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Nem tudo que queremos podemos ter em nossas mãos. Eu sempre desejei um emprego dos sonhos, e hoje, já formado, mesmo ganhando bem, eu me sinto frustrado, decepcionado e angústiado. Não sei muito bem como me comportar e seguir com esse acúmulo no meu peito.

Quando eu era criança, fiquei sonhando com um tênis rosa que vi na vitrini de uma loja, minha mãe disse que não poderia me dar aquele tênis pois todo mundo ia me chamar de menina. Eu fiquei bravo e não entendi a força daquelas palavras. Juntei o meu dinheiro da mesada, voltei a aquela loja e comprei aquele par de sapatos rosa bebê. Eu tava tão feliz, que quis sair da loja já calçando aquele tênis. Ao pisar na rua, todo mundo me olhava como se minha roupa estivesse rasgada ou como se eu estivesse pelado. Não entendi o que estava acontecendo, então eu segui como se não houvesse nada.

Até que eu esbarrei em um velho chato que estava com o filho dele. Ele me olhou de cima a baixo e disse:

-Sai da frente bichona.

Fiquei tão enfurecido e gritei: -Eu sou um menino, seu velhote.

Me senti tão radical e ao mesmo tempo tão sujo, que na primeira lata de lixo que vi, vomitei. Estava chateado com aquela situação que não deveria ter acontecido. E então eu pensei nas palavras de minha mãe, será que eu deveria ter escutado ela?

O mundo é cruel, e ninguém está disposto a sorrir e estender a mão para ninguém.

Eu passei bons tempos sem usar aquele tênis outra vez, até que eu entendi que uma cor não me definiria, e se eu ficasse atento à opinião dos outros, eu quase nunca iria fazer o que eu realmente queria. E foi assim que decidi ir para a Enfermagem ao invés de ir para o Direito como o meu pai.

A governanta Ko me entregou toalhas e lençóis para a cama, todos bem limpos, com cheiro de amaciante.

Já o cheiro do antisséptico me deixava enjoado naquele quarto. Apliquei as mediações de JungKook no horário certo e dessa vez, decidi não passar aquele óleo de girassol nas costas dele. Só limpei, pois parecia que estava melecado demais e não seria necessário passar mais alguma coisa alí.

-Espero que suas costas melhorem logo--digo--isso deve doer.

Ele estava com os olhos abertos, vi suas pálpebras tremerem, como se ele quisesse fechar os olhos, mas não tivesse forças naquele momento.

-Você...você quer me dizer alguma coisa?

E então o silêncio permaneceu.

Preciso de cafeína pra estabilizar o meu estado mental. Eu realmente não sei se estou no meu estado mais são.

O dia passou rápido, tão rápido que nem percebi que fiquei sem almoçar quando tive que ajudar o latagão Hyunwoo a tirar uns móveis velhos cheio de cupim para o lixo.

Quando terminamos toda aquela mudança, já estava anoitecendo. Era hora dos remédios de JungKook. E quando eu fui conferir as medicações, percebi que ficou uma das ampolas de manhã na bandeja.

-Puta merda...--sussurrei, tampando a boca logo em seguida.

Fechei os olhos com força, rezando para todos os Deuses existentes que aquilo não tivesse nenhum efeito negativo.

-Foi só um remédio Jimin, isso não vai mudar nada--tentei me convencer daquela mentira.

Coloquei a ampola do remédio dentro do bolso do meu pijama médico, ninguém pode saber desse deslize, se não eu que saio deslizando pro olho da rua.

Preciso descartar isso longe dessa casa. Suspirei, reuni as doses de remédio que eu teria que dar e me dirigi até JungKook para fazer a aplicação.

-Você deve tá cansado de ser medicado tantas vezes--deixei o meu pensamento falar mais alto.

E o vento me levou até você - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora