Entrevista com o vampiro

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Antes de acordar, Younghoon ouviu vozes não tão distantes, uma delas pertencia a Juyeon. Mas nada podia assimilar do que era dito. Sentia o corpo girando enquanto acordava, e quando recobrou seus sentidos notou que estava numa sala escura. De cara com uma mesa. Uma adrenalina inexplicável atingiu seu corpo e ele se pôs sentado, mas a dor de cabeça foi o suficiente para impedi-lo de gritar ou correr. Quem o levou para ali? O coração de Younghoon esmurrou seu peito por dentro até que viu Juyeon, no outro lado da mesa. Apesar de suas condições claustrofóbicas, ele se acalmou ao ver o olhar negro de brilho aperolado.

Juyeon parecia mais calmo, o que era estranho. Seu sorriso também tinha sumido e um semblante preocupado emoldurava-lhe o rosto. Ele se debruçou na mesa e mostrou o gravador entre seus dedos longos num movimento calculado. Parecia ter esperado até que Younghoon acordasse para fazer isso. Assim, sua voz ressoou, imponente.

- Não vou deixar que faça perguntas para mim. Afinal você não faz ideia com que está se metendo. - Foi o que ele disse antes de ligar o gravador. Não deu chance para Younghoon se manifestar, logo sua voz rouca preenchia em bom tom a sala escura e abafada. - No dia 5 de abril de 1998, eu Lee Juyeon, morri. Não foi uma morte comum, foi uma morte divina. Eu escolhi me tornar um imortal e tomei sangue de outro vampiro. Um amigo. E ele havia feito o mesmo em seu tempo como mortal.

Younghoon estava paralizado. Parte de si sentia a morte se aproximar, mas a outra o mantinha como estava - todo ouvidos. Seus olhos não desgrudavam dos lábios de Juyeon. Lentamente eles lhe contavam a verdade. Lhe contava o que ele queria ouvir.

"Não se engane, vizinho. Não foi pacífico como nos filmes e ainda não é. Eu deveria ter passado quinze dias de sofrimento lento, dilacerante. Uma febre que me tomou o corpo inteiro e me queimava cada vez mais forte de dentro para fora e se transformava em fome... Eu devia ter passado por isso, era o preço da imortalidade plena. Mas como deve saber, eu não consegui."

Ao final de sua frase, Juyeon sorriu, autodepreciativo. Younghoon, arrepiado, se ajeitou na cadeira, mais investido na fala alheia do estaria por qualquer filme de mistério. Apesar da perplexidade, não ousou interromper.

"Na madrugada do dia 15 de abril eu precisei me alimentar da primeira pessoa que encontrei. Foi como uma montanha russa de sensações. Primeiro eu me senti como um animal, completamente cegado pelos meus instintos, derrubei tudo o que achava que ia me conter. Então, quando me dei por conta, estava bebendo o sangue daquele homem... Não me diga que está aqui por causa dele..."

Juyeon esboçou uma expressão de desdém. Younghoon se recordou que o homem morto havia sido um criminoso cruel. Mas nunca havia sido a morte dele que impulsionou o jovem repórter a estar onde estava agora.

- Não - Os olhos de Younghoon brilharam em concordância ao desdém alheio - Continue, Juyeon. Por favor.

- Ótimo - Juyeon reposicionou o gravador na frente dos lábios umedecidos e encarou o Kim com as pálpebras baixas - pois eu nunca me senti tão bem. O sangue quente dele me preencheu, lavou minha pele da febre que eu senti durante aqueles dez dias de tortura.

Ele sussurrava e Younghoon sentia o coração palpitar, não com medo. Revivia a imagem da língua de Juyeon pulsando entre seus dedos rubros. Precisou desviar o olhar, pois se sentiu exposto, submisso às palavras do outro. Pressionou os joelhos por baixo da mesa e tomou fôlego, pois o vampiro não tinha terminado de sussurrar com aquela voz sedutora.

"Eu me senti belo e completo. Desejei que mais alguém estivesse olhando para mim. Mas é claro que isso me traria problemas, não é?"

Mais uma vez Younghoon sentiu o chão sumir e em seu peito o medo voltava a dar as mãos com a curiosidade, formava uma dor gostosa, quase como se pudesse compreender o desejo que lhe era descrito. Não apenas compreender, mas se identificar. Juyeon parecia se deliciar com as reações de Younghoon, seus lábios estavam sempre sendo umedecidos por sua língua.

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