𝐁𝐄𝐘𝐎𝐍𝐃 𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐎𝐑𝐋𝐃 - BILL KAULITZ

୨💌୧ O garoto dos tênis amarelos

O ar em meus pulmões não estava mais sob meu controle. Eu chorava silenciosamente, enquanto via minha mãe pegar meu irmão pelos braços, cravando suas unhas de fibra em sua carne. Ele gritava com ela, e Laura rebatia.

Eu não conseguia pensar direito, estava em crise. O coração disparado, as mãos tremendo freneticamente enquanto tentavam ao máximo tapar as orelhas, para não escutar aquele barulho horrendo de gritos.

Eu achei que, a qualquer momento, iria infartar. Meu pai não estava à vista.

A cada momento, eu queria acordar de nada mais, nada menos, do que um simples pesadelo.

Quarta-feira, 09 de agosto de 2023

Estou me arrumando para meu primeiro dia de aula em uma escola nova. Onde as meninas usam saias azul marinho, e os meninos, calças da mesma cor. Onde há cultos todas as segundas-feiras, e a educação física dos garotos é separada das garotas.

Por um instante, agradeço aos céus por ter experimentado o uniforme várias vezes antes de chegar o primeiro dia, já que, de um jeito ou de outro, demoraria um tanto para meu corpo se acostumar com a textura da roupa.

Encaro meus olhos pouco inchados no espelho, pela noite passada. Não quero ir a cozinha e pegar uma colher no congelador, como minha mãe faz.

Continuo a maquiagem mais leve que posso fazer, até porque, meu pai diz que a primeira impressão é a que fica.

É uma pena que minha mãe esteja desmaiada, em sono profundo devido ao remédio que tomou ontem à noite.

Caso contrário, poderia levar eu e Noah ao ponto de ônibus. Até porque meu pai, Daniel, já foi trabalhar.

Subimos no ônibus e meu irmão imediatamente vai ao encontro de seus amigos, no fundão, me deixando sozinha.

Avisto um lugar vazio à minha esquerda. Tem uma boa vista da pista pela janela. De imediato, sento-me no lugar e deixo minha mochila cor-de-rosa ao meu lado.

Tiro meu chaveiro de gatinho negro de um dos bolsos. Começo a fazer carinho em sua pelúcia, fechando meus olhos e apenas dando atenção ao meu tato.

Coloco o chaveiro de volta na mochila e pego meu celular com o fone em um dos bolsos.

Ligo Head Over Heels, do Tears For Fears, para tocar no Spotify.

A música era minha favorita e iria me distrair, não deixar minha mente ser ocupada por pensamentos disfuncionais logo no meu primeiro dia, em minha escola dos sonhos.

E era exatamente isso que eu queria.

Já era cerca de seis e quarenta e cinco quando o ônibus parou em um ponto específico. Uma casa toda branca.

Olhei com atenção pela janela e vi dois garotos subindo.

Ergo os olhos por cima dos bancos à minha frente e vejo um garoto de dreads ir em direção aos bancos do fundo.

Volto o olhar para a janela, ao mesmo tempo em que o ônibus volta a andar.

Quando meus olhos, em um movimento involuntário, se encontram com um par de tênis amarelos com estrelas desenhadas com caneta preta.

Eu ergo os cílios e vejo a silhueta de um garoto de cabelos negros, passando rapidamente por mim.

Não há ninguém para me acordar caso eu durma no ônibus, então luto contra o sono de uma noite mal dormida.

Pego meu celular e começo a editar uma das fotos que eu havia tirado com a antiga câmera, que ganhei de meu avô quando ainda era uma criança.

Tenho que me reprimir a editar minhas fotos no celular, já que minha mãe não me deixa instalar nenhum programa de edição em seu computador, o único que temos em casa.