Violeta

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Me mudei para uma floresta negra, suas árvores soltavam pinhas e eram pontudas como alfinetes. Sua madeira era rígida e me deixava exausto com simples cerradas em seus troncos.

O dia era árduo, passava devagar devido a excessiva força feita na derrubada de uma enorme árvore. A noite era fria, os ventos barulhentos que cercavam aquele pedaço de terra coberto por grandes montanhas, arrepiava meus pelos e me fazia adoecer levemente por aquelas seis horas tortuosas.

Com os recursos pegos, pude enfim construir uma pequena cabana, juntamente com um amigo arquiteto. Ele não era um dos mais empenhados, mas não deixaria um amigo de longa data na mão.

Trouxe minhas bagatelas para a cabana, e arrumei em menos de duas horas. Tudo estava pronto, havia uma lareira e pude enfim dormir com o calor daquelas ríspidas chamas.

Caio no sono em plena noite de lua cheia, com as estrelas cintilando como se apresentassem um belíssimo e único show de suas finitas vidas. Em meus mais profundos pensamentos, repouso no colo de uma imagem que também cintilava, era como uma luz inextinguível que a cada novo momento observado, brilhava cada vez mais.

Sua luz não me cega, muito menos me queima. Ela aquece meu peito e apazigua minha conturbada mente. Em uma de suas mãos há uma violeta, ela com seus braços envoltos em mim, deixa aquela púrpura flor sobre meu peito. Tirando minha cabeça de cima de seu colo, ela caminha calmamente para uma árvore longínqua e ao virar-me para acompanhá-la com o olhar, minha visão embaça e sua imagem se torna turva, fazendo com que eu a perca de vista.

Meus olhos se abrem e logo é de manhã. Sou despertado por um inquieto galo e seu cacarejo insuportável. Vou cuidar de minha colheita e ao fazê-lo, vou até os pés da montanha ao lado de minha cabana, lá está um túmulo não muito charmoso ou caro, mas uma simples lápide. Sobre sua casa de repouso, há uma ínfima flor roxa, que mesmo num lugar tão obscuro e que retrata uma pessoa póstuma, tem seu brilho e encanto intactos.

Me aproximo e olho embasbacado para aquela lápide, não foi apenas um sonho, você veio até mim Violeta e deixou-me um presente.

Levo a flor para minha casa e a coloco em um jarro, deixarei ela para sempre ao meu lado. Este pequeno pedaço de ser vivo fará com que ela não seja esquecida, e por isso, será como se nunca tivesse morrido.

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