Capítulo 3

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Tinha me esquecido da tradição idiota de comprar bolo para os aniversariantes do mês no trabalho. Sou a única que faz aniversário em agosto e geralmente, mesmo que seja para apenas uma pessoa, todos os funcionários se juntam para cantar parabéns. Óbvio que seria diferente comigo.

— Continuamos esperando, ou é melhor já cortar o bolo? — pergunta Márcia, a moça que faz a limpeza.

— Elas não vão vir — aviso. — É até melhor, vamos cortar!

Minha animação é fingida, mas o sorriso é sincero enquanto eles cantam parabéns. Embora não me sinta animada de verdade, não posso deixar de sentir um afeto muito grande pelas três pessoas que batem palmas sorrindo para mim.

Márcia é quem sempre me conta tudo o que falam de mim, ou as maldades que armam pelas minhas costas. Já Fernanda, é a outra caixa, ela é quem me ajuda sempre que enrolo, ela conversa comigo e não deixa que eu fique completamente isolada.

E Eric, bem, é o Eric.

Assim que corto o bolo, nós quatro ficamos estáticos, olhando para a massa verde, com um creme branco dentro, e morangos.

Márcia lê o nome da caixa umas três vezes, até eu pegar a embalagem das suas mãos.

— Bolo de matcha, é chá verde — explico. — Eu gosto, é a única coisa que minha tia faz que consigo comer. Com morangos deve ser ainda melhor.

Eles franzem a testa e fazem caretas.

— Apenas provem, não vão se arrepender — digo cortando pedaços para servir os três.

— Mesmo que seja ruim, vamos comer e fingir que é maravilhoso — brinca Fernanda, mas ao provar um pedaço que eu sirvo, ela arregala os olhos. — Espera, isso é muito bom!

Eric balança a cabeça, em dúvida.

— Não é horrível como parece, acho que esse creme, equilibra o gosto meio amargo.

É sempre a Liliane quem escolhe o sabor do bolo de todo mundo, então não me admira que ela tenha tentado comprar um ruim, mas falhou miseravelmente.

Nós quatro nos sentamos e começamos uma conversa bem aleatória, sobre futebol feminino.

Meu sorriso aumenta ao perceber que a sabotagem fracassada da minha adorável gerente, não diminuiu o bom humor e alegria do nosso pequeno grupo.

Eric, ao contrário do que se esperava, não só está ansioso pela Copa do Mundo Feminina, como acompanha os campeonatos femininos brasileiros. Ele é tipo um fanático por futebol.

Fernanda já até jogou em um time, mas como a vida adulta não é um morango, teve que desistir, porque não ganhava o suficiente para pagar as contas.

— Pelo menos um esporte você tem que gostar — insiste Eric, que está chocado com o fato de eu não gostar de esporte nenhum.

— Não tem, detesto principalmente os que envolvem bola — rebato comendo o meu bolo.

— Acho muito idiota ficar correndo atrás de uma bola, mas em toda copa, me visto de verde amarelo e fico gritando como maluca com cada lance, sem entender nada — diz Márcia, animada.

— Posso imaginar, você já é maluca sem precisar de nada disso.

— Eu poderia gostar de surf — disparo do nada.

Os três começam rir como as hienas do Rei Leão, mas em vez de baba, estão com a cara suja de bolo.

A porta da cozinha se abre e Liliane nos olha confusa, seguida por Simone, que se espreme perto dela. Paramos de rir e as olhamos, com a mesma expressão de confusão.

Só nos meus Sonhos - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora