei a água do café para ferver enquanto fui escolher a roupa que eu iria vestir para ir ao supermercado. Minha geladeira só tem água e luz, uma perfeita combinação para realizar uma fotossíntese. E é melhor eu ir cedo, porque lá se sabe se alguém vai me chamar para uma entrevista repentina.

TaeHyung, meu melhor amigo, me chamou para ir à uma balada na sexta-feira, confesso que estou meio tentado a ir, acho que vou morfar em casa caso eu fique mais tempo por aqui.

Depois de tomar um banho de preguiçoso, tomei apenas uma xícara de café e desci as escadas -não por opção, mas por falta de um elevador mesmo - do prédio para poder ir ao supermercado.

-Bom dia, senhor Jael!--falei para o porteiro.

O homem de meia idade, de pele bronzeada, me lançou um sorriso sincero, marcando suas linhas de expressões que compõe seu rosto.

-Bom dia, menino Park--se levantou da cadeira com um pouco de dificuldade--chegou umas cartas e uma encomenda para você.

-Ih Jael, as dívidas eu dispenso, mas a encomenda eu pego quando eu voltar, muito obrigado.

Ele riu e balançou a cabeça.

Não é como se nada que tivesse alí fosse de extrema urgência, hoje em dia as pessoas usam o telefone pra se comunicarem mais rápido.

Entre escolher legumes e frutas, eu prefiro mil vezes as frutas. Legumes me dá ânsia de vômito. Mas eu mesmo não os suportando, preciso comê-los para me manter forte quando eu precisar entrar na minha rotina imersiva de enfermeiro.

E o vento me levou até você - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora