Capítulo 6 - Im Ji Hoon

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Encaro o banco vazio, sentindo o coração acelerado e a respiração entrecortada. Com as mãos trêmulas, encosto o carro próximo a guia e tento respirar fundo, para me acalmar.

A verdade é que nem devia dirigir ainda. Também não devia estar trabalhando, mas o que eu deveria fazer? Parar toda minha vida?

Quando o contrato com a minha primeira agência venceu, eu cogitei a ideia. Largar tudo, a música, a carreira artística, bem como todo o passado. Acontece que, depois de passar por essa experiência de estar no palco, diante de uma multidão, emocionando e alegrando as pessoas, sendo amado por elas, é difícil querer largar tudo.

É algo tão grande, tão intenso, que sem isso, não somos nada. Im Ji Hoon, o cara invisível, sem habilidades, sem uma beleza extraordinária, ou inteligência beirando a genialidade, ele não era ninguém.

Os garotos altos, talentosos nos esportes, os primeiros alunos da escola, eles davam orgulho para os pais. E quando os meus se foram, quando ficamos só minha irmã e eu, percebi que me sentiria ainda mais inferior. Agora, além de invisível, eu era órfão.

Fugir da escola por semanas também não ajudou. Ouvia com frequência os meus vizinhos cochicharem, com pena de nós dois, dizendo que estávamos perdidos. Minha irmã chorava e me implorava para que fosse à escola, tinha medo de que me tirassem dela.

As horas que passava cantando no norebang foram muito úteis, nuna viu que eu tinha um talento, que precisava ser lapidado, achou que seria isso que me ajudaria a me recuperar da perda dos nossos pais, e ajudou.

Quase posso ouvir seu tom orgulhoso e animado, contando para as ahjummas que eu era um trainee.

Tanto esforço, tantos sacrifícios e superações, pra quê? Acabar enlouquecendo?

Precisa se recompor Ji Hoon!

Apoio a cabeça no volante e fecho os olhos.

Deve ter uma explicação razoável para isso. A preparação para o lançamento de um novo álbum é sempre muito cansativa. Também tive que voltar a tomar os remédios por causa da ansiedade.

Sinto o pânico tomar conta de mim, minha garganta parece fechar. O aperto no peito se torna quase insuportável.

Meu celular vibra no bolso e eu o pego.

Atendo a chamada sem levantar a cabeça.

— Oi nuna — digo, a voz abafada, mas compreensível.

— Ji Hoonie, está ocupado demais para almoçar comigo? — A voz da minha irmã é reconfortante.

— Estou livre, quer que eu te busque? — me ofereço, ansioso para ver alguém real.

— Ah, sim, vou te mandar a localização. — Ela desliga e solto um suspiro, sentindo um alívio imediato.

Hyunah não consegue dirigir, ficou traumatizada depois de ver as imagens do acidente dos nossos pais. Comigo é diferente, sou perfeitamente capaz de dirigir. O único problema, é a reação que o remédio me causa.

As coisas com Bluefive, meu antigo grupo, não acabaram muito bem. O que começou com um sonho, terminou com traição, dor e sofrimento. Não consegui superar e precisei passar por tratamento.

As crises de pânico e insônia eram frequentes. Os remédios eram a solução rápida que eu precisava, para ficar bem e continuar trabalhando, porque ficar parado me faria enlouquecer de verdade.

Um deles me ajudava a dormir, porém, dormia demais, o outro controlava meu humor. A mistura me fazia ter uns "apagões". Do nada, sem qualquer explicação. Apagava no meio de reuniões, gravação, prática e até ao volante.

Há seis meses, tiramos os remédios, depois de dois acidentes leves e depois de Hyunah entrar em pânico ao descobrir. Ela não suportaria perder o irmão, da mesma forma que perdeu os pais. Eu devia ficar pelo menos um ano sem dirigir, mas como esses incidentes pararam de acontecer, me senti seguro para me sentar atrás do volante, até agora.

Essa garota aparecendo do nada, me causa medo. Mesmo fingindo que posso lidar com esse fenômeno sobrenatural, sei que estou sempre a ponto de enlouquecer. Também sei que preciso lidar com isso sozinho, ninguém poderia entender.

Só nos meus Sonhos - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora