tears.

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𝖂here you go, i’m going

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𝖂here you go, i’m going

Segurava o pescoço dela abaixo d’água. Sentia a ardencia raivosa de quando as unhas se cravaram na pele e carne de seus braços, lutando para voltar para à superfície, mas Will não permitiu. Ele a forçou ainda mais, rangendo os dentes, com lágrimas turvando sua visão.

Lágrimas que doiam, feriam e lavavam. A superfície tão pacata do lago de agitando numa melodia desesperada, mas ela não podia gritar. Graham garantiu que não. Tudo que ele via, eram os olhos desesperados o encarando, clamando. As bolhas de ar subindo quando os pulmões dela não suportaram mais segurar o fôlego. Quando permitiram que a água entrasse.

Ele não sabia porque ou como. Só sabia que tinha que fazer aquilo. Era como tinha que ser. Estrangulou um grito de sair; o manto negro do luto em sua mais pura forma. O azul profundo das íris de Alana perdiam brilho, vidrados em seu rosto, conforme suas mãos também desistiam. Suas forças à trairam. E tudo pareceu menos caótico quando ela enfim permitiu-se ao abraço da morte. Will a soltou, tremendo de maneira quase convulsiva.

𝕾o jump and i’m jumping

Foi aí que enfim abriu os olhos, puxando o ar com muita necessidade, num impulso primitivo de se sentar, suando frio na cama, os cabelos grudados à testa. Um pesadelo. Mesmo com o próprio pescoço livre, tudo parecia muito rarefeito.

─── Quem você viu? ── A voz de Lecter foi como uma ancora para trazer uma parte sua de volta à realidade, não esperando que ele estivesse acordado.

─── Que horas são? ── esfregou as mãos frágeis pelo rosto gélido.

─── É de madrugada, você demorou consideravelmente para acordar. ── O terapeuta explicou, se sentando também, segurando seus pulsos afim de afastar suas mãos, numa tentativa de vê-lo. ── Estava se debatendo bastante. 

Will quase se esquivou do toque por reflexo, ainda assustado, mas não o fez. Havia muitos fantasmas sentados à sua cabeceira todas as noites. Alguns desses impossíveis, os que seguiam vivos soando muito piores do que os mortos. Tinha aprendido à conviver com eles. O acompanhavam do café da manhã ao sono, leais de maneira comovente.

Mas faziam alguns meses que ele não acordava por conta disso. Não assim. Talvez fosse algum tipo de premonição. Os momentos de paz distorcida que criaram estavam contados. Hannibal também sabia disso, embora estivessem deliberadamente ignorando essa realidade.

𝕾ince there is no me without you

─── Alana Bloom. ── O nome saiu sussurrado, quando teve coragem para encarar Hannibal novamente. ── Eu a matei no lago.

Por um instante, foi como se ouvisse Lecter perguntar como foi. Como se sentiu. Como acabou. Ou talvez só sentisse uma vontade esmagadora de contar à ele.

─── Alana não está aqui, Will. Nunca estará. ── É o que Hannibal responde, sabendo que terá suas respostas sem sequer questioná-lo. ── Deixe-a morrer em suas memórias, como os outros.

Graham inspira devagar, absorvendo o conselho. Suas mãos estão mais banhadas em sangue do que jamais seria capaz de limpar.

─── Os mortos se tornaram fáceis de lidar. ── Eles estavam enterrados, descansando. Assim como Abigail se juntou à eles.

Há algo como empatia ou compaixão surgindo no olhar de Lecter, e não é  destoante como deveria. Sempre houve muito disso ali, em muitas instâncias. Mas sua visão de mundo e a maneira como a gerenciava eram completamente diferentes e incompreensíveis. O tornaram coisas que serviriam anos de estudos à muitos especialistas da área.

𝕾oldier on, Achilles

─── Então mantenha-nos nas sepulturas. ── O psiquiatra sugere com naturalidade, desprendendo alguns dos cabelos umidos de seu rosto. ── E pare de guardar os vivos nos armários.

Eles se olham em um silêncio repleto de entendimento, e Hannibal não acrescenta mais uma palavra sequer, até que mesmo o barulho alto da respiração do ex-agente se acalme. Graham comprime os lábios, impedindo-os de tremer, e então assente.

É ai que o loiro o puxa para aconchegá-lo em seu ombro, com uma caricia suave em sua nuca. Contrário ao seu pesadelo, não há lágrimas ali, ele as sufoca, não importa como seus ombros indiquem o contrário. Nem por isso ele reluta contra o gesto.

Ao invés disso, Will segura a camiseta de Hannibal pelas laterais, com tanta força que os nós de seus dedos embranquecem, o mantendo por perto. Não há culpa alguma em seu coração em se confortar naquele abraço pelo resto da madrugada, sem que precisem dizer nada. Não tem porque existir.

Quando se está andando descalço no inferno, é impossível não apreciar companhia. Ainda que seja o diabo à te estender a mão.

𝕬chilles come down

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