Querido vazio, dizem que ao te encarar você encara de volta. Tal frase não fazia sentido pra mim antes, mas agora que me encontro imersa no seu olhar, no seu tão frio olhar, faz muito sentido, muito mesmo.
Oh, meu querido, como acabamos aqui? Não lembro-me ao certo de como ou quando nos conhecemos, mas certamente lembro de antes disso. Os raios de sol radiantes que me animavam todas as manhãs, as idas a escola, os péssimos apelidos que sempre pegavam, as doces caminhadas ao anoitecer, chegar em casa e não ver meus pais... Ah, sim. Foi aqui que te encontrei.
Com o seu encontro, veio também o medo. Medo de julgamentos e ridicularizações. Oh, adorável vazio, quantas foram as vezes em que abidquei de alegrias por medo dos malditos julgamentos? Tudo em vão, mas não mais.
Entristeça-se, querido vazio, pois esta não é uma carta desesperada como todas as outras. Essa é uma carta de despedida. Seu tão gélido e cruel abraço, e seu olhar amargurado me fizeram perceber o quão eu não preciso de muito pra ser feliz, e que o medo que sinto é tão superficial quanto as poças de lágrimas por mim antes derramadas.
A vida é linda, em todos seus jeitos e formas, e cabe a mim, e somente a mim decidir como irei aproveitá-la. Não mais sentirei falta dos radiantes raios de sol e das caminhadas ao anoitecer, mas tornarei as noites em sua detestável companhia uma distante memória. Finalmente me verei livre do seu tão amargo olhar, e finalmente eu serei feliz, como devidamente mereço, assim como todas as pessoas neste mundo maravilhoso.
Então adeus, meu querido e amável vazio, pois viverei plenamente, e no fim, partirei sem arrependimentos.
Depois de tanto tempo odiando te ver, hoje sou eu que encaro você.