Duas faces de um crime

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NOTAS INICIAIS:

boa noite meus considerados!!

muita atenção aqui para quem tá chegando, antes de eu deixar vocês com a história reitero que essa será especial de halloween então é de se esperar uma escrita mais bizarra do que eu costumo fazer. então, mais que nunca, se atente na classificação indicativa. e se você tem aversão a qualquer um dos temas abaixo, não se desafie, apenas não leia.

⚠️TW: blasfêmia, violência, linguagem imprópria, menção a voyeurismo, menção a exibicionismo, sleep play consensual, blood play consensual, sangue, claustrofobia, autoculpabilização relacionada a perversão sexual, pensamentos suicidas.

boa leitura! kkkkk

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A metrópole, 1998.

Aos 24 anos, Kim Younghoon conseguiu seu primeiro furo como repórter.

Bem, "conseguir" não era a palavra certa a se usar, já que "o furo" tinha pernas e agora se escondia em algum lugar da cidade que ele não tinha certeza ainda. "O furo" também podia ser uma brincadeira de mal gosto ou a coincidência mais terrível que já vivera. Mas Younghoon, no auge da sua lucidez, pôde acreditar nos próprios olhos quando viu o vizinho de apartamento banhado em sangue, lambendo os dedos como se estivesse saboreando o manjar mais raro entre os deuses.

Seus prédios eram paralelos, separados por um beco. Bastava que os dois estivessem na janela ao mesmo tempo para que se vissem. Foi o que aconteceu no dia 15 de abril. Mas Younghoon não pareceu ter sido visto em seu parapeito. Foi deixado sozinho na calada da noite com os gestos animalescos do outro, com a língua roçando entre os dedos, com o seu olhar vago e sombrio. Ele lembrava de ter ficado encarando a janela com uma sensação desconcertante, afinal só se via coisas assim no Halloween. E ainda faltavam seis meses para o Halloween.

Era desconcertante, mas não o dava repulsa. Porquê? Por que era seu vizinho?

Juyeon tinha cabelos negros e um olhar afiado que antes facilmente se convertia para um olhar ingênuo. Ele já era indecifrável antes, com seus livros, a jardinagem, e suas cuecas estendidas na escada de incêndio. Pareceu um cara comum e bem apessoado que o cumprimentava, que guardava seu jornal. Ele era muito bonito, tanto em sua aparência, como no seu jeito de andar, falar e sorrir; deixava Younghoon imaginando que tamanha personalidade não combinava com o cotidiano medíocre daquela vizinhança. Juyeon era para ele um colírio aos olhos, um alívio no peito e o repórter não se surpreenderia se ele pertencesse a um tipo de realidade paralela, ou até mesmo à sua imaginação. Então Juyeon sumiu de sua própria casa, e, entre suas semanas como desaparecido, a noite do dia 15 aconteceu.

Foi como se parte das fantasias de seu vizinho repórter tivessem sido confirmadas. Younghoon se arrependeu de não ter tirado uma foto dele naquele momento em que o viu por último, fosse pelo mínimo do voyeurismo (o que ele não podia admitir para si mesmo ainda) ou pelo, o que ele gostava de chamar, seu instinto documental de repórter. O fez achar que deveria ter registrado todo aquele sangue pintando o corpo de Juyeon.

Mas no dia seguinte, os fotógrafos da polícia registraram um outro corpo perto da ponte.

"Autoridades afirmam que a vítima se chamava Choi Woosuk, de 41 anos, ele era procurado por assédio e tentativa de homicídio desde o ano passado, e foi encontrado nesta manhã num beco, com marcas do que aparentam ser mordidas. O provável ataque ainda está sendo investigado pela perícia".

A priori, todos imaginaram que se tratava do ataque de um cachorro raivoso de grande porte. Mas a polícia divulgou que o espaço entre as marcas das presas era muito estreito e que a investigação apontava luta corporal, indicado pela presença de marcas de unhas menores, mais achatadas. Choi Woosuk havia sido atacado por um ser humano e sangrou até morrer num beco, no meio da noite do dia 15 de abril. Na mesma noite em que Younghoon, insone, lançava os olhos pela janela para ver Juyeon pintado em carmesim.

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