hannibal.

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𝖂hen the sun sets, we’re both the same

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𝖂hen the sun sets, we’re both the same

Hannibal Lecter não é um homem normal. Pode ser até que algumas discussões coloquem em pauta como questionável o fato dele ser realmente um homem. De qualquer forma, o psiquiatra sempre afirmou com muita certeza que era são, mesmo após ser preso.

Os jornais gostavam de dar palpites. Muitas dessas teorias mal embasadas que saíam da cabeça dos escritores sem que tivessem chego perto de ver. Ninguém jamais chegou, o que talvez seja o caminho mais benéfico às suas noites de sono.

Se eles não podiam lidar com a superfície, se perguntava como sobreviveriam à estarem embrenhados naquela mente tortuosa, sufocando em vinhas, espinhos fundos na pele, gritos e choro e sangue banhando as paredes, incapazes de fechar os olhos. Estáticos por entre os troncos gélidos e perversos de uma figueira-estranguladora.

Quanto à Will? Ah, mesmo com raízes se criando ao seu redor, Will não acha que seja capaz de reduzir as várias camadas, nuances e aspectos horríveis dele em um único termo sofisticado. Não quer dizer que ele já não tenha pensado em alguns. Muitos deles. Preencheria todas as prateleiras de livros do antigo consultório de Lecter com listas e mais listas, só para se dar conta de que no fim, palavras nunca deixariam de ser só isso. Palavras.

Il Mostro. O reflexo de Narciso em seu lago. Achilles que poria Troia abaixo, pelo desejo e poder de tê-la junto à Patroclus. Uma xícara jogada por curiosidade no chão da cozinha, que jamais se juntaria. Midas, cujo aquilo que toca se transmuta. A doença que beijava sua testa vestida como cura. Um cervo negro e exuberante que andava pelos seus sonhos. Uma equação de viagem no tempo perdida em um caderno velho.

Em termos mais abrangentes e menos tendenciosos, Hannibal era quem era.

𝕳alf in the shadows

─── Me empreste um pensamento. ── O analista é quem quebra o silêncio dessa vez.

Lecter está concentrado em traços e linhas de grafite no papel. É a arte menos destrutiva capaz de nascer de suas mãos, mas ela não se abstem de atingir. Graham não reconhece nada, mas tem uma sugestão silenciosa cada vez que o lápis cria um novo contorno.

─── Bella Simonetta.. ── Os mirantes escuros vem em sua direção, procurando por algo, onde não se demoram. ── Botticelli a amava, mas ela morreu antes de ficarem juntos, casada com outro.

Will se apoia silenciosamente à ponta da escrivaninha espaçosa onde Hannibal segue seu trabalho, mas não chega a se sentar ali. O nome era familiar muito vagamente. Entretanto, mesmo que fosse o caso de se lembrar com clareza, ele quer ouvir.

─── Uma demonstração sublime dos sentimentos que nutria por ela, sufocados e impedidos de crescer em sua magnitude. ── A história segue, fluida e melancólica. ── Uma memória preciosa e quase sagrada, que se tornou tudo que Botticelli tinha. A ruína de seu coração. Incapaz de deixá-la, ele continuou à pintá-la em várias obras, até o fim.

𝕳alf burned in flames

Graham enfim é capaz de se recordar. Procurando bem, existiria uma grande quantidade de artistas cujos caminhos no amor terminavam de forma trágica ou minimamente dolorosa. A paixão de Botticelli trazia a beleza distinta às suas pinturas, por mais longe que seguisse de poder se concretizar um dia. O sentimento tão comum, mas que nunca se repetia igualmente à todo mundo. Cada um só é capaz de interpretar aquele que vive e vê. Que lhe dói.

Will sabe, porque seu mundo todo gira entorno disso agora. O que fazer com isso? Ele não pergunta mais, nem a si próprio, a resposta à essa altura seria irrelevante como jamais foi.

𝖂e can’t look back for nothin’

O desenho se torna mais nítido, as curvas sinuosas formando cachos inconfundíveis. As íris azuis de Graham sobem novamente, encarando às de Hannibal. Assiste um sorriso pintar os lábios dele, indecifrável. Um dejavu forte, em circunstâncias paralelas. Um oposto acentuado de quando tiveram uma conversa parecida, mas o que Lecter queria dizer seguia intocado e imutável.

O terapeuta não via problemas em repetir das mais diversas formas, quantas vezes fossem necessárias. E tudo bem, porque William ficava cada vez melhor em metáforas, entrelinhas.

─── Você. ── Finalmente confessa, como um segredo íntimo e sincero. ── Meu pensamento é você.

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