O aprendiz

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Faz dois dias que me misturei aos humanos e tenho gostado bastante disso, as crianças me tratam bem e sempre brincamos juntos, mas hoje algo diferente aconteceu, eu e as crianças estávamos brincando e correndo pela vila, ate que enquanto corria sem prestar atenção no caminho eu acabei batendo na perna de alguém e caindo no chão.

- Desculpa, eu não prestei atenção no......

Eu olho para cima e vejo um enorme homem, um pouco maior do que as pessoas da época, seus cabelos já eram bem brancos, provavelmente por conta da idade e ele não tinha um dos braços, ele puxava sozinho um carrinho lotado de minérios de ferro, rapidamente reconheci como sendo o ferreiro da vila, nunca tive muito contato com ele mas todos diziam ser um homem quieto e reservado. 

- Cuidado por onde anda.

Ele disse em um tom calmo e continuou seu caminho. 

Ai, você está bem? 

Uma das crianças me perguntou com um tom curioso enquanto me ajuda a levantar do chão, provavelmente pela fama do ferreiro de dar broncas nas crianças desobedientes.

- Estou sim, vamos continuar a brincar?

Eu digo em um tom animado, nos passamos o resto do dia brincando e chega a hora em que as  crianças vão pra casa, eu caminho calmamente para a floresta com uma certa pulga atras da orelha, por conta disso dou meia volta e corro para onde eu sei que fica a ferraria.

- Eu espero que ninguém me veja fazendo isso, não quero ter a fama de ser um esquisito que espiona pessoas.

Eu digo enquanto fico na ponta das patas, tentando observar dentro da ferraria, eu consigo ver o ferreiro trabalhando, as chamas da forja iluminando o local, mesmo do lado de fora era possível se sentir o calor que estava dentro daquela sala, os sons abafados  das marteladas sobre o metal era estranhamente tentador, e por muitos dias eu continuei voltando todas as noites para ver ele trabalhar, maravilhado com tal profissão, porem, um dia eu acabei escorregando enquanto me apoiava na janela e cai no chão, fazendo com que varias chapas de metal caíssem no chão e chamassem a atenção do ferreiro, que rapidamente sai da ferraria.

- Quem está ai?!

- Revele-se imediatamente!

Ele grita enquanto abre a porta, ele tinha um enorme machado nas mãos. Eu tento me levantar sem fazer barulho e correr para longe, mas ele acaba me escutando.

- Parado ai!

Ele diz enquanto larga a espada e me pega pelo braço, facilmente me erguendo do chão

- Você é o monstro que gosta de brincar com as crianças... o que faz aqui pequeno?

O tom de voz dele rapidamente se torna mais calmo quando percebe quem eu sou, me colocando no chão gentilmente.

- Desculpa o incomodo senhor, eu gosto de assistir o senhor trabalhando , não era minha intenção atrapalhar seu trabalho.

Eu digo com a voz baixa, me sentindo culpado por ter atrapalhado o trabalho dele, mas surpreendentemente ele ri em um tom alto enquanto sorri.

- Garoto, é a primeira vez que uma criança se interessa pelo meu trabalho, acho que foram os deuses que te enviaram, venha comigo.

- Pra onde senhor?

- Pra dentro horas, vou permitir que assista meu trabalho de perto

Eu entro na ferraria com ele, o ambiente é bem quente por conta da forja, é possivel ver diversas armas nas paredes, eu vejo algumas partes de ferramentas inacabadas em cima da mesa principal, ele puxa um banco e eu me sento.

- Agora fique quietinho ai e pode me ver trabalhando sempre que quiser ok? 

- Sim senhor

E por vários dias eu continuei voltando para ver ele trabalhar e finalmente descobri o nome dele Malleos achei um nome bem bonito por sinal, com o tempo ele me ensinou algumas coisas aqui e ali, ate finalmente me tornar seu aprendiz oficial, ele ate mesmo comprou uma roupinha igual a dele pra mim, no final das contas aprendi bastante com ele, ao ponto de conseguir fazer um braço falso pra ele, não era muito bom, mas ele adorou.

Alguns meses se passaram e nos ganhamos mais proximidade, eu comecei a morar com ele na ferraria e chamar ele de vovô, ele me tratava como o neto que ele nunca teve, mesmo que eu fosse um "monstro".

As coisas pareciam estar dando certo pra mim, acho que eu poderia simplesmente ficar aqui, ne?

Os contos de StanOnde histórias criam vida. Descubra agora