capítulo um

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A garotinha de fios platinados e vestido branco rodopiava ao som de uma melodia suave em seu quarto. Os pés ignoravam qualquer orientação anteriormente recebida em suas aulas de dança. Estavam apenas sendo livres, algo que a infância lhe proporcionava.

A sensação da pura e singela liberdade era algo vívido na mente de Eliah. Mesmo que agora, aos vinte anos, ela se sentia presa nas expectativas de seu povo. E nas determinações de seu rei e os servos de governo que o rodeavam.

Era uma das oito filhas do rei e como tal deveria ter um talento ou dom que pudesse ser usado para o bem do povo e de sua família. Deveria ser esperta, cuidadosa, destemida... Alguma coisa única que pudesse completar as suas irmãs. No entanto, o único dom que ela encontrava em si era a capacidade de questionar e fazer besteira.

A prova foi a cinco minutos atrás quando ouviu o anúncio de Baruc sobre o interesse em tornar-se noivo de sua irmã gêmea. No seu aniversário! Ela não tinha interesse algum no rapaz até aquele momento. Até perceber que ele foi durante toda a sua vida o seu melhor amigo, mas agora se casaria com a doce Adina. Ela já havia recebido o seu dom e agora teria o grão servo mais novo como esposo. O seu melhor amigo. Aquele que serviu como seu conselheiro durante anos. O ombro que acolheu suas lágrimas.

Baruc e Eliah eram inseparáveis, mas ela não havia notado o interesse dele por sua irmã. Eles conversavam e Adina parecia ainda mais alegre - se fosse possível - ao lado dele. No entanto, a princesa da luz não havia notado. O pedido inusitado causou na platinada uma sensação de desconforto, traição e revolta que a fez simplesmente deixar a mesa do jantar de comemoração do seu aniversário e subir a escada em passos firmes, nada silenciosos, até o seu quarto. Sabia que Ariela tentaria novamente fazer o seu papel de responsável por tudo e ir atrás de sua "pobre irmã de coração partido", então a filha mais nova do rei trancou a porta e dirigiu-se ao terraço, onde de longe encontrou a floresta que dividia os reinos.

O vento noturno bateu contra o seu rosto, deixando uma sensação fria. Se o seu reino era bom, não deveria ter apenas o ar quente e aconchegante? Ou o ar do outro lado era mais frio? Segundo seus tutores, o reino de Caos era sombrio. Cheio de dor. Lá não havia alegria ou paz. Não que ela sentisse isso agora estando no reino de luz. Ela estava no reino que todos julgavam ser bom, mas sentia-se decepcionada, enraivecida, desconfortável... Isso sem dúvidas não significa paz.

- Eliah - não era Ariela.

- Eu estou ocupada - a filha mais nova do rei respondeu

Não achava que o pai se interessaria por seus pensamentos e os problemas amorosos dela.

- Entendo - Ele fez alguns segundos de silêncio - caso mude de ideia é só me chamar, estarei no mesmo lugar... - a voz do rei era pesarosa

Ela não respondeu. Deixou que ele se fosse.

As íris azuladas voltaram para as árvores adiante. Não era impossível atravessa-las. Já haviam feito isso antes. Relatórios chegavam semanalmente do outro lado e ela mesmo já havia se aproximado da floresta antes. Não foi até a sua divisória, mas chegou até a entrada.

Nenhuma de suas irmãs questionava sobre aquele reino ou mostrou algum interesse em conhecer o que havia lá. Eliah precisava descobrir. Iria só até a floresta, mas mais para dentro dessa vez. Se tudo fosse tão ruim e podre como todos falavam, suas árvores seriam iguais.

Se pensasse muito ela desistiria. Rapidamente Eliah se dirigiu-se ao interior do quarto afim de pegar apenas algo que a auxiliasse a descer pela árvore próxima a sua sacada. Os guardas estavam tão maravilhados com o jantar de seu aniversário, que agora se tornará o jantar de noivado do estimado grão servo e a amada princesa Adina, que nem perceberiam sua saída. Sua família não estranharia se ela fosse dormir mais cedo.

Silenciosamente dirigiu-se até o estábulo, esgueirando-se pelas sombras do local até encontrar Estela adormecida.

Princesa da luz, Rainha do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora