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Barbara ainda pensa nisso no dia seguinte e no dia depois desse, e em algum momento ela decide que talvez queira tentar essa coisa de beijar. Se Gloria também quiser, ela pode tentar. A ideia de fazer isso com qualquer outra pessoa lhe soa estranha, mas é mais provável que ela não faça nada com ninguém se isso exigir que ela peça. O que ela aprendeu com a experiência anterior foi que sugerir coisas pode ser estressante.

Ela fica na área segura, esfregando dedos em sessões de carícias, aceitando a névoa das camadas doces do aroma de xampu. As coisas estão bem. Tudo está indo bem, e o pai de Sasha para de ligar para Gloria com tanta frequência. Talvez, ela pensa, ele tenha se contentado com o desfecho.

Existem desfechos aqui também, ou apenas términos?

.

Gloria está de volta ao trabalho.

Seu primeiro dia, na verdade. E ela está a apenas duas horas em seu mundo sem-Gloria quando Sasha entra em pânico acertando o botão uber para Mattel porque Barbara começa a sangrar– depois de uma tentativa de fatiar uma cebola.

O tempo todo, Sasha parece a mãe dela. Barbara não pode dizer que não está tensa, mas está também bastante fascinada com a cor vermelha cereja que brota de debaixo de sua pele. "É exatamente como na TV."

"Não, não é, porque isso é real. Pressione com a outra mão. Está doendo?"

"Eu posso aguentar."

"Aqui, usa meu suéter." Ela se tira da roupa assim que o carro está estacionado em frente ao prédio. "Deixa eu fazer isso parecer melhor. Mamãe vai surtar se ela te ver assim."

"Eu não quero que ela surte."

Sasha amarra firmemente o tecido ao redor da mão de Barbara. "Não foi isso que eu quis dizer, ela não vai ficar irritada. Acidentes acontecem o tempo todo. Tudo o que estou dizendo é que ela vai se preocupar. Você conhece ela. E não faça essa cara. Se você começar a chorar agora, vai ser pior. Você, de todas as pessoas, nunca poderia chatear minha mãe. Você é a... boneca dela."

Uma verdadeira faísca deve ter saltado dos olhos dela. "Sério?"

Sasha lhe dá um olhar afiado, um suspiro passando pelos lábios, e ela está fora do carro com pressa. Bárbara a imita. "Agora parece apresentável. Pareça viva. Eu digo a ela primeiro e depois você mostra."

Parece um plano, deveria ser o plano, mas Gloria está desembrulhando a mão dela antes que Sasha possa falar sobre o corte e sobre o jorrar de sangue em todos os vegetais a mesa. Gloria fica pálida depois de um único olhar, pressionando o tecido de volta contra a pele. Isso dói um pouco. Ela sente um rastro de tontura pinicando em seu crânio duro. "Isso vai levar pontos." Ela aponta Sasha para a mesa dela. "Vá até lá e pegue a bolsa da mamãe, querida. E meu celular também."

"Para onde vamos?"

"Precisamos cuidar disso, certo?"

Barbara assente, aproximando-se do espaço pessoal de Gloria. "Eles vão me dar pílulas para parar o sangramento?"

Elevando o polegar para descansar sobre o rosto dela, Gloria ainda não deixa o tecido afrouxar contra a palma de sua mão. "Tipo isso."

.

"Eu não quero isso, obrigada." Bárbara afasta a mão do enfermeiro, que a alcança de volta, e Bárbara olha para trás dela para ver Gloria do outro lado da sala. "Não deixe que ele faça isso comigo."

"Você consegue. Você é corajosa. Olhe para mim, ok? Olhe aqui, esqueça a mão."

"Não." Barbara balança a cabeça. "Por favor?"

"Venha segurar a mão dela. Ela vai acabar fazendo uma bagunça." O enfermeiro mal-humorado reclama. "Isso deve ser rápido. Diga à Barbie aqui para ficar calma."

"Não fala assim com ela." Sasha diz - rosna de onde ela está na porta, ao mesmo tempo em que Gloria aperta o passo para pegar sua mão, dá a ela um grande e encorajador sorriso. Sasha continua: "Ela está com medo, e você só está piorando as coisas."

"Eu agradeço, Sasha." Barbara segura os dedos firmemente. "Acho que estou pronta agora."

Acabou que cortar uma cebola deixou sua mão em repouso, e ela ganhou comida na boca, e também Gloria se preocupando em ensiná-la a lidar com uma faca do mundo real. Ela gosta de aprender. Ela gosta de como Gloria explica as coisas, não importa o que essa coisa possa ser.

Em algum momento, uma ideia a empurra com uma premissa forte. Se Gloria ensinasse tudo o que Barbara precisa saber, então talvez ela parasse de pensar tanto em como Gloria a beijaria. Como aquelas mulheres na TV. Seria simples e doce? Seria difícil respirar e molhado e bagunçado?

Se ela a beijasse com vontade suficiente, o que aconteceria? Onde a tensão encontrava o alívio?

Sempre há tensão quando Gloria acorda de manhã, seu braço enrolado em torno de Barbara, lábios macios sobre uma pele nua. Ela nunca sabe para onde vai essa tensão quando não está lá, mas sempre volta. É como uma sede, um grande desejo, pulsação de ganância bem entre as pernas e absolutamente maltrata seu peito, brinca com o estômago. Se ela conseguir beijá-la pelo menos uma vez, talvez isso desapareça.

Mais tarde naquele dia, Gloria a coloca sob um conjunto extra de cobertores, mas não se deita com ela. "Eu tenho uma papelada para terminar. Descanse um pouco. Você vai ficar bem, não vai?"

"Sim." Ela concorda. "Desde que não haja cebolas e facas aqui."

"Isso foi fofo." A risada que ela dispara é suave. "Alguém está brincando com você humana na Barbieland, deixando você engraçada." E quando ela avança para beijá-la na bochecha, Barbara vira a cabeça e seus lábios se encontram. Rápido, acidental, eletrizante. Ela dá uma mordida no lábio inferior, e Gloria a olha com um brilho de algo no olho que Barbara não consegue apontar o que é. "E eu acabei de te beijar. Desculpa. Vamos tentar de novo. Você vira para a direita."

Tensão. Aquele sentimento estranho em particular, jorrando como água, tensão latejante. Um rasgo em um tecido fino, é o quão frágil isso parece. Bárbara é rápida em prosseguir, ela é rápida em obedecer, ela é mais como uma boneca se Gloria apertar os botões certos.

Um beijo é pressionado contra a bochecha dela. "Aqui, querida. Boa noite."

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n/a: só mais um capítulozinho e acaba. :(

odeio admitir mas pode ser verdade (barbie/gloria)Onde histórias criam vida. Descubra agora