୨💌୧ Olhos castanhos

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Eu subo no ônibus para ir à escola, com meus fones de ouvido já no lugar. A música Head Over Heels, do Tears For Fears, começa a tocar, e imediatamente me envolvo com o ritmo contagiante.

Por mais que já tivesse escutado a mesma canção incontáveis vezes, ela nunca perdia sua magia. O jeito que eletrizava meu corpo, fazendo com que surgisse em mim uma incontrolável vontade de dançar a cada batida, era sempre o mesmo.

Sua energia pulsante enchia meus ouvidos e meu corpo, fazendo-me sorrir enquanto olhava pela janela.

Era um dia ensolarado lá fora, e o brilho do sol refletia na minha pele pálida, criando sombras suaves nos meus cabelos castanhos.

As pessoas ao meu redor pareciam desfocadas, como figuras em um quadro, enquanto eu me entregava completamente à melodia eletrizante.

Quando o ônibus virou à rua do bar em que meu pai gostava de comprar coxinhas, eu aproximei um pouco meu rosto da janela, à procura do tal rapaz dos tênis amarelos.

Então, meus olhos finalmente haviam o encontrado, o que fez com que fixassem nele, que aguardava no ponto de ônibus. Desta vez, não estava acompanhado de seu irmão.

Conforme o ônibus se aproximava, uma mistura de curiosidade e ansiedade tomava conta de mim.

Eu me perguntava como seria estar perto dele, entender o que havia por trás daquela aura enigmática.

Quando ele e um moço de pele escura da faculdade subiram, ergui meus olhos sobre os bancos em minha frente.

Rapidamente, me virei e rolei minha visão pelo ônibus, verificando se haviam assentos vazios.

Me entristeci quando encontrei alguns, os quais eram bem longe de mim.

Eu detesto admitir, mas o que mais quero nesse momento é observar o comportamento daquele garoto cujo nome sempre foge de minha memória.

É incrível como nossa visão de mundo pode mudar em questão de dias.

O rapaz moreno vai para os bancos do fundão, e meu alvo se senta no banco atrás de mim. Ele imediatamente abre a janela, que acaba batendo no meu braço, que lá estava apoiado.

— Perdão, moça! — Falou, enquanto eu me virava para tentar respondê-lo.

Naquele momento, me encantei com a vista de belos olhos castanhos.

Conseguia ver apenas a parte de cima de seu rosto.

— Se... — Solto, falhando miseravelmente.

Tentei falar "sem problemas!", mas minha falha foi horrível. Torço a boca em desgosto.

O garoto franze as sobrancelhas, como se tentasse entender o que quis dizer. Envergonhada, me viro para frente, após o fracasso.




A viagem foi lenta. Eu contava as árvores conforme passavam por mim. Por incrível que pareça, já havia me acostumado a andar de ônibus.

Já tinha decorado os rostos de todos os meus colegas de viagem, mas para a minha surpresa, naquele dia em específico, estavam subindo pessoas no veículo que eu ainda não tinha visto nos últimos dias. Pelo menos umas quatro delas.

Quando, de súbito, ouço algo que as crianças do sexto ano estão dizendo. 

— Os peitos da Larissa são morangos! — Fala um garotinho.

As crianças dão risadas. Um garoto loiro aplaude.

— E os meus são limões!

Uma menina do mesmo grupinho se levantou de seu lugar e ficou de pé na frente do banco onde os dois garotos estavam sentados.

𝐁𝐄𝐘𝐎𝐍𝐃 𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐎𝐑𝐋𝐃 - BILL KAULITZOnde histórias criam vida. Descubra agora