Não dá pra curar aquilo que não se feriu,
ninguém pode curar a ferida que não se vê,
não dá pra salvar quem já partiu, não dá pra fugir do que se encontra a sua mercê.O dia sobe, a noite cai, nunca o contrário, pois como seria possível a noite subir, ou o dia cair? O ciclo repete, os mesmos sonhos e eu sei oque há por vir.
O mar de sonhos, extravagante e flamejante por escolha própria, me chama. Mesmo sem travesseiro ou uma cama, durmo com medo e acordo cansado, eu não tenho futuro, eu vivo o passado.
Sem sorte, sem salvação, sem pudor. Eu que escolhi ver o mundo em preto e branco, sem amor, mas quando entro nesse mar de sonhos, sinto dor. Eu que escolhi ver o mundo em preto e branco, por amor, mas quando entro nesse mar de sonhos... tanta cor.
Não dá pra curar quem não quer ser curado, não dá pra salvar quem não quer ser salvo, é inútil, em vão, esses apelos desesperados. E para comover por meio de lágrimas, pra explicar por meio de palavras, pra narrar o inenarrável, adiar o inevitável, compensar as lastimas e as feridas mal cuidadas.
Eu preciso um farol, uma luz, uma chama pra levar esse ciclo ao fim, mas como é só meu esse mar de sonhos ensandecentes essa chama tem que vir de mim.
E mesmo assim, ainda estou deitada sem o meu travesseiro, sem paz e com o mesmo sonho ruim. Nem no meu último segundo, nem no fim do mundo, a falta de paz me arreria, destino amaldiçoado e alma sem lar ou melodia. Não há escapatória para as manhãs sombrias.
Só oque resta são as noites frias, na incendiária companhia do mar de sonhos.Meu mar de sonhos. Sonhos ensandecentes que são flashs do passado, passado que eu havia renegado, agora meu futuro está condenado e meu destino, amaldiçoado. Não vejo nada além do mar de sonhos sem-fim, me cansei de ser assim, mas como era pra chama que ilumina a saída vir de mim, se desse mar flamejante eu não consigo ver o fim?
Quem liga pro último segundo? Quem se importa com o fim do mundo? Os fatos não mudaram, nem agora, nem outrora, é previsível, esperado. Não há futuro pra quem vive no passado, e o meu futuro foi condenado por causa do passado. E eu me encontro desesperado, mas o que é fato, é fato. É certo, impossível de ser renegado, assim como meu destino que persiste em ser amaldiçoado.
No fim, nada muda, não há cura pra quem não quer ser curado, não há salvação pra quem não quer ser salvo, não há futuro pra quem vive no passado e sempre, em todas as hipóteses, não há poesia sem um poeta amargurado.