Princesa da luz, Rainha do Caos

capítulo cinco

   
      Eliah gostaria de se entregar aquele momento, mas a todo momento a sensação de estar fazendo algo errado pesava em seu peito. Parte dela gostava da companhia dele. Queria ficar ali e dançar com ele até a noite cair. Sua porção ávida por descobertas imploraria para que ele mostrasse o que mais seu mundo tinha para oferecer além de músicas diferentes e vinhos diferentes. Eli queria na verdade descobrir porque todos que cruzavam a barreira entre os dois reinos nunca voltavam. Por qual motivo nenhum daqueles jovens pareciam estar se quer perto da escravidão a qual ela ouviu que eles eram submetidos. Pelo contrário, o meio dia nem se quer havia chegado e eles já festejavam. 

   No entanto, havia uma outra parte sua. Essa que sentia um vazio a medida em que pensava o que o seu pai diria caso soubesse que ela havia cruzado a barreira, estava em uma casa de festas e ainda por cima com o herdeiro do caos. O que suas irmãs diriam?! Aquele não era o ambiente no qual ela estava acostumada e, embora desejasse ficar ali com Aaron, não poderia.

- Eu preciso... - tentou explicar em palavras o que sentia, mas foi interrompida por três jovens que se aproximavam dela, com uma dança muito além do que estava acostumada. Invasiva demais. Algo que ela ainda não havia simulado  que sabia que não seria aprovado.

 A princesa seguiu rumo a saída da casa de festa sendo seguida por um príncipe caótico que travava uma luta interna. Já o haviam aconselhado a ser paciente. Embora ele desejasse tê-la ali para sempre, sem ter que se esconder entre as árvores. Nem ter que esperar o passar das horas. Não compreendia o fato dela querer voltar para aquele lugar, cercada de regras que ela claramente não gostava, com questões das quais não conseguia compreender. Ela poderia ficar ali, onde viveria ao seu lado despreocupadamente. Era muito cedo para dizer.

- Suas irmãs não estão procurando você, querida - Aaron pronunciou as palavras dolorosas de forma cuidadosa enquanto afastava uma mexa de seu cabelo até a lateral da orelha - sinto muito.

  Cansada de tudo o que havia ocorrido e da triste verdade ouvida Eliah recostou a cabeça no peito do amigo que deixava seus sentimentos confusos. Estava decidindo entre ir para casa ou passar o resto do dia com os jovens do lado de dentro quando um garoto se aproximou deles. 

- Aaron! - o garoto de fio castanhos e cacheados fez Eli se afastar - como você está? Amiga nova?

  O garoto não abraçou o príncipe como algumas pessoas lá dentro, então Eliah imaginou que não fossem próximos, mas teve a impressão de já ter visto aquele homem antes.

- Dan! Estou ótimo - Aaron olhou para Eli - você que não deve estar bem. Nunca o vi passar tão perto desse local. Está sempre na capital. Decidiu curtir a vida?

- Eu curto a vida de outra forma - rebateu o recém chegado - sua amiga também parece deslocada -Dan virou o corpo totalmente para a platinada - talvez esse não seja o seu lugar - era como se ele pudesse ouvir os questionamentos internos dela - bem, também não é o meu - um sorriso triste se formou em seus lábios. Preciso ir.

  Assim que Dan desapareceu de seu campo de visão Eliah solicitou que Aaron a acompanhasse até a floresta e ele não relutou. Os dois seguiram em silêncio até o riacho quando o homem de fios escuros quebrou o silêncio:

- Desculpe ter te levado até lá. Achei que poderia ajudar 

 Ela sabia que a intenção dele não era ruim, parte dela desejou ficar lá, mas não estava pronta para admitir.

- Acho que é a minha vez de dizer que tentaremos em outro momento - sorriu de modo provocativo para ele antes de dar alguns passos em direção ao riacho.

  Aaron não a impediu de seguir o seu caminho, mas ficou observando enquanto ela deixava o seu campo de visão e só se retirou quando teve a certeza de que ela não voltaria.

                                                                                       ....

    Algumas semanas haviam se passado desde a note em que Eliah havia cruzado o riacho e embora sua família não desconfiasse de nada ela não encontrava coragem para ficar mais de alguns minutos na presença de seu pai. 

   Prometeu a si mesma que não voltaria a cruzar as águas divisórias, mas assim fez durante as noites que se seguiram. Não se aproximou tanto das cidadelas do reino caótico, mas as observava do alto das montanhas arborizadas ao lado de Aaron. Os dois fizeram das noites silenciosas da floresta o seu momento. Ela sempre acabava cedendo ao desejo que tinha no coração, voltar para ele. Para os braços dele e para o seu reino que nunca parecia silenciar. Não dormia, estava sempre em clima de festa e diversão. E juntamente com a vontade de visitar novamente a cidade e desfrutar do que aqueles habitantes desfrutavam, crescia o sentimento da princesa da luz pelo herdeiro do Caos.

  Embora fossem inesquecíveis os momentos que passava ao lado dele ela sempre era dominada pela culpa quando deixava a floresta e dizia a si mesma que na noite posterior não voltaria. No entanto, no dia seguinte, pensava nele. E quando a noite caia sedia a tentação de ir até ele e descontar nos braços dele a frustração por não conseguir ser como as irmãs, por não ajudar o seu povo, não estar perto de seu pai, não falar com a irmã, fugir do melhor amigo e ter que lidar com os preparativos do casamento dos dois. Quando voltava com toda a sua carga lá estava ele. Não a aliviava, mas cedia os seus braços e momentos que por algumas horas a fazia esquecer.

- Há uma comemoração - Aaron começou enquanto caminhava ao lado de Eliah rumo o riacho no fim de mais uma noite na floresta - muito especial amanhã. O reino inteiro celebra o nascimento do príncipe herdeiro e...

- É o seu aniversário? - ela virou-se subitamente para ele, visto que já havia passado da meia noite.

- Mais ou menos isso

  Apesar da resposta vaga e incerta sua expressão indicava um assunto no qual não se senti confortável para falar no momento, o que a deixou levemente incomodada por dividir tudo com ele, mas decidiu não tocar mais no assunto.

- Bem - continuou - é um baile de máscaras, durante a noite. Você é a única pessoa que eu não abro mão que esteja lá.

  Os olhos de Eliah se iluminaram. Ela sabia que não deveria, mas ninguém lá poderia reconhecê-la e era o aniversário dele.

- Só não sei se os meus vestidos se adequarão - continuou a andar.

- Com tanto que você esteja lá e use uma máscara pode ir de qualquer forma

- Eu darei um jeito - disse ela antes de cruzar o riacho, tendo uma ideia bastante ousada.

                                                                           ....

  Boa noite, habitantes do reino de Luz... ou de Caos! Tudo bem com vocês? Um pouco atrasada, mas aqui estou. Capítulo novo e eu tenho certeza que vocês não estão preparados para o que está por vir. Enfim, esporo que aproveitem o livro e que estejam gostando.