Capítulo 11- Ilha Paradisíaca

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Cássio Almeida Walker odiava ser telespectador de uma ocasião a qual ele sabia resolver.

Lidar com certos problemas poderia ser sua maior especialidade, uma vez que análise e paciência se destacavam como seus pontos fortes de primeira. Sem muito orgulho, o jovem baseava uma parte da confiança nesses destaques, aos quais nunca o enganaram.

Mas, por que naquele momento, sentia-se preso à um certo limite como se estivesse entrando num território ameaçador?

Conhecer um pouco à mais tinha cheiro de perigo. Porém, isso vinha de Ayla Albert, a funcionária mais nova do estabelecimento administrado por seu pai. Como uma garota tão educada e gentil estaria envolvida numa lã de retalhos embaraçosos formulados por pessoas que, ao invés de cuidarem e lhe acolher, estariam sugando toda sua vitalidade com métodos abusivos?

Recentemente, Cássio ouviu por alto comentários à respeito da família de Ayla e em como a senhora Lúcia tinha um péssimo temperamento com a primogênita. Além disso, suposições sobre o padrasto estar sendo violento entre outros pontos sensíveis de discursão que rodeavam a casa sob qual a garota vivia. Bem como ver, dia após dia, o quanto aquela menina era esforçada em aguentar um emprego que exigia tanto de seu corpo e emocional, sob ordens e tarefas desgastantes, quando poderia estar atuando em outro local de melhores condições para seu futuro.

Houve breves diálogos onde os dois comentaram suas perspectivas sobre o desenvolvimento de seus planos pessoais. E ficou notável que havia um desgosto na voz de Ayla ao tentar explicar como estava se sentindo diante dos mínimos avanços em que sua vida progredia. Cássio tentou animá-la, aconselhando de que tudo havia um tempo para acontecer.

"Ser alguém esperançoso nos ajuda a passar pelas desilusões".

No entanto, aqueles hematomas marcados na pele da garota nunca deveriam ser incluídos entre tais palavras.

Ayla poderia estar esperando uma situação apropriada para se posicionar sobre determinado assunto. Porém, onde ela iria ter apoio para enfrentar algo sério? Afinal, tratava-se de uma agressão e, obviamente, pessoas violentas reagem de modo mais agressivo quando são confrontadas. Se nem os parentes lhe davam algum suporte, a quem Ayla iria recorrer num segundo por ajuda?

Ondas de angústia abalaram o coração de Cássio enquanto suposições e fatos duelavam por seus pensamentos, deixando-o tonto e confuso. Ao mesmo tempo, emergia em seu interior uma nova percepção pouco notada, talvez ignorada, por estar sendo interpretada como algo precoce. Porém, como seria de ato breve se estava se desenvolvendo por meses? Ele poderia ser tolo em recusar ou em assumir?

- Você está bem?

Ayla perguntou, parada à poucos passos do ouvinte.

- Ah...- Cássio sorriu, um pouco sem graça. - Coisas para fazer mais tarde, sabe. Eu... penso tudo de uma vez e não sei por onde começar.

Sem desconfiar nas desculpas do rapaz, a jovem disse:

- É sobre a lanchonete?- a garota observou ao redor.- Algo para limpar ou organizar?

Cássio sinalizou negativamente com a mão e chegou perto de Ayla guiando-a para trás do balcão.

- De modo algum, Senhorita Prestativa.

Ambos pararam um diante do outro.

Ele, com uma calça jeans clara toda suja de cinzas depois que ajudou as cozinheiras à acenderem o fogão a lenha. Um pulôver de tom bege, aparentemente caro, mas com notáveis manchas de sujeira e um tênis Converse modelo colegial, bem velho. Os braços longos, com músculos fortes ( embora Cássio nunca tivesse falado sobre academia ), reluziam o suor dos esforços no ambiente de trabalho, agora abafado pelo calor que vinha da cozinha. Numa tarde nublada como aquela, a ventilação não ajudava muito para que o ar ficasse fresco.

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