Um estranho no ninho

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O sono e a fraqueza venceu Juyeon por enquanto. Após perder o fôlego com o beijo dele, Younghoon o viu se levantar e caminhar meio tonto até a porta do próprio quarto. Ele agia como um poderoso animal noturno que precisava retomar suas energias durante o dia para funcionar plenamente. Suas maneiras eram apaixonantes.

- Deite-se comigo - Juyeon pediu, tinha os cabelos bagunçados, os lábios ainda úmidos do beijo. Mas ainda parecia aquele gatinho manhoso - Quero que fique por perto enquanto eu dormir, pode fazer isso?

Então Younghoon o seguiu de volta ao quarto e atendeu o pedido alheio. Ficou deitado na cama com ele, envolvido por seus braços e por aquela sensação transcendental que unia seus corpos.

- Onde estão os outros? - Perguntou sussurrando, antes que Juyeon relaxasse de novo. Queria deixá-lo dormir, mas ainda estava louco de curiosidade.

- A metade dorme como eu... - Respondeu o vampiro, preguiçoso, de olhos fechados - Os que sobreviveram a grande agonia da transformação conseguem ficar sempre acordados, conseguem sair no sol, mesmo que incomode...

Younghoon olhou para o rosto inerte de Juyeon e de repente se sentiu ainda muito mais inquieto e curioso. Remexeu o corpo, se juntando a ele, lembrando como o via pela janela em seus dias humanos, sua expressão vulnerável e desconhecedora do olhar do Kim fazia uma chama acender a sensação de poder, mas também a da culpa. Esteve segurando esses pesos e apenas o vampiro poderia aliviá-los de si.

O repórter entrelaçou as pernas às dele e seu coração bateu forte na adrenalina do momento em que ele admitiu.

- Eu olhava você, Juyeon... - Sussurrou com os lábios perto de sua audição - ... Apenas olhava. Eu sei que era errado... Me perdoe, por favor.

- Shh... - Juyeon sorriu com o canto da boca e mordeu o lábio como resposta à fala do humano - Eu sempre soube e estive jogando o seu jogo. Sempre gostei de ser visto por você...

Juyeon lutava bravamente contra o sono para aproveitar o momento, mas sucumbir durante o dia fazia parte de sua maldição. A confissão dele não fez Younghoon se acalmar, em vez disso ficou eufórico, apertou ainda mais o quadril contra o dele. Estava frustrado pelo sono do vampiro ser mais forte que o desejo que ambos sentiam, enquanto isso seus pensamentos imundos o inundavam.

- Quero que você me toque... - Admitiu o Kim - Se não puder, por favor, deixe que eu o faça.

Juyeon abriu os olhos sonolentos, mostrando que estava consciente por um instante.

- Prometa que vai se tocar para mim - e sorriu uma última vez fazendo um curto de reações dispararem o coração alheio. Juyeon fechou os olhos e adormeceu de vez, agora completamente rendido e satisfeito em sentir o outro em chamas ao lado de seu corpo frio. Seus braços continuaram envoltos na cintura do outro.

Com a permissão alheia, Younghoon desfez o zíper e se contentou com a própria companhia enquanto tinha o rosto repousado sobre o peito do vampiro. Ele fechou os olhos e guiou os movimentos da própria mão para aliviar a ardência que percorria seu corpo como um veneno. Depois gemeu baixinho, encarando o rosto adormecido do moreno, perdido nos seus detalhes imortais. Lindo. Divino como seu destino. Seu alívio culminou num suspiro e num espasmo incontrolado. Younghoon se largou e abraçou a si mesmo enquanto se encolhia ao lado de Juyeon.

O silêncio atingiu o quarto, seus ânimos foram controlados. Algo diferente havia acontecido.

A culpa não veio; ao invés dela, o humano sentiu o perdão. Pelo seu passado, pelos seus desejos atípicos, há tanto reprimidos como animais selvagens enjaulados, incompreendidos. Foi como se o próprio Deus tivesse aliviado suas dúvidas. Ninguém poderia entender aquela sensação como ele entendeu naquele instante, ou fazê-lo se sentir menos satisfeito; nem mesmo sua mãe, caso ressurgisse dos mortos e o repreendesse por pensar tamanha blasfêmia. Ter o respeito de Juyeon foi tudo o que ele precisou para exorcizar aquele demônio.

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