Capítulo 2

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POV Aaliyah

Seattle. A cidade em que a CIA jura estar mantendo Cruz Manuelos em total sigilo do mundo. Até poucos dias atrás ela realmente estava longe dos meus radares, mas não se pode fugir pra sempre de que tem muito dinheiro. Enquanto os homens de meu falecido pai trabalhavam na localização dela, eu imaginava todas as coisas que poderia fazer quando a encontrasse. Confesso que no fundo, bem lá no fundo, me sentia nervosa e ansiosa para vê-la novamente, mas não como era antes de tudo isso. Se antes esses sentimentos eram apenas relacionados ao amor que comecei a sentir por ela, agora também estão presentes a vontade de me vingar dela, de fazê-la sentir a mesma dor que senti quando fui buscá-la na cozinha e encontrei um assassinato duplo.

Olho para o teto desse quarto de hotel. Bem parecido com o quarto em que fizemos amor como se nosso mundo inteiro fosse restrito àquele ambiente. E é lembrar desse momento que me faz questionar se Cruz realmente é capaz de fingir tão bem. E nem é só sobre sexo que estou falando. Muito além de todo o tesão que nos rondava, eu consegui sentir o quanto aquela mulher estava se entregando a mim. Como é possível alguém fingir sentimentos tão reais? Sentimentos que consegui perceber através de seu olhar. Bom, pelo visto Cruz consegue. Me usou como uma marionete, e eu caí em seu jogo sem pensar duas vezes.

- Senhorita? - Malik me chama pela escuta de comunicação

- Diga Malik, ela saiu do apartamento?

- Sim, indo em direção ao centro da cidade, não se preocupe que cuidaremos de tudo. Em qualquer lugar que ela pretenda ir teremos um infiltrado para capturá-la.

- Quero ir junto - falo com afobação - para ter certeza que é ela. Estou indo em direção a saída do hotel, finja normalidade, e não que é meu segurança. Não precisamos da CIA por enquanto.

[...]

Subornar o barman foi fácil. Americanos se vendem por toda merreca. Bastou 300 dólares para que aceitasse colocar o sonífero no whisky de Cruz. Enquanto isso, eu a observava em uma mesa distante. Ela estava diferente. Sem hematomas visíveis, cabelo mais curto do que me lembro. Não pude deixar de soltar um risinho ao perceber que a música no ambiente representava um pouco nossa história. Quando vejo Cruz começar a beber seu segundo copo me aproximo rapidamente dela. Já estava meio zonza, então se eu quisesse dizer oi tinha que agir rápido.

- Sentiu minha falta, Zara? - sussurro em seu ouvido, e imediatamente vejo seu corpo adormecido cair - bons sonhos, Bela Adormecida. - aceno para Malik e os outros homens a levarem para o carro, propositalmente estacionado atrás do pub. As poucas pessoas no ambiente nem parecem perceber toda a ação, talvez já bêbadas ou talvez sem interesse nenhum em procurar saber por que uma desconhecida era carregada adormecida para fora.

[...]

POV Cruz

Sinto minha cabeça pesar e dor para um caralho. Enquanto tento me lembrar o que aconteceu, sinto minhas mãos e calcanhares muito bem amarrados. Se não fosse mais uma sessão de tortura fodida organizada por Joe, eu estava muito lascada. Aí me lembro das últimas palavras que ouvi antes de apagar e aí tive certeza que dessa vez Joe era inocente.

- Aaliyah - sussurro fracamente, meu corpo ainda tentando acordar - Aali-Aaliyah.

- Vejo que acordou da soneca. Como se sente Zara, ou melhor, Cruz? - Aaliyah, que estava atrás da minha cadeira, surge no meu campo de visão. Dois meses sem vê-la. Droga, que mulher linda. Provavelmente vai me matar, mas não posso evitar sentir meu coração bater mais forte ao olhá-la. - Deve estar se sentindo atordoada, sem saber se é real, não é? Assim como me senti - puxa meus cabelos fazendo-me olhar nos seus olhos.

- Aaliyah eu... - começo a falar

- Silêncio, ainda não é seu momento de falar - me dá um tapa, confesso que a patricinha sabe como bater em alguém - sabe Cruz, nesses dois meses fiquei imaginando o que faria quando te achasse. Você é uma traidora de merda e traidores merecem morrer. - reparo no revolver engatilhado em sua mão

- Me mata então, eu não vou fugir de você, não mais. Se isso vai te fazer se sentir melhor, me mata - digo tentando não deixar minha voz falhar. Recebo outro tapa, mais forte - desconte sua raiva em mim, eu mereço Aaliyah.

- SILÊNCIO. Não quero ouvir suas mentiras nunca mais - faço um leve aceno com a cabeça - deve ter sido muito divertido pra você e seus amigos rirem da minha cara, não é? Tão ingênua, uma menina muito fútil para perceber qualquer coisa. - encosta o cano do revolver em minha testa, e dou um leve sorriso, eu realmente não importo de morrer em suas mãos. - Você ousa rir da minha cara com uma arma apontada pra você?

- Eu já falei, me mata. Mas acho que você não tem coragem de me matar, caso contrário já teria feito. Eu fui uma filha da puta com você, mas você sabe que eu te amo, que você me ama, e isso te impede Aaliyah.

- Você não ama ninguém, não me venha com isso. Mas tem razão, eu não consigo te matar, mesmo desejando isso. Mas não se preocupe, tenho vários homens pra isso. - no momento em que Aaliyah tenta sair daquele quarto, até modesto para seu padrão de vida, percebe a porta trancada - Malik, destranque a porta, não há perigo de fuga. - fala após desbloquear seu microfone.

- Creio que isso não seja possível senhorita. - seu tom era de deboche nos pequenos auto-falantes, Aaliyah franze a testa.

- Como não será possível? É UMA ORDEM! - e então ouço a voz de um árabe desconhecido por mim.

- Cunhadinha, não aprendeu ainda que mulheres não exigem nem ordenam nada a um homem? Então, já que reencontrou sua amante, precisam de mais um tempinho sozinhas. Vocês desonraram o nome de meu irmão, e vão pagar muito caro por isso, você e essa assassina. Enquanto Alá não pune vocês porcas mundanas, eu punirei.

- Mohammed? - Aaliyah vacila em sua voz - Como é possível?

- Você pode ser bilionária, mas é mulher. E bem valiosa por sinal. Seus homens sempre trabalharam para seu pai e Ehsan, agora para mim. Aproveitei seu planinho ruim de achar a americana para conseguir pegar as duas. Me poupou trabalho, como uma boa mulher servindo ao homem. Depois de matar a americana, eu me vingarei de você, Ehsan se sentirá justiçado no paraíso. Me aguardem. - então o áudio fica mudo.

Nunca pensei que diria isso, mas espero que a porra do meu localizador ainda esteja em mim e funcionando. É uma merda, mas precisamos da equipe Lioness.


Cruz e Aaliyah: o depois da Operação LionessOnde histórias criam vida. Descubra agora