Passos violentos e apressados ecoavam pela floresta escura que um dia foi contemplada como esplêndida pela linda princesa. As árvores que um dia foram testemunhas do início de uma bela história de amor agora testificavam o desespero de um coração enlutado. A vida se desfez em seu ser no instante em que cruzou as barreiras de seu ser e fez escolhas que a levaram aquele exato momento.
O único feixe de luz naquela noite escura eram os fios quase brancos da rainha caótica. Seu vestido preto enroscava nos galhos cheios de espinhos e deixavam arranhões em sua pele exposta pelas fendas das vestes. Suas pernas já ameaçavam ceder quando os pés trombaram com um tronco áspero que a fez rolar barranco abaixo. Seu corpo bateu com força contra a terra até que encontrasse as pequenas pedras abaixo, próximas a um riacho. Seu rosto encontrou a água revelando a ardência de suas feridas, tanto as que estavam recém abertas pelos eventos da noite quanto as que já estavam em seu corpo a um certo tempo.
Em gemidos e lágrimas sufocadas Eliah obrigou o corpo magro a apoiar-se sobre os braços e colocar-se sobre os seus pés ainda vacilantes. De longe os olhos cristalinos encontraram sinais do que havia provocado para livrar-se daquele sufoco. Já não o tinha, então ao menos buscaria morrer sozinha, sem dar a ele o gosto da vitória de ter o seu pescoço em seus portões, como uma traidora. As chamas provocavam a densa fumaça que era contemplada pela platinada. O último gosto da rainha do Caos ao rei.— Ela deve estar por aqui! — a voz de quem ela achou ser um amigo foi ouvida — o rei ordena que a encontrem e a levem viva. É uma prisioneira, uma traidora que está tentando desertar novamente. Deve ser julgada pelo rei.
As lágrimas escorreram no canto do rosto de Eliah. Estava cansada e o coração estava partido. Estilhaçado pela constante traição e decepção. Pela falta de vida em seu ser. Pela saudade do que antes foi dela. Do que viveu. Por ser a decepção de quem a amou e já não ter mais. Agora não era mais a princesa da luz, era a rainha que encontrou o poço.
Ela havia escolhido seguir o seu coração. Escolheu a sua liberdade e a perdeu. Ninguém a buscou, ela mergulhou naquela ilusão. Entregou o seu coração ao Caos e ele o tomou para si até que ela já não pudesse respirar sem ele. E agora ela estava naquela floresta.
Havia corrido a noite inteira, escondendo-se entre as árvores. Ouvindo com pavor os galopes dos cavalos e os gritos dos soldados que a procuravam. Os latidos dos cães a causava arrepios e ela sabia que assim que amanhecesse eles a encontrariam.
Deu de costas para o barranco que havia rolado um minuto antes e seus joelhos cederam quando ela percebeu aonde estavam. Com desespero chorou, sentindo as lágrimas sufocantes escorrerem, buscando o alívio de sua alma. Quase não conseguia respirar. Não poderia gritar ou a encontrariam, mas era apenas isso que ela queria fazer. Gritar! Estava sozinha. Não tinha uma família, amigos ou o grande amor de sua vida. Ele não estava lá. Seu pai. Ela falhou e Ele a deixou. Não merecia o socorro dEle, mas o seu coração desejava a vida para a sua alma aflita, quase morta. Internamente ela gritou por socorro. Pediu para que Ele apenas a matasse. Que desse logo a morte a ela. Que acabasse com aquela dor que levou a vida de si.
Um grito silencioso saiu do fundo de sua pobre alma revelando o desespero de seu ser. A falta do oceano que um dia saiu de si, mas que agora estava seco. A vida havia cessado e a água secado. Estava vazia e escura. Sem luz, sem vida... Finalmente o puro Caos.https://open.spotify.com/track/0KNvJzxdbslBddN27BEhfm?si=SiPjwn3RSmCPhSCb2XzRTw
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Princesa da luz, Rainha do Caos
SpiritualEla achou ter amado antes, quando era imatura. Com ele percebeu que nem se quer chegou a gostar de alguém antes dele. Foram muitas conversas divertidas. As distrações mais malucas e alegres que poderia imaginar, em um período em que tudo era caos. O...