Capítulo 1 - Catarse

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- Pedido da mesa 3! Um pão na chapa com suco de laranja!

As palavras acima foram ditas por um senhor de meia-idade com a voz elevada sobre todas as conversas que rodeavam o ambiente onde o mesmo estava trabalhando. Em seguida, ele passou a anotação por uma pequena janela retangular que ficava entre o salão e a parede da cozinha, ato que motivou Ayla Albert a soltar uma espátula que usava para fazer ovos mexidos e esticar o braço até pegar na folha.

- Pedido à caminho. - disse a moça, ao mesmo tempo que desligava o café fervendo no fogão.

Ela finalizou a solicitação anterior que um cliente havia feito e passou a refeição pelo mesmo lugar utilizado antes. Bem quando seu patrão, o qual anotava os pedidos, falou:

- Seja mais rápida! A lanchonete está movimentada hoje! Se não consegue dar conta do serviço apenas avise para que eu não tenha prejuízo e coloque outra pessoa no seu lugar!

Ele se retirou, mas a garota continuou observando o homem branco, calvo e barrigudo que andava entre os clientes barulhentos. Estes que chegavam com sacolas de supermercado, crianças pequenas e amigos desarrumando as cadeiras e juntando as mesas ao tempo que elevavam suas vozes cheias de risadas e conversas alegres no local abafado. Habitualmente, nos finais de semana, a Lanchonete e Restaurante do Val virava uma loucura.

Mesmo que tentasse se acostumar à tantas demandas e realizações tratando-se do serviço, adaptar-se aos comentários do chefe nunca era algo fácil para a funcionária.

Isto porque o homem sabia o quanto a jovem de dezessete anos precisava do emprego informal para ajudar a família e mesmo sendo menor de idade, Ayla praticamente implorou para ser aceita, pois o horário do local era conciliável com sua faculdade a noite. E, no momento, a rotina que vivia parecia ser a "melhor" dentro de suas necessidades.

Com isto, revidar certos aborrecimentos poderia ser atos em vão. Uma vez que nada em sua vida tinha resultados favoráveis como, por exemplo, sair do trabalho por causa do chefe ignorante.

O que a moça ganharia com isso?

Talvez, fosse este o cerco, ou melhor, a espiral na qual Ayla sempre vivia. Estar à baixo, estar embaixo, descer para baixo, cada vez mais no fundo e escondida do mundo. Sem poder reclamar, sem poder se expressar, pois ninguém queria saber.

Tentar libertar-se agindo por vontade própria só causava mais interferências nas linhas do seu destino. Assim, aceitar certos acontecimentos, por mais amargos que fossem, seriam como esperar o gosto ruim de um remédio sair da boca.

- Consegue dar conta dos pedidos enquanto vou limpar a calçada?

O filho do dono perguntou, causando um breve susto em Ayla, tirando-a das reflexões deprimentes.

Este era Cássio, três anos mais velho que Ayla e de personalidade bem diferente do pai, pois ao ponto de vista da garota, o rapaz sempre foi um contraste em meio àquele ambiente turbulento.

Ele ficava de segunda à quinta em outra cidade e só vinha para casa na sexta-feira a noite, sempre auxiliando nos serviços do estabelecimento de sua família, os Almeida. Bem como, não via problema nenhum em vestir um avental, preparar refeições, limpar e servir os clientes ao lado dos outros empregados. Foi desta forma que o estudante de direito começou a receber a admiração da funcionária por expressar tanta simplicidade quando poderia viver esbanjando status de solteiro "pegador" nas festas, como a maioria dos garotos naquela cidade.

Em pouco tempo, a jovem percebeu que Cássio atraía sua atenção, além de que era impossível evitar a chegada do nervosismo quando o rapaz parava ao seu lado e conversava esbanjando um sorriso no rosto, muito simpático, perguntando como foi a semana e comentando o que tinha feito enquanto estava fora. Aparentemente, ele lembrava o ator Bill Skarsgård na altura, cabelos amendoados e rosto assimétrico. Não tinha olhos azuis, mas as íris escuras tornava-o mais bonito.

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