I. Outra vez você. (Parte II)

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Província de Gyeonggi, Incheon. 14 de agosto, 2019.

⁖ Im Nayeon

Eu tenho trabalhado tanto.
Nos últimos meses a maior empresa de cosméticos da Coréia do Sul, que por acaso pertence a mim, fez mais de 10 milhões de vendas. Isso exigiu de mim muito tempo, muitos cochilos não dados. Muitos flashs, muitas entrevistas. E zero lazer.

Posso sentir os músculos dos meus ombros latejarem assim que entro no carro. Nem as músicas de que mais gosto são capazes de anular meu cansaço. Só tenho pensado em dormir desde o começos da campanha e do lançamento da linha.

— Nayeon. — Kyungsoo abriu a porta do nosso carro. Bom, meu único pensamento era tirar o salto e me enrolar em uma coberta quentinha. Fazia frio em Incheon. — Precisamos conversar, amor.

Conversar? Agora? Só pode ser brincadeira. Acho que ele não vê meus olhos quase fechando sozinhos.

— Claro, querido. Conversar... — eu já dormia; e só ele não percebeu.

— Então... vou direto ao ponto. — "Por favor, né?" refleti enquanto ele dirigia. — Há muitos anos o nosso noivado... a nossa relação... não tem sido a mesma. Eu não sei... só... — ele se contorcia com as palavras como se elas fossem grandes tapetes. O que custa só ignorar e voltar a fingir? Nossa união sempre foi marketing.

— Kyungsoo, por favor, meu amor. São onze da noite. Será que podemos chegar em casa primeiro?

De repente, uma tela branca foi crescendo e se tornando única. O barulho da buzina do caminhão e dos nosso vidros estilhaçados se difundiam. Kyung parecia espantado, e o meu sono de repente sumiu. Seus olhos foram ficando mais vermelhos e acobertados de sangue.

Até que eu também não pude mais enxergar.

Província de Gyeonggi, Incheon. 16 de agosto, 2019.

AM 06:29

Logo de manhã, umas mulheres de macacão azul me falaram o que eu devia ou não fazer. Não gostei daquele tom autoritário. Como se fossem minha mãe.

Apareci no noticiário. Eu e um homem careca. Pareço ser famosa, e ele um namorado. Minha cabeça doía demais. Comentei pras mulheres que não consigo me lembrar de ser famosa e nem de namorar um careca. Lembro apenas de estar voltando do colégio, e de comer salsicha empanada com as meninas à tarde.

Meu corpo inteiro dói, e eu me sinto cada vez mais presa. Acima de tudo; essas roupas são feias.

Me restou olhar fixamente pra janela, assistir os carros passando pra lá e pra cá. Tentar conectar as peças, e compreender quando foi que me tornei "Im Nayeon, a dona da 'Entrance', e seu noivo, Do Kyungsoo, que sofreram um acidente na madrugada da noite de ações de graça...". O lanche era horroroso, tudo aquilo que eu nem pensava em comer. Poderiam ter me oferecido um misto quente, um achocolatado ou uma melancia... hospitais são infernos pintados de branco.

— Paciente número 1804? — Uma voz conhecida ressoou meus ouvidos. Eu conhecia aquela voz. Conhecia muito bem. A pirralha não tinha mudado nadinha. Mas o cabelo estava maior, os olhos mais amendoados e sérios, e também tinha ficado um bucado maior.

Diante de Você - 2YEONOnde histórias criam vida. Descubra agora