Medo e delírio

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Quando Younghoon saiu da sala ao lado de Juyeon, percebeu que ainda estava no cinema e não num sonho. Mas, assim como quando se acaba de acordar de um pesadelo, ele não poderia dizer que horas eram. O vampiro o fez andar pelo corredor, de volta à sala de cinema, ainda que o outro se mostrasse calmo e paciente, Younghoon sentia cada passo pesar. Antes de entrar ali, Younghoon reconheceu algumas vozes de sua memória, as que ouviu de qualquer forma, após ser nocauteado na cabeça. Ele hesitou e encarou o chão. Seus instintos humanos ainda estavam ali, lutando por ele.

Juyeon parou e o esperou, viu suas mãos tremendo.

- Eu vou morrer? Por favor, só me diga logo... Ou me deixe ir. Eu prometo esquecer você e tudo isso.

- Não posso te deixar ir agora - Juyeon respondeu, com uma calmaria quase vulgar aos ouvidos do humano - se você for pode ser pior. Não quero ser responsável por sua morte.

Então Younghoon riu, irônico. Deu um passo de costas, depois mais um. Notou que não seria impedido por Juyeon ao tentar se afastar. Assim, correu. Alcançou a porta da frente e tentou abrir. Trancada. Não havia janelas, apenas as caixas de vidro temperado onde colocavam os pôsteres dos filmes. A adrenalina voltou a correr, a cegar e transformá-lo em um animal irracional. Seus olhos voltavam para Juyeon, buscando a confirmação de que não estava sendo seguido por ele. E não estava, o vampiro apenas cruzou os braços com uma carranca e encostou as costas na parede escura. Ficou encarando o desespero alheio. Esperando, um pouco decepcionado consigo mesmo e com o outro.

Younghoon deu as costas de vez e correu, seguindo a direção que uma placa indicava ser a direção dos banheiros. Ele entrou ali e buscou as janelas. Estavam todas abertas e davam para o beco na lateral do prédio. Um lugar escuro, frio e que cheirava a mijo, parecido com o beco onde Choi Woosuk foi encontrado sem uma gota de sangue em seu corpo. Younghoon paralisou pois não queria fugir, apesar do seu instinto gritar. Era como se houvesse outro também gritando para que ele ficasse. Nada tinha a ver com Juyeon. Era ele mesmo e isso o fazia sofrer. Correu até a porta do banheiro e a fechou; sua garganta começava a doer do nó apertado ali no fundo.

Como podia ser tão estúpido em brincar com a própria vida assim? O que era afinal? Suicida? Agora, no limite, ele pensava naquelas coisas que deveriam ser muito mais importantes que a droga de seu emprego, que suas camisas brancas bem passadas. No momento ele só queria o abraço da tia, uma viagem para o interior, ou uma xícara de chocolate quente. Tarde demais, pois a loucura já o havia feito abandonar qualquer possibilidade e aquelas memórias pareciam frias e distantes como um cadáver enterrado.

Younghoon estava aos prantos, completamente encurralado dentro de si. Ele esmurrou o espelho e berrou um choro rouco e desesperado. Queria morrer, mas seu corpo lutava pela sobrevivência.

Quando a porta do banheiro abriu rangendo, Younghoon pensou em Juyeon. Agora podia ser muito tarde para confiar nele, afinal, talvez fosse outra pessoa ali... Quem seria? Younghoon não quis descobrir. Ele ficou encarando o próprio reflexo como a última vez que olharia para si mesmo. Viu suas lágrimas começarem a secar sobre a pele conforme aquela presença se aproximava pelo canto da visão. Os passos contornaram o espaço e pararam atrás de si, mas Younghoon se espantou ainda mais, pois não pôde vê-lo pelo reflexo do espelho.

Com a visão periférica ele notou que seu cabelo era de cor vermelho vivo e seu rosto se aproximava devagar de seu pescoço. Apenas para parar na metade do caminho.

- Te acertei bem forte na cabeça, né?

Uma voz mais aguda falou antes de cair na gargalhada. Younghoon finalmente se virou e o olhou. Era mais baixo que ele, tinha um rosto redondo e um sorriso que seria fofo em qualquer outra situação.

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