II. Coração de tambor.

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Província de Gyeonggi, Incheon. 16 de agosto, 2019.

9:07 PM

⁖ Im Nayeon

Caminhei a passos lentos até o quarto do tal amado meu. Minha nuca começa a doer toda vez que tento me lembrar do seu nome. Do que éramos, ou se éramos alguma coisa. Minhas memórias giravam em torno de "coisas do passado", que pra mim, eram mais recentes que esse amor que as pessoas - da televisão e da vida real - dizem que eu tenho por você.

Olhando pra sua maca, pras tuas palpebras fechadas... os enfermeiros ao redor esquentavam minhas costas com os olhares deles; talvez esperando alguma reação minha. Choro, desespero... nada. Infelizmente, nada. Não como eles gostariam de ter visto, não como seria bom para a mídia. Eu não o conhecia, muito menos o reconhecia. O vácuo exorbitante nos meus pensamentos deixavam explícita a minha quase indiferença.

— Acho que os senhores deveriam voltar a trabalhar e deixar a menina e o noivo em paz, não é? —  e mais uma vez, naquela noite, sua voz parou o espaço e atravessou meus ouvidos ecoando como um ato de segurança. Afinal, daquela nova realidade, eu só conhecia e reconhecia você. Só poderia confiar em você. Minhas pupilas vibravam, ainda que eu estivesse de costas pra você. Aquilo foi um comando para os demais serviçais do hospital. — Não há nada para ver aqui. — afirmou novamente.

Inteligentemente, todos obedeceram. Presente ali agora, só a sua; a minha, e a respiração de um "semi-morto" — e nenhum dos três se olhavam. 

— Perdão pela invasão dos meus colegas. — De modo doce em seu timbre, apresentou suas desculpas olhando pras janelas.

— Não tem problema. Eu mal me lembro dele. — ainda de costas, meu peito estremecia, minhas orelhas esquentavam.

—  Nenhum pouquinho? —  perguntou. Neguei com a cabeça. — Mas então, se não for uma pergunta intrusiva... a partir do que você se lembra? — Ela evitava ficar de frente para o meu corpo. Eu podia perceber de relance.

Sentou-se sobre a mesinha de refeição, sem tirar sua face da direção em que já se encontrava. Era como se conversássemos por telefone. Distantes. Seja lá o porquê dessa atitude, eu rezava internamente pra que isso acabasse. Quero que me olhe novamente; assim como olhou hoje mais cedo.

— Lembro de estar voltando do colégio com as meninas, comendo um empanado de salsicha e fofocando sobre as outras turmas... — e falando de você pra elas. Mas isso eu nunca a diria. Nem se isso fosse salvar a população mundial eu assumiria. Sequer combina.

— Quer dizer que você se lembra só até o nosso ensino médio? — Minha cabeça tornou a latejar incessantemente, de maneira forte. Por debaixo do enfaixe eu podia sentir a pele dolorida. Levei as mãos de imediato sobre a superfície. No mesmo instante, ela se prontificou de parar de perguntas, se aproximou colocando suas mãos sobre a gaze branca também, me direcionando até a poltrona mais próxima. De modo inevitável, eu rugia de dor, e enquanto isso seus olhos esbugalhavam, contudo, ao mesmo tempo pareciam estar cheios de preocupação e atenção. Diferente de segundos atrás.

Suas palmas - outra vez - estavam quentes, refletindo a solenidade em prontamente me ajudar. Ainda que sua feição quase nunca pareça me gostar — se eu preciso do seu amparo, você não demonstra exitação. Era como se sob o meu olhar, nascesse uma flor entre as rochas; paralela à sua atitude que nunca se pareceu com o que você queria demonstrar.

De repente, você tomou conta de si. E eu de mim.

Reparando em seu cheiro, seu toque, sua respiração, sua voz... sério, Im Nayeon? O que você pensa que está fazendo! Ela saiu de tão perto de mim, brusca. Coçou a cabeça, e ia saindo da sala sem lembrar do meu estado deplorável, do qual ainda me fazia morrer de dor.

Diante de Você - 2YEONOnde histórias criam vida. Descubra agora