Os raios do sol incomodam o meu rosto e me faz despertar. Não está quente, entretanto. Finalmente começou o inverno.
Nunca foi a minha estação favorita. Como vim de família humilde, era especialmente difícil suportar o frio rigoroso e as tempestades nessa época do ano.
As paredes da casa não eram grossas o suficiente para criar um ambiente aquecido e as comidas ficavam mais caras, muitas plantações não suportavam e animais morriam.
Meu irmão e eu íamos caçar, de preferência os animais que ja estavam fracos, pra não passarmos fome e nem ficarmos desnutridos.
Infelizmente, nem sempre conseguíamos o suficiente. Mas ele sempre mentia dizendo que tinha conseguido bastante e que ia durar por semanas.
Eu descobri depois que, muitas vezes, ele dava o que havia conseguido pra mim e minha mãe. E sempre estampava aquele sorriso como se estivesse satisfeito.
Apesar de odiar o inverno, eu gostava muito do natal. Costumava ser o meu feriado predileto.
Isso porque nos reuníamos com amigos em um abrigo nos dias do feriado. Graças as doações do prefeito e vizinhos ricos que queriam ajudar, sempre tinha muita comida, mais do que eu já tinha visto em qualquer lugar.
Comidas de todas as formas e tipos, parecendo tão suculentas que me faziam salivar.
Era muito bom poder comer o que quisesse sem ter que contar cada grão, e partilhar com pessoas que gostava.
Eu amava as luzes, a decoração, e as músicas cafonas de natal que me deixavam estupidamente feliz e esperançosa, esperando um futuro melhor.
Também recebíamos vários presentes, roupas novas e quentes, então eu podia trocar as que já estavam desgastadas e rasgando.
Eu adorava como nesse dia eu podia esquecer um pouco de tudo e pensar nos meus sonhos e que eles poderiam ser possíveis.
Costumava ser assim. Não há nada pra se comemorar agora.
Depois de um tempo, papai recebeu uma oferta de emprego e nos mudamos pra cidade grande.
Dou um sorriso triste lembrando como eu fiquei animada, achando que meus pedidos de natais tinham sido atendidos.
Suspiro e levanto, deixando uma Flora adormecida do meu lado.
Faço minha higiene matinal e coloco meu uniforme. Ajeito o coldre sem saber exatamente o porquê, já que estou sem arma e não faço ideia de quando vou receber uma.
Quer dizer, eu poderia precisar, sabe? Eu precisei!
Calço os coturnos e amarro os nós, adorando como fica bonito em mim. E por fim, visto o casaco e as luvas e vou em direção ao (inferno) trabalho.
Mesmo toda coberta, assobio quando o frio acaricia minha pele e eu abraço meu corpo enquanto ando o mais rápido possível.
Um grupo de crianças está brincando na neve que começa a se amontoar nas ruas e acabo esbarrando em um garotinho.
Desabo no chão gelado sentada e por pouco não caio direto numa lata de lixo.
- D-desculpa moça. - O garotinho diz.
Seus cabelos são enrolados e ruivos. Ele tem algumas sardas e os olhos castanhos parecem assustados. Suas roupas estão sujas e ele está descalço.
Tem também algumas feridas nos seus pés e no seu rosto. Meu coração se aperta quando percebo que provavelmente é um menino de rua.
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Entre os Dois Mafiosos
RomanceJason e Matteo vivem disfarçados, mas são os dois piores criminosos do país. Arqui-inimigos, sempre competiram por tudo e agora vão competir pelo amor da mesma mulher. Aurora é uma garota bondosa, que ama as leis e a justiça, sempre odiou tudo que f...